A LOURA ESPETACULAR

5 1 0
                                    


Na manhã seguinte, às sete horas, Trianon se encontrava na sala de Female, aguardando a chegada de George Staford, o operador. Quando este chegou, era visível que sua noite não fora das melhores, já que profundas olheiras mascaravam seu rosto e seus olhos ainda estavam ligeiramente injetados. Ao ver Trianon, esboçou um sorriso sem graça, como que justificando seu estado lastimável.

— Tenho mais algumas perguntas a fazer — disse Trianon, friamente.

— Sim, claro. Dê-me tempo de checar o computador. São só alguns minutos — pediu George, cumprindo a rotina e depois indo apanhar um café. — O que deseja saber? — indagou, quando retornou.

— Female pode ser acionado à distância?

— À distância? — surpreendeu-se George, não entendendo a pergunta.

— Uma conexão, ou sei lá como possa ser chamado isso, pode ser tentada à distância e fazer Female operar?

— Não, é impossível! — afirmou George e uma expressão decepcionada estampou-se no rosto magro do agente, que se moveu inquieto de um lado para outro. — Não que seja incapaz disso; o fato é que não foi programado...

Trianon imobilizou-se e encarou-o. George suava e estava pálido.

— Sente-se bem? — indagou ao operador.

— Sim, estou bem. É apenas ressaca. Tomei uma aspirina... Acho que me deram dinamite pura para beber. Apaguei-me no colo da loura mais espetacular do Saint James Club — riu George, tentando dar ares de importância ao que dizia.

— Se era assim tão espetacular e do Saint James, gostaria de saber o nome dela — falou Trianon, com um riso malicioso nos lábios.

— Nelly O'Hara — apressou-se em responder o outro. — Diga que é amigo do George e do Peter...

— Peter?

— Peter Johnson, ela deve conhecê-lo. A festa de ontem foi no apartamento dele. Que festa! Se minha esposa soubesse...

— Mas voltemos a Female. Você disse que, caso fosse programado, poderia ser acionado à distância...

— Entenda bem o que quis dizer com distância: não me refiro a uma operação a partir de Londres ou Paris, estaria fora do esquema, pois seria detectado pelo serviço de Transmissões e Escuta e imediatamente bloqueado. A operação poderia, teoricamente, ser realizada através de outro computador, esse livre de vigilância. Teria de estar igualmente programado e aqui por perto...

— Teoricamente, então, o computador auxiliar, digamos, poderia ser acionado a partir de Paris?

— Se programado, é claro. Eu entendo perfeitamente o que quer dizer. Uma cadeia operacional que começaria em Paris acionaria o computador auxiliar, como você mesmo definiu, e este, por sua vez, acionaria Female. Posso perguntar por que alguém faria isso? — indagou George, intrigado.

— É o que gostaria que você respondesse. Se alguém, em Paris, seguindo o exemplo, acionasse seu computador, ligando o computador auxiliar a Female e acionando este, o que poderia obter?

— Inicialmente teria de saber operar Female e vencer seu esquema de segurança...

— Suponhamos que a pessoa interessada tenha feito isso.

— Ela poderia fazer qualquer coisa como acionar Female, efetuar uma transferência de dinheiro do National Bank para o Richemond, numa conta numerada de máximo sigilo. Creio que seria esse o objetivo de alguém capaz de executar essa cadeia operacional.

NO TEMPO DA GUERRA FRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora