O que o coração quer...

413 72 4
                                    

- O que houve, Otabek?

Me apressei para sentar ao seu lado na cama.

- Eu estou te assustando, não estou? Me desculpa, não foi a intenção.

- Pode chorar. Eu fico aqui com você e só vou embora se você disser para eu ir.

Eu disse, afagando seus cabelos de forma a tentar consolá-lo.

Ele permaneceu deitado. Após alguns minutos, Beka parecia estar contido em suas emoções.

- Yura...

- Pode falar comigo, Otabek.

- Minha irmã me chamava de Beka.

Me lembrei de suas palavras sobre sua família e o acidente de avião.

- Eu sinto muitíssimo. Não tinha ideia. De outra forma, nunca teria te chamado assim.

- Ela me apelidou de Beka quando ainda estava aprendendo a falar, já que não conseguia pronunciar meu nome direito. Quando Irlla ganhou seu primeiro ursinho, ela deu a ele o meu apelido, dizendo que o urso era tão fofo quanto eu.

Eu vi seus olhos marejarem novamente, porém, seu rosto estava feliz. Imaginei que essas lembranças eram muito preciosas para ele.

- Tudo bem, Otabek. Você pode ficar aqui o quanto quiser.

Eu o abracei da mesma forma que ele fez comigo quando JJ me afrontou. Agora eu entendia o que ele estava pensando quando fez isso por mim. Eu também não o considerava fraco. Eu só queria diminuir um pouco sua dor com o carinho que eu podia oferecer. Ficamos deitados na cama, um de frente para o outro, nos encarando por segundos que pareciam ser eternos e tão rápidos ao mesmo tempo. Eu tomei a liberdade de tocar seu rosto e acariciar suas bochechas.

- Yura, se for você tudo bem.

- O que?

- Você pode me chamar de Beka.

Meus olhos brilharam em resposta a aquela afirmação. Aquilo era o que eu queria do Otabek. Mais. Eu queria acesso a quem ele era, assim como entendia que ele também queria acesso a mim.

- Desculpa, eu estraguei o clima do jantar.

- Não, tudo bem. Eu quero saber sobre você, Beka. Se vamos investir nisso, precisamos conhecer um ao outro.

Ele se levantou e disse:

- Vamos, Yura. Precisamos mudar o clima do nosso encontro. Eu ainda tenho que terminar minhas coisas, e que eu saiba, me prometeram um jantar gostoso.

Eu sorri para ele e disse:

- É você quem manda!

Fomos de volta à sala/cozinha e, embora seu nariz e seus olhos ainda estivessem um pouco inchados, o semblante parecia bem mais feliz. Ele sentou na mesa de jantar de frente ao balcão da cozinha.

- Meu trabalho hoje é bem mecânico, Yura. Se você quiser colocar alguma coisa para tocar na televisão, fique à vontade, pois não vai me atrapalhar. Hoje você é o dono da casa.

- Você não tem ideia de para quem está dando intimidade, Otabek!

- Você acha que eu vou me arrepender?

- Com certeza!

Peguei meu celular e procurei uma playlist que combinasse com o nosso jantar. Algo sexy e romântico, mas que também animasse nossos espíritos. Meu plano ainda estava de pé. Eu não iria desistir. Achei a playlist Femme Fatale no Spotify e coloquei para tocar em sua televisão. Comecei a adiantar as coisas para jantarmos, embora já fossem quase 11 da noite. Coloquei a água para ferver com tomilho e sal. Após, coloquei a massa e deixei cozinhar al dente. Entre essas etapas, olhava para Otabek que sempre estava olhando para mim. Me aproveitei desses pequenos momentos para engatar alguns passos de dança, movendo meus quadris. Era engraçado vê-lo perdendo a concentração ao me ver dançando.

Turn On The Bright Lights (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora