DEZESSETE | Cinema

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Uma semana se passou desde que Lucas me apresentou aos seus amigos, ou seja, uma semana se passou desde que Léo e eu nos beijamos, e não teve um dia sequer que eu não pensasse naquela cena. Foi somente um beijo, apenas duas bocas que queriam se encontrar naquela ocasião, e apesar do desejo que inevitavelmente me invadiu, ainda que fosse a primeira vez que aquilo estivesse acontecendo, pude perceber que o que eu senti se restringiu àquele momento, os cinco minutos que me fizeram viajar entre sentimentos diferentes, em um estado total de vulnerabilidade, diga-se de passagem.

Entretanto, claro que isso me afetou de alguma forma. Ter tido um contato um tanto íntimo com outra pessoa me deixou em um montante de devaneios que sem sombra de dúvidas desvia-me dos meus conflitos atuais intensamente mais dramáticos. Talvez eu precisasse mesmo de um momento de "leveza" para camuflar os meus problemas. Talvez Léo fosse uma forma de eu não pensar nas desgraças que me aconteceram. Se uma distração, eu não sei, mas ele estava sendo algo para mim. E evitando fixar-me no que exatamente esse "algo" poderia ser, me permiti ser levado pelo que quer que fosse.

No entanto, eu poderia estar sendo um pouco injusto com um cara que só fez eu me sentir bem, mas eu queria pelo menos me ver livre por um instante da companheira de longa data chamada tristeza. Isso estava acontecendo, de fato, desde que fugi das garras de Enrico, e quanto mais os dias se passavam, eu me via mais livre e, consequentemente, mais feliz.

Tendo esses fatores como uma tentativa excepcional de me ver longe dos meus conflitos - sem levar em conta os que foram recentemente criados -, eu aceitei que algo novo se incorporasse a minha vida, mesmo que isso também significasse deixar fluir sentimentos dentro de um aspecto um pouco "egoísta" da minha parte. Não sei se soa algo muito ruim, mas acho que estava considerando o Leonardo apenas como uma saída, um refúgio, talvez, que me causava um bem-estar momentâneo maior ainda.

E esse refúgio caminhava ao meu lado pelas ruas da grande cidade, com os seus cabelos espinhosos de sempre revestidos por uma quantidade equilibrada de gel, os trajes mais próximos da casualidade: uma camisa polo rosa e uma bermuda jeans de cor branca. A beleza lhe caía muito bem. Leonardo era um rapaz muito bonito, sexy, e tinha as suas qualidades que me foram apresentadas naturalmente até esse nosso terceiro encontro considerando a primeira vez que nos vimos. E não... não me refiro a "encontro" como sendo algo se encaminhando a uma situação amorosa. Ele era divertido, simpático, atencioso, e passou uma outra primeira impressão, fazendo eu me envolver nesse espírito de liberdade. Era isso que eu queria sentir, nada mais. Como disse, ele me fazia bem pra caramba.

Não é uma novidade termos tido uma certa "ligação" - literalmente -, mas parecia que ele respeitava o fato de eu não transparecer um sentimento que talvez ele quisesse de mim. Sei lá.

- E como vocês conseguiram se safar? Ou isso não aconteceu? - Indaguei assim que Léo relatou uma travessura que ele e seus amigos fizeram quando estavam no Ensino Médio. Algo sobre colocar aranhas do laboratório de ciências na maleta do professor carrancudo de Matemática, na terceira série. Sua gargalhada em seguida pareceu responder a minha pergunta, e automaticamente eu me juntei às risadas.

- Não foi nada legal o que aconteceu depois, mas a expressão do professor quando viu as aranhas foi o melhor de tudo! Ele precisava relaxar um pouco, esquecer a tensão que sempre carregava consigo. - Disse tomando fôlego.

- Suponho que não aconteceu da forma que queriam. Ele não ficou muito feliz, pelo visto.

- Nem um pouco! Tivemos uma semana de suspensão. O Lucas quase me matava, já que fui eu quem teve a brilhante ideia, e quem o convenceu incansavelmente. Os outros toparam na hora. - Soou meio irônico na sua entonação a palavra "brilhante". Talvez tenha se arrependido depois. - Mas nós não nos prejudicamos no final. Somos até amigos do tal professor hoje em dia. Acho que ele reconheceu que éramos adolescentes fazendo coisas de adolescente, e também que seus métodos de ensino eram... rígidos demais. - Continuamos caminhando, agora em silêncio.

Meu Dono Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora