PROVOCAÇÕES

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A manhã estava cinzenta, quando Oliver Clark deixou a casa escoltado por Kurt e Bakou, entrando num Mercedes azul-escuro. Kurt assumiu o volante. Bakou se sentou com Oliver no banco traseiro. O agente russo se manteve calado. Seu semblante impessoal não deixava transparecer nenhuma emoção. Oliver lhe fez algumas perguntas e ele respondeu com monossílabos. Oliver desistiu de falar com ele e se voltou para ficar observando as ruas por onde avançavam. O carro passou nas proximidades do aeroporto Schonefeld, no exato momento em que um jato da Interflug levantava voo. Oliver acompanhou a elevação do avião, depois voltou a se concentrar nas calçadas. Atravessaram a Karl Marx Alee. Oliver parecia um tanto confuso, mas, quando se aproximavam da Alexander Platz e pôde ver a enorme torre de televisão, demonstrou certa confiança.

Pararam por algum tempo na praça. Kurt desceu rapidamente e, pouco mais tarde, retornava na companhia de outro homem, que se sentou a seu lado, no banco dianteiro. Seguiram, então, afastando-se do centro da cidade e tomando o rumo este. Flocos de neve começaram a dançar suavemente no céu, antes de pousar e acumular-se no para-brisa. Kurt ligou o limpador, pouco antes de penetraram numa rua estreita, com prédios altos e aparentemente vazios, até que Kurt estacionasse o veículo diante de duas enormes portas de aço, que se abriram imediatamente, fechando-se após a passagem do carro.

Ali dentro reinava uma agitação incomum. Enormes caixas haviam sido descarregadas de diversos furgões, alinhados nas paredes laterais. O amplo depósito estava iluminado por potentes holofotes. Homens suspensos das traves do telhado instalavam outros, na parte dos fundos. Alguns aparelhos de aquecimento de ar haviam sido montados nos quatro cantos da construção. Uma espécie de sala de vidro estava sendo erguida no centro. Caixas eram abertas com meticuloso cuidado. Homens vestindo uniformes brancos levavam os materiais das caixas para a sala de vidro.

— O que está acontecendo aqui? — indagou Oliver, surpreso com a movimentação toda.

— Esse é o material que solicitou. Creio que encontrará todo o necessário para montar uma réplica de Female. Aqueles de branco são técnicos especialistas em computador e vão ajudá-lo em tudo que precisar.

Nesse momento, um dos homens de uniformes deixou os outros e foi ao encontro do grupo.

— Este é Hanz Kauff, técnico em programação. Vai assessorá-lo, Oliver — disse Bakou.

O americano pareceu não apreciar a ideia, pois ignorou a mão que o recém-chegado lhe estendera e caminhou na direção da sala de vidro. O técnico alemão o seguiu em silêncio. Bakou se voltou para Marbur.

— O que acha? — indagou-lhe Marbur.

Bakou jogou a cabeça de um lado para outro, omitindo-se. Kurt ia dizer qualquer coisa, mas interrompeu-se, pois Oliver caminhava ao encontro deles, após haver inspecionado rapidamente os materiais que já haviam sido levados para a sala de vidro.

— Por que o transmissor? Ninguém disse que eu teria de montar o transmissor também — falou, alterado. — O que pretendem, afinal? Não vão exigir que eu sintonize esse arremedo de computador ao satélite e... — interrompeu-se, apreensivo, fitando um e outro alternadamente.

— E o quê, Oliver? — indagou Bakou , aproximando-se até que seus corpos quase se tocassem, cravando seu olhar nos olhos assustadiços do americano que, dessa vez, fugiu ao confronto.

Bakou sorriu levemente.

— Não pode ser feito — murmurou Oliver, num sopro de voz assustada.

— Temos os materiais e os técnicos para isso. Basta você ordenar e tudo acontecerá como num passe de mágica, como num conto de fadas — falou o russo, com ironia.

NO TEMPO DA GUERRA FRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora