Meu Dono Irresistível (Romance Gay)

VINTE E CINCO | Surpresas

Os últimos dias da semana vieram sem trazer tantas emocões intensas, e eu agradeci por isso, embora ainda estivesse um pouco mexido pela conversa com os meninos. Lucas com certeza ficou chateado, apesar de tentar esconder, e o sentimento de culpa em seus olhos me deixou com o coração apertado, afinal, nada disso é por sua causa, mas ele se importa tanto com o próximo que um senso de responsabilidade surgiu naquele momento, sem tirar o fato de estar indiretamente relacionado com a chantagem. Eu só espero que ele não faça nenhuma besteira, para não se prejudicar depois.

Estar entre esse fogo cruzado pode ser algo perigoso demais, e eu pretendo proteger qualquer um que tiver alguma ligação comigo, mesmo que para isso eu fique desprotegido. É duro pensar que você está nas mãos de alguém tão poderoso e manipulador, e não poder fazer nada para se livrar, na prática. E o mais difícil é admitir que, apesar disso, o momento que estou vivendo com ele atualmente, é muito melhor que antes, quando eu era tratado como um ninguém, e por vezes fui humilhado; além de estar mais perdido do que um barco à deriva num oceano.

Era o acordo, e ele estava cumprindo. Agora, como outra diferença, eu tinha um objetivo principal: pagar a tal dívida o mais depressa possível. Vai demorar, e não sei quanto tempo, mas será minha prioridade. Pode durar meses, anos, e embora me assuste pensar que irei conviver com ele durante todo esse período, que vou perder tantas coisas boas ao lado de pessoas que realmente gostam de mim, eu tenho que fazer o possível e impossível para dar um fim a essa história bizarra... seria como se fosse minha alforria, e eu lutarei por ela com unhas e dentes.

O primeiro passo estava prestes a ser dado. Analisei no espelho o meu reflexo de cima a baixo, estava preparado para o primeiro dia no salão, mas bastante nervoso. Teria que dar o máximo de mim para não fazer besteira, era a minha chance de iniciar algo novo, em busca de um recomeço. Nem mesmo Enrico, com todo o seu deboche de outrora e o fato de desacreditar de mim, iria me fazer desistir tão facilmente. Ele que, estranhamente, logo depois que apareci na sala, perfeitamente arrumado devo declarar, se ofereceu para me levar ao trabalho, já que sairíamos quase no mesmo horário.

E, por falar nele, desde que chegou da viagem na semana passada, tem estado muito silencioso, obviamente não temos uma comunicação constante, mas a sensação que tive foi de que ele estava evitando me encarar ou evitando o mundo, o que é totalmente fora do comum, considerando o seu comportamento ameaçador e frio, e a forma de tratar os outros. Mas, se eu for tentar entender o que se passa em sua cabeça, certamente irei enlouquecer e ainda assim não conseguirei. O fato é que, alguma coisa deve ter acontecido, e eu só não perguntei nada a respeito porque, provavelmente, ficaria sem resposta. Isso, entretanto, tornou a convivência melhor nesses dias... solitária, como sempre, mas melhor.

— Não foi você quem riu de mim quando eu falei sobre o emprego? Agora quer fazer uma gentileza?  — Retruquei com ironia.

— O fato de eu lhe dar uma carona não elimina o meu argumento, e muito menos o que eu penso sobre isso tudo. Você que ir ou não? Não tenho paciência e nem tempo para esperar o dia todo. Se quiser andar todos aqueles quarteirões a pé, fique à vontade! — Pegou seu molho de chaves em cima da mesa, junto com a maleta de sempre, e seguiu até à porta, abrindo-a.

— Você deveria considerar parar de dar coices sem necessidade. Eu aceito ir com você, mas porque não tenho dinheiro para pagar um taxi duas vezes. — Passei por ele e me direcionei para o elevador.

— Se não quer ouvir uma resposta grosseira, não faça perguntas que possibilitem. — Revirei os olhos e suspirei. Entramos no elevador.

— É apenas difícil imaginar que você possa ajudar outra pessoa que não seja a si próprio, ou que o faça sem receber algo em troca. — Eu disse na maior naturalidade, ele não agiu incomodado.