Após o almoço, Trianon foi até o escritório de Cyrus Sarasse, encarregado do setor de arquivo e pesquisa, duas tarefas ligadas, já que a ele competia o arquivo das mensagens e a ordem inicial de investigação de qualquer item confidencial. Trabalhava diretamente ligado ao chefe da OIR. Sally, a secretária, o atendeu. Cyrus havia saído.
— Quero ver o arquivo dos relatórios do STE — pediu ele.
— Algum em particular?
— Tudo o que se referir à Seção Europeia nos últimos quinze dias.
— É toda sua — disse ela, apontando a máquina leitora de microfilmes, onde Trianon foi se sentar, quanto ela ia até o arquivo e trazia algumas pequenas caixas quadradas, contendo rolos de microfilmes.
O primeiro deles foi acoplado à máquina. Trianon começou a verificar relatório por relatório. Foi apressando a passagem do filme. Terminou o primeiro rolo. Acoplou o outro imediatamente e continuou. Deteve-se por instantes no quadro onde era mencionada a mensagem regulamentar das férias de Oliver Clark. Continuou verificando. Não parecia procurar algo em especial. A paciência em seu rosto era reflexo de uma frieza interior. A testa vincada revelava, porém, uma ligeira preocupação, facilmente interpretada como enfado naquele seu rosto estranho e inexpressivo.
— Se me disser exatamente o que procura, talvez eu possa ajudá-lo — disse Sally, que o estivera observando.
— Aconteceu algo de anormal por aqui ultimamente?
— Nada além de perturbação solar.
— Quando foi isso?
— Há alguns dias atrás. Tudo o que foi transmitido naquele período está no terceiro rolo... Esse com a etiqueta amarela — apontou ela.
Trianon apressou a passagem do filme que estava na máquina, acoplando aquele indicado por Sally. Examinou atentamente cada relatório. Um deles chamou-lhe a atenção, afinal. Algo parecido com alegria estampou-se em seu rosto. Acionou a copiadora, reproduzindo aquele relatório.
— Encontrou o que procurava? — indagou Sally, solícita.
— Sim — respondeu ele, levantando os olhos para observar a entrada de Cyrus Sarasse na sala.
Sally fez as apresentações. Trianon estendeu a cópia do relatório para Cyrus.
— O que foi feito a respeito disso? — indagou.
Cyrus apanhou o relatório, piscando os olhos miúdos. O cigarro ficou queimando entre seus dedos amarelados. Quando terminou a leitura, ergueu os olhos para Trianon e disse, pateticamente:
— Não me lembro de ter lido isto...
* * *
No Serviço de Transmissões e Escuta, Trianon procurou por Angus Hyde, sendo informado que o operador fazia o turno da manhã apenas. Indagou por Arthur MacBeth, citado no relatório, mas este apenas estaria de volta no primeiro turno da noite. Trianon pediu e obteve, então, o endereço particular de Angus, indo encontrá-lo fiscalizando o jardim de sua casa, num bairro tipicamente residencial. Apresentou-se e indagou-lhe de imediato a respeito da mensagem e do relatório. O embaraço e o medo estamparam-se no rosto de Angus, numa curiosa máscara.
— Você é do Serviço Especial, não é? — indagou, preocupado, embora tivesse visto a identificação de Trianon.
O agente confirmou com um aceno de cabeça.
— Procuro Oliver Clark. Meu objetivo é encontrá-lo. O que quer dizer isto? — perguntou, estendendo-lhe a cópia do relatório.
Angus o convidou para entrar. Sua esposa e as crianças haviam saído para compras. Ofereceu uma bebida a Trianon, que recusou com um gesto. O nervosismo era crescente no operador.
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NO TEMPO DA GUERRA FRIA
ActionPara desvendar o grande golpe de um agente especial inteligente, somente a astúcia de um caçador solitário.