TRINTA E DOIS | Cartas na mesa

5.7K 463 576
                                    

NARRAÇÃO DE DAVID

Aparentemente, Lucas estava procurando as palavras certas para começar a falar, e isso me angustiava. Ele não precisava causar essa aflição, poderia simplesmente dizer a verdade, por mais ruim que seja. Era justamente em função disso que eu não estava com bons pressentimentos em relação ao que a conversa poderia revelar. Eu tinha medo de que coisas horríveis pudessem estar sendo mascaradas, não havia como pensar em algo mais diante das acusações e insistência por parte da pessoa a minha frente em querer atingir o Enrico.

— Eu prometi ao Kaio que aceitaria as suas decisões, que não iria interferir para não haver consequências piores, e assim o fiz. Mas, quer saber? Não me importo mais com isso, tudo que aconteceu ocasionou esse acidente, e poderia ter sido evitado se eu tivesse impedido de alguma forma. O seu irmão merece pagar por tudo, e eu irei garantir que isso aconteça, custe o que custar. Do contrário, ele poderá causar mais prejuízos. — Seu tom me transmitia um grande nível de revolta, mas ainda assim as coisas não se encaixavam.

— Por que o Enrico precisa pagar? O que ele fez? — Insisti nas perguntas.

— Para começar, ele existe no mundo. Você conhece aquele homem mais do que qualquer um de nós, se não imagina o que ele pode fazer para conseguir o que quer, precisa estourar a bolha de irmãos a qual está inserido e começar a investigar e analisar os fatos. E se o conhece tão bem a ponto de estar compactuando com as suas ações, ou apenas aceitando, tem que rever os seus valores.

— Espera aí, você não pode simplesmente fazer esses ataques sem ao menos ter argumentos convincentes. E, além do mais, você não sabe de muita coisa das nossas vidas, e não tem o direito de fazer julgamentos ou "condenar" pessoas por causa de concepções próprias a respeito do outro. — Demonstrei claramente a minha irritação. Ele não pode falar assim.

— Ah, você quer argumentos convincentes? Que tal isso: o seu irmão comprou o Kaio. — Ao declarar tal coisa, o encarei franzindo o cenho, afastando alguns centímetros o corpo do lugar onde estava. Mas que absurdo! Ele vai mesmo se rebaixar a esse nível?

— O quê? — Disse quase na ironia. — Não se compra pessoas assim, do nada. É isso que você chama de bom argumento?

— Exatamente. Não se compra pessoas, é um crime, e ele cometeu sem nem pensar duas vezes.

— Isso é uma acusação grave, Lucas. Você não tem ideia do que poderia acontecer caso uma mentira dessas fosse apresentada ao público, principalmente para um grande empresário. Por que está fazendo isso? Por que você iria querer destruir a imagem dele? — Tentei me acalmar. Perder o controle não iria ajudar em nada, sem contar que estávamos em um hospital.

— Você não está entendendo... eu não estou mentido. E por mais que seja algo horrível, seu irmão pagou para ter o Kaio consigo. Eu não sei o que ele contou para você, de como eles se tornaram o que são hoje, mas com certeza não é a verdade. Não o culpo por não querer aceitar o que estou dizendo, mas não estou mentindo. Eu não brincaria com um assunto sério desses, e sei muito bem as consequências caso viesse a público. — Por mais que eu quisesse negar veementemente, havia sinceridade em cada palavra, e isso estava começando a me aterrorizar.

— Não, não, não... não faz nenhum sentido nada disso! Quer que eu acredite que meu irmão foi capaz de comprar um ser humano? E alguém que se tornou namorado dele? — Minha respiração estava irregular, o coração um tanto acelerado. — Enrico está tão diferente atualmente, ele cuida bem do Kaio até, como isso que você diz é possível? Dá para ver que ele gosta realmente do garoto. — Sentei-me outra vez no banco, inquieto. Lucas se aproximou e ficou no assento ao lado. Nós não nos olhávamos.

Meu Dono Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora