Agape

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Estar em casa é reconfortante.

Cheguei e cumprimentei meu avô com um beijo na testa. Se Yuuri era meus braços e pernas, meu avô era minha coluna. Nikolai Plisetsky me sustentava de forma inabalável, embora nunca tenha conhecido meus pais, por ser adotado, nunca me senti sozinho, pois desde os meus 3 anos moro com meu avô/pai/mãe. Ele era o único motivo pelo qual havia sentido em voltar para casa todos os dias.

Nikolai era um homem como eu era, apesar de ser muito gentil e amável, era decidido e imponente, afinal, ele mesmo me ensinou a andar sempre de cabeça erguida e não aturar desaforo de ninguém. Quando ele percebeu minha orientação sexual, ainda criança, recorreu a todos os psicólogos. Não para me curar, ele sabia que eu não precisava disso, mas para aprender sobre como lidar comigo e com as pessoas ao meu redor. O mundo era cheio de maldade e ele me protegeu como pôde, assim como me ensinou a me proteger. Quando cheguei à adolescência, passei a refletir sobre tudo o que ele havia feito por mim e como seu amor era único e meu amor por ele só aumentava a cada dia que passávamos juntos. Existem diferentes expressões gregas para o que é o amor. Agape é o amor incondicional, geralmente interpretado como o tipo de amor de Deus dispensa à humanidade. Prefiro pensar como o amor que vai além de simples laços e que se abnega totalmente em favor do outro. É assim meu amor pelo meu avô e o dele por mim.

- Vovô! O que temos para jantar hoje? Não me diga que vai ser Piroshki de novo?

- Ora, ora! Que menino abusado! Nem mesmo faz sua comida e quer reclamar do que eu faço para a janta...

- Eu sei que você me ama!

- Fiz torta de queijo para você. Eu sei que você está muito ocupado ultimamente com todos os trabalhos da faculdade, então quero garantir que meu menino tenha carboidratos em seu corpo e um sorriso no rosto.

Meu coração sempre aquece quando vejo as pequenas grandes coisas que meu avô faz pensando em mim. O abracei com força e senti minhas emoções do dia aflorando. Acho que tremi um pouco, pois meu avô me questionou:

- O que houve, Yuratchka? Você o viu novamente?

- Eu sei que isso é um ciclo vicioso, vovô. Eu o vejo, mesmo que de relance e começo a me sentir como se eu fosse a escória da humanidade.

- E o que você faz depois disso, meu filho? O que te ensinei?

- Eu levanto a cabeça e sigo em frente.

- Yura, se você continuar fingindo para você mesmo que está bem, eu nunca serei capaz de te ajudar realmente. Mentir para si mesmo é sempre a pior mentira. Eu sinto falta do meu Yuri. Forte, incisivo, que nunca deixaria uma humilhação passar sem a devida justiça. O meu neto, o menino que eu criei, falaria a verdade para mim.

Não tive mais como conter meus sentimentos e desabei ao lado do meu avô no sofá. Senti meus soluços chegando, mas não havia lágrimas nos meus olhos. Se eu tivesse proferido um milhão de palavras, elas não seriam suficientes para contar ao meu avô como eu me sentia. Eu não precisava fingir nada. Não precisava fingir que ainda tinha sobrado um pingo de confiança em mim mesmo. Após me acalmar um pouco, meu avô puxou minha cabeça até seu tórax, perto do seu ombro, e me ofereceu seu consolo.

- Filho, pare de ir até o Café. Me prometa.

- Não posso prometer o que não posso cumprir. Você me ensinou isso.

- Agora eu vou te ensinar algo novo. Não se trata a dor com mais dor. Quero que você aprenda a lidar com ela, e só se faz isso tratando com o antídoto.

- Do que o senhor está falando?

- Essa é a lição que você vai ter que aprender por si mesmo, Yuri. Mas saiba que pode demorar o tempo que for para aprendê-la, enquanto eu estiver aqui, você tem base para suportar o que for. Eu estarei aqui para você.

Turn On The Bright Lights (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora