O ACORDO

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A Primeira Divisão da KGB, através da WEIMAR e da UDL, empenhara toda a tecnologia soviética num projeto arrojado a ser cumprido em tempo recorde. Para tanto, mobilizara um pessoal altamente especializado e capacitado, pondo-o sob a aparente coordenação de Oliver Clark. Na realidade, cada um dos uniformizados sabia exatamente o que deveria fazer o tempo todo. A estrutura do computador viera pré-montada. Os componentes adicionais, conforme solicitado por Oliver, foram sendo acrescentados, procurando dar a esse computador a mesma autonomia e poder de ação de Female. As antenas que o ligariam aos satélites haviam sido instaladas no alto dos trezentos e sessenta e cinco metros da torre de televisão, na Alexander Platz, onde técnicos no setor ultimavam os preparativos para torná-las operacionais.

A noite chegara fria e triste, com um céu de nuvens baixas refletindo as luzes da cidade e a neve tecendo uma cortina semitransparente que escondia as fachadas mutiladas dos prédios ao longo do muro. No interior do armazém, o jantar começara a ser servido. Hanz Kauff, o programador, foi ter com Oliver, que, visivelmente, o hostilizava.

— Poderemos iniciar a programação após o jantar — disse o alemão.

— Eu sei disso — respondeu Oliver, rispidamente, tomando suas pílulas estimulantes. — Quando chegar o momento, eu farei minha parte.

— Devo estar a seu lado. Preciso acompanhar todo o trabalho de...

— Não! — interrompeu-o Oliver, bruscamente.

O alemão empalideceu e olhou na direção de Arabell, que abaixou a cabeça e se concentrou no peixe que nadava no molho. Hanz voltou a encarar Oliver.

— Acho que não entendeu o que... — ia dizendo Hanz, mas Oliver o fez calar com um gesto.

— Foi você quem não entendeu, amigo. Eu cuido da programação. Apenas eu! — frisou bem.

— É o que veremos — respondeu Hanz, girando nos calcanhares e caminhando até onde estavam Bakou e Kurt.

Trocaram algumas palavras, sempre olhando na direção de Oliver e Arabell. Em seguida, Kurt deixou sua bandeja no local e saiu rapidamente por uma das portas de aço. Bakou e Hanz caminharam na direção de Oliver, que deixou de lado a bandeja, preparando-se para recebê-los hostilmente. Arabell estendeu uma das mãos e segurou-lhe o punho crispado. Ele se voltou e esboçou um sorriso que jamais a tranquilizaria.

— Após o jantar você inicia a programação — ordenou o russo, num tom monocórdio, sem trair emoção alguma.

— Eu sei o que devo fazer — respondeu Oliver, no mesmo tom.

— Hanz o acompanhará.

— Eu o farei sozinho. Ou então não o farei — afirmou o americano, com decisão.

Bakou estremeceu, perdendo a frieza que era uma de suas principais virtudes como agente especial. Entre ele e Oliver se desenvolvera uma forte barreira de rancor. A inimizade era percebida à distância. Seguramente o russo o eliminaria ali mesmo, naquele momento, se Oliver não tivesse importância.

O russo respirou fundo, depois desabotoou o sobretudo e sacou calmamente sua Makarov, avançando um passo na direção de Arabell. A garota imobilizou-se, trêmula. O cano da arma encostou-se em sua têmpora esquerda. O estalido seco da trava sendo libertada provocou um frêmito no corpo de Oliver.

— Acho que compreendeu bem o que eu quis dizer, não? — zombou o russo.

— Está bem! — Oliver respondeu num fio de voz.

O agente soviético travou a arma e guardou-a no coldre sob a axila esquerda. Encarou Oliver com arrogância e superioridade, depois se afastou na companhia de Hanz. Arabell se ergueu e foi procurar apoio no corpo de Oliver, que a abraçou com carinho protetor.

NO TEMPO DA GUERRA FRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora