VINTE E SEIS | Relações estreitas

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Em minha cabeça permeavam milhares de pensamentos, e nenhum deles retratava de forma convincente a resposta que eu precisava apresentar urgentemente, a próxima mentira a ser contada para alguém com o qual me importo; quanto mais tempo passa, mais a teia ganha novos seguimentos, fechando-se aos poucos e com cada vez menos possibilidades de se conseguir uma fuga sem ser atacado por algo. Como eu poderia fugir, agora, sem ser pego? Como poderia desviar da verdade e ao mesmo tempo convencer uma pessoa que parecia ter ligado um alerta em si para pegar mentirosos?

David continuava à espera de uma explicação que houvesse lógica e coerência. Após o encontro, pedi que ele entrasse e se sentasse em um dos sofás, o que soou como se eu tivesse o poder de estar convidando-o realmente para um lugar pertencente a mim. Sinalizei que tudo seria esclarecido. Meu comportamento transparecia uma tranquilidade inexistente, pois dentro de mim acontecia uma batalha se sensações sem precedentes.

— E então...? O que tem a dizer a respeito disso? Não é coincidência você estar aqui, pelo contrário, tudo isso indica que você conhece o Enrico. — Insistiu. Seu tom demonstrou a desconfiança que sentia. Quase eu não me permitia olhar em seus olhos, para não gerar insegurança... mas era impossível.

Segui até a cozinha e bebi um pouco de água, respirando fundo. Considerando a vez em que fiquei nervoso na presença de Lucas, e o que se sucedeu no banheiro, eu tinha que me acalmar melhor. Voltei para a sala, que estava vazia. Mas logo percebi o rapaz vindo de outros cômodos.

— Meu irmão não está aqui. Onde ele está? Eu não avisei que viria para cá, porque não consegui entrar em contato. Ele pode dar uma explicação a isso tudo, você parece muito... apavorado, embora tente esconder. — Quem dera aquele traste estivesse presente mesmo, para nos tirar dessa situação, já que se autodenomina tão inteligente e superior aos demais.

— Eu não... — Arfei, passando as mãos pelos cabelos. — Por favor, sente-se. Eu prometo falar qualquer coisa que você queira saber. — Ele fez o que eu pedi. — Confesso que fiquei surpreso, não imaginava vê-lo aqui... não imaginava que você tivesse que ficar a par da verdade tão cedo.

Seu semblante confuso me dava a abertura para inventar mais uma história, e eu só conseguia pensar em algo ao qual iria me arrepender amargamente depois. Algo que me fazia pisar mais uma vez no meu orgulho.

— A gente não queria que você soubesse agora, porém, vejo que não temos mais escolha.

Talvez ele estivesse pensando, assim como eu, o que diabos eu estava querendo dizer iniciando dessa forma. Por que apenas essa solução me veio à mente? Por que não mentir com algo menor? O desespero nos guia para caminhos tortuosos, quase inconscientes.

— Kaio, você está me deixando aflito. Vá logo ao ponto, por favor.

— Tudo bem, tudo bem... — Engoli em seco, suando frio. — O que está acontecendo é que... o seu irmão e eu... — Repensei a besteira que estava prestes a cometer, mas já havia começado a trilhar o caminho sem volta. — Nós estamos juntos. Nós estamos namorando.

Choque.

Essa era a palavra que representava a pessoa à minha frente. Um entalo quase havia se formado na minha garganta. Eu sentia vontade de chorar, mas pela angústia misturada com uma raiva que só crescia em meu ser. Contive os meus sentimentos para não me perder mais ainda.

— O quê? Você está de brincadeira comigo, não é? O meu irmão não é... o Enrico não é gay. Eu teria percebido. — Ele tentava dissolver a notícia, e, talvez, pensando em uma mudança de perspectiva sobre alguém que conhecia mais do que ninguém, acredito eu. O fato era que a bomba já tinha sido jogada em campo aberto, só o que restava fazer era calcular quanto estrago ela poderia causar.

Meu Dono Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora