DESFECHO DE UMA TRAIÇÃO

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No mesmo dia, ao amanhecer, no elevador do Victoria Intercontinental Hotel, na Kroslowsko Str. 11, em Varsóvia, Bakou e Geórgia subiam para o apartamento que ocupavam no quinto andar, com vista para a rua, após retornarem de um inocente passeio. Na cabine, apenas os dois, o ascensorista e um homem magro e baixo, ligeiramente calvo, com aparência doentia. Quando o elevador parou no quinto andar, o casal russo deixou-o, seguindo pelo desconhecido. Caminharam ao longo do corredor acarpetado que abafava seus passos. Bakou parou diante de uma porta, tilintando a chave. Introduziu-a na fechadura e abriu-a. Geórgia passou. Ele a seguiu. Quando ia fechar a porta atrás de si, o homenzinho que vinha pelo corredor chutou-a, derrubando Bakou para trás. Antes que Geórgia pudesse gritar, uma arma automática Colt 45, com um longo silenciador, surgiu na mão do desconhecido. Bakou olhou-o com surpresa e ódio.

— Quem é você? O que quer? — indagou o russo, fazendo menção de introduzir uma das mãos pela gola do sobretudo.

O estalido da Colt sendo destravada o fez imobilizar-se. O silenciador era um cano de escape em miniatura, exibindo a boca ameaçadora por onde passaria um projétil de 45.

— Você é Bakou, não? — indagou o homem calvo.

— Meu nome é Wladimir Snoskaya...

— Onde está Oliver Clark?

Bakou empalideceu. Geórgia estava trêmula. O americano continuava imóvel, frio e impassível como uma estátua.

— Nós o deixamos na Suíça. Internou-se numa clínica de repouso em Zurique. Ele precisava disso, após ter traído seu país — falou o russo, com zombaria, mas calou-se ao ver que nenhuma emoção provocara no desconhecido.

— Qual a identidade dele agora? Seu nome, quero apenas o nome — ordenou Trianon.

— August Zopper — disse Bakou, começando a se levantar lentamente, fixando-se nos olhos do homem diante de si.

Levantou um dos braços como se fosse pedir alguma coisa, embora seu olhar revelasse a clara intenção de suplicar. A bala partiu abafada do cano da Colt 45 e o atingiu na testa. Sua cabeça foi jogada violentamente para trás. Sangue e miolos grudaram-se à parede atrás dele, enquanto seu corpo desabava como um pesado tronco sem vida. Geórgia esboçou um movimento. Seus miolos espalharam-se pelo tapete rosa felpudo. Chumaços de seus cabelos, gotejando sangue, caíram sobre a cama de casal, manchando a colcha de arminho. Trianon guardou a arma e saiu pela porta, com os lábios crispados e retorcidos numa careta de ódio e nojo.

* * *

Oliver Clark estava num pequeno chalé, nas proximidades do lago Leman, repousando numa confortável poltrona de couro no alpendre, apesar do vento frio que soprava, encrespando as águas do lago. No interior do chalé, uma bela loura preparava um delicioso fondue Bourgovignore, que espalhava seu aroma pelos aposentos. A aparência do americano era das melhores. Suas faces estavam coradas e seu físico mostrava-se em forma. Estivera numa clinica de repouso por cinco dias, submetido à sonoterapia e desintoxicação. Um carro esporte importando estava estacionado no abrigo ao lado. Um barco novíssimo estava junto ao ancoradouro, aguardando o degelo. Algumas caixas de uísque escocês, junto a uma centena de garrafas de vinhos franceses das melhores marcas abasteciam sua adega. Queijos finíssimos estavam armazenados na despensa. Caviar o aguardava no gelo. Pacotes de roupas recém-chegados dos melhores alfaiates de Genebra esperavam o momento de serem desfeitos, para que ternos de talhe impecável fossem ornamentar o amplo armário espelhado no quarto principal do andar superior do chalé,

— Quer mais uísque, Oliver querido? — indagou a loura num inglês sofrível, mas esforçado.

— Sim, Leone — respondeu ele, levantando a gola de pele de seu sobretudo.

Leone apanhou a garrafa e saiu para o alpendre. Um carro acabara de chegar. Um homem baixo e ligeiramente calvo desceu, sorrindo amistosamente. Acenou para Oliver, depois começou a subir a escadaria que o levaria ao alpendre do chalé. Oliver se ergueu surpreso e intrigado.

— Você é August Zopper? — indagou o recém-chegado.

— Sim. Quem é você?

— Sou do Richemond Bank. Preciso de uma assinatura sua nuns papéis — disse o outro.

— Está bem, chegue até aqui.

O desconhecido chegou até Oliver e lhe entregou um envelope. Leone ficou atrás, sorrindo com a garrafa de uísque nas mãos. Oliver abriu o envelope e retirou os papéis. Leu-os, depois empalideceu e fitou pateticamente o homem a sua frente. A surpresa fora terrível. Fez menção de protestar e uma Colt 45 foi apontada para seu rosto.

— Assine! — ordenou o baixinho.

Oliver ficou tenso e abismado por momentos, fitando os olhos frios do homem diante dele.

— Preciso de uma caneta — disse num fio de voz.

— Aqui a tem — falou o outro, passando-a para Oliver, que a apanhou e assinou os documentos, devolvendo-os.

— E agora? — indagou, estupidamente.

O desconhecido dobrou os papéis, meteu-os no envelope e guardou-o no bolso interior do sobretudo com gola de pele de lontra.Depois fez uma expressão indefinida e apertou o gatilho. A cabeça de Oliver dobrou-se violentamente para trás. Seus miolos ensanguentados espalharam-se sobre Leone e a parede. A garota gritou, horrorizada, soltando a garrafa. Foi seu último gesto.     

NO TEMPO DA GUERRA FRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora