Um mês inteiro se passou.
Eu estava em casa com meu avô, sentado no sofá, minha cabeça repousava sobre seu ombro e ele me fazia cafuné. Minhas costelas estavam curadas, meu coração, entretanto, despedaçado.
- Filho, desde que o Otabek acordou, você não tem falado com ele.
- Queria ter a coragem para fazê-lo.
- O que te impede?
- Eu não sei, vovô. Não sei o que está se passando pela cabeça dele.
- Se você não for conversar, não vai descobrir.
- Não é assim, vovô. Eu queria que você entendesse que não é fácil como parece.
- Então me explica o que é tão complicado.
- Todo dia quando eu acordo, eu penso na quantidade de sangue que havia na minha cama. Sangue dele. Tudo porque eu sou um incapaz. E eu juro que não posso conviver com isso. Beka não mereceu isso. Eu não o mereço.
- Tenha consciência de que isso está somente na sua cabeça. Otabek deve estar muito triste. Ele fez de tudo para te manter seguro, não é justo que não receba ao menos uma explicação. Você está agindo como um covarde e isso é inaceitável, Yuri Plisetsky.
Disse meu avô, parecendo bem triste e irritado.
Fiquei sem saber o que dizer. Por mais que ele estivesse certo, eu não tenho como lidar com a culpa de ter colocado todos em risco.
- Vou me deitar. Pense bem no que eu disse. Ninguém arrisca sua vida por alguém que não ame.
Meu avô se levantou e foi para o seu quarto, me deixando abandonado naquele sofá. Tudo o que eu não queria. Ficar sozinho e ter motivos de sobra para pensar no Otabek.
Cada momento que passamos era uma lembrança linda. O meu cotovelo no seu rosto, seu abraço no observatório, nosso encontro no café francês, o beijo na boate, meu pedido de perdão no meio da madrugada, nosso jantar, a primeira transa... Meu coração se aqueceu, me fazendo sorrir involuntariamente. Nunca poderia esquecer aqueles sentimentos. Eu sabia muito bem que meu avô estava certo. Era covardia da minha parte, e ao mesmo tempo, eu só queria pedir desculpas por colocá-lo em perigo.
Decidi ligar para Yuuri, que também não estava nada feliz com minha atitude, mas eu precisava a menos ouvir sua voz, nem que fosse para reclamar comigo e dizer que eu era um idiota. Deixei que o som da chamada ecoasse no viva-voz.
- Eu não quero falar com você.
- Mas Yuuri...
- Eu não quero saber. Essa sua atitude ridícula eu não vou aceitar. Não vou passar a mão na sua cabeça. Esquece.
Ouvi o bipe da ligação sendo encerrada.
Ninguém me ouviria? Ninguém me daria razão?
O alarme de mensagem soou e eu vi uma mensagem de Yuuri.
"Não tem como te dar razão nisso."
Seria cômico se eu não estivesse realmente preocupado e triste com isso.
Deixei minha mente vagar por incontáveis horas. Cada segundo parecia um julgamento completo de minhas ações e eu precisava de absolvição. Queria que Otabek me perdoasse por ter o colocado em perigo e queria que ele me aceitasse de volta. Eu sou idiota, só pode ser. Mas se todos discordam de mim, tem que haver um motivo.
"Ninguém arrisca sua vida por alguém que não ame." Meu avô disse. Será que eu realmente só estava magoando o Beka ainda mais por não falar com ele? E se eu o tivesse afastado com meu silêncio e não por toda a situação que passamos?
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Turn On The Bright Lights (CONCLUÍDA)
FanfictionYuri Plisetsky é um universitário como qualquer outro. Exceto pelo fato de que ele deixou de ser Yuri Plisetsky há algum tempo. Agora ele precisa buscar seu verdadeiro eu, e para isso, vai precisar enfrentar seus medos e inseguranças. Yuri estava d...