CATORZE | Plano de fuga

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A expressão que se formou no rosto de Amanda transmitia o quanto ela estava perplexa com o que acabara de ouvir, suas mãos levadas à boca indicava um tipo de representação física desse sentimento. Tanto é que ela até se serviu de um copo com água, com a intenção de se acalmar. Não imaginava que ela ficaria nesse estado.

— Isto que você acabou de me contar é horrível! Como um pai pôde ser tão cruel com o seu próprio filho? — Ela ainda estava se recuperando, eu a encarava com um nervosismo enorme, um aperto no coração. — Quer dizer, ele não deve ser chamado de pai. Um pai de verdade tende amar o seu filho independente de qualquer coisa. E mais, você não foi o culpado pela morte da sua mãe. Você não merecia isso.

— Ele nunca me perdoou. Sempre me tratou como se eu tivesse culpa mesmo. Nunca entrou na cabeça dele o fato de eu ter sido apenas uma criança inocente nessa tragédia. Ele sempre me odiou por isso. — Ao relembrar todos esses acontecimentos, não consegui evitar que as lágrimas caíssem. Amanda pegou em minhas mãos, nós estávamos sentados ao redor da mesa na cozinha.

— Eu sinto muito por isso. Eu realmente sinto muito. Não tenho palavras para descrever o quanto triste eu estou com essa sua história, e o quanto indignada também. — Seus olhos estavam marejados. — Sempre carreguei comigo a responsabilidade de ser mãe. E mãe solteira. Sei o quanto é maravilhoso ter um filho nos braços, dar carinho e amor. O que você relatou me deixou abalada, porque eu sempre considerei esse meu trabalho de mãe, o melhor de todos. O mais gratificante, o que mais me traz felicidade. Meu coração fica partido em saber que existem pessoas tão más capazes de desprezar, odiar ou rejeitar um filho. Seu próprio sangue. Uma bênção de Deus...

Eu fiquei em silêncio, absorvendo suas palavras e, sem tentar relutar, meus pensamentos foram de encontro à Kátia.

— E o Enrico?! Por que ele compactuou com tudo isso? O que ele ganha? — Ela ficou um pouco mais exaltada. Infelizmente, era o que eu queria saber também. — Eu sempre soube que ele era alguém com uma personalidade difícil, com muitos defeitos. Mas... comprar uma pessoa? Eu nunca imaginei! — Na sua voz, eu pude identificar sentimentos variados: nojo, indignação e, principalmente, decepção. — Por que existem pessoas assim no mundo? Tão... ruins? — Percebi que suas perguntas, assim com as primeiras, não necessitavam de respostas minhas. Eu, novamente, fiquei em silêncio.

Relatar o meu passado para Amanda e falar também sobre o que me aconteceu antes de vir parar aqui foi algo bastante difícil. Foram muitas coisas que eu vivi, coisas dolorosas demais, e isso me deixa muito mal só em pensar. Revivê-las, então, não ajuda em nada. Eu estava em meio a tudo novamente. Sem liberdade, convivendo com um homem que me trata mal, sendo agredido verbal e fisicamente, e tendo que ficar a mercê de suas decisões. Ele deve me odiar assim como eu o odeio, mas, em mais de um mês, ainda não entendi qual as suas intenções para comigo.

Mas agora que eu tenho a chance de me livrar disso, fugindo — não sei como não havia pensado nessa possibilidade antes, mais precisamente com o envolvimento do Lucas —, preciso fazer com que Amanda fique do meu lado. E, para isso, ela precisava saber da outra parte da história que eu ainda estou ocultando.

— Eu não posso mais trabalhar aqui. Não conseguirei nem olhar para o rosto dele e não me lembrar do que ele te fez. Enrico é um monstro! — Amanda esbravejou convencida de que era a melhor escolha a se fazer. Mas eu não concordava.

— Não. Você não deve fazer isso. Por favor. Seu emprego é importante para que você possa sustentar sua filha. Se sair, será difícil tê-lo de volta ou encontrar outro. — Ela ficou pensativa. Talvez não esperasse que minha posição quanto a isso fosse em contrapartida. — Eu preciso que você saiba de outra coisa que aconteceu. — Recuei um pouco meu tom.

Meu Dono Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora