TRINTA E TRÊS | Ressurgimento

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NARRAÇÃO DE DAVID

O dia seguinte começou a se desenrolar em virtude das consequências dos eventos recentemente vivenciados. Despertei com o estômago embrulhado e um pouco de ressaca. Eu mal conseguia dar coerência aos meus pensamentos, porém não custou para que estes viessem à tona tão claramente. Meu corpo experimentava mais uma vez a influência do álcool no organismo, mas, sobretudo, de modo intrínseco, permeando o meu coração, havia um sentimento de dor e angústia que tornava tudo ainda pior, e nenhuma bebida do mundo seria capaz de me fazer esquecer as decobertas de ontem.

Para além disso, o beijo que Léo me deu aumentou as minhas perturbações iminentes. Por que diabos ele foi fazer tal coisa? Por quê? Estava bêbado, não há contestação disso, mas mesmo assim, não se beija alguém sem nenhum motivo, só por beijar. Não assim. Para tudo há uma razão, e é exatamente esse detalhe que me deixa meio atordoado.

Posso estar sendo um tanto dramático ou levando muito a sério o acontecido, só que, de fato, não é algo à toa. Nós três nos aproximamos mais ao passar do tempo, e o Léo, aparentemente, nos tratou com devido respeito, tanto individualmente quanto referente ao casal. Entretanto, a vida que ele leva relacionada às experiências com outros homens é de total descompromisso, e me inquieta a possibilidade dele, agora, querer agir com segundas intenções. No entanto, não devo tomar conclusões antes de me certificar.

Acordei primeiro que Will, na verdade, acredito eu, primeiro do que todos os mortais que estavam espalhados pela mansão. Após preparar um remédio para minha dor de cabeça, sentei na cadeira ao redor da mesa e deixei que meu corpo notificasse a minha presença ali, apenas fisicamente, com o apoio do braço na minha testa. Para ser sincero, eu estava quase dormindo novamente até o instante em que senti aqueles braços costumeiros me envolver, e o beijo no pescoço.

— Bom dia. — Soltou com a voz um tanto rouca ainda pelo sono. Retribui depois de alguns segundos e, em seguida, afaguei os seus cabelos curtos. Ele se mantinha atrás de mim, e logo saiu.

— Não precisamos perguntar um ao outro se dormimos bem, não é?! As nossas caras já revelam. — Comentei com um pouco de sarcasmo.

— Eu estou com uma dor terrível na...

— Aqui. — Não o deixei terminar e já apresentei a água com o comprimido. — Coloque o envolope em cima da mesa mesmo, para os outros.

Talvez por sentir alguma culpa, mesmo que tenha sido algo que não partiu de mim, não o conseguia olhar nos olhos diretamente, e tal atitude não correspondia à nossa forma de tratamento para com o outro. Eu precisava tirar do peito uma porcentagem do que me afligia, e dessa vez, não teria que ser o Kaio a opção mais acertada. Will, então, deu a brecha, e eu sabia o que devia lhe contar primeiro, para ser justo com ele e honesto na nossa relação.

— Quem vai precisar mais disso será o Léo. Bebeu tudo e um pouco mais. Ele deve ter esquecido até o seu nome. — Tentou me animar, certamente percebendo o meu estado. — O que houve? — Brandou o tom de voz, atencioso e preocupado.

Respirei fundo e em ritmo lento. O clima estava tenso para mim, e dependendo da sua reação, o nosso relacionamento pode ser afetado de algum forma. Consciente do que falar, iniciei a conversa.

— Muitas coisas aconteceram ontem, foi um dia e tanto... — A estratégia era ir construindo o raciocínio até o ápice. — Você me percebeu estranho e não foi por acaso. Os motivos não são simples e muito menos bons. Eu descobri coisas a respeito de Enrico, só que eu quero lhe contar em outro momento, por que agora... precisa saber de algo mais que ocorreu aqui, no fim da noite.

Ele franziu o cenho, confuso. Pode-se dizer que eu estava enrolando, mas por receio. Se eu não me importasse, se tivesse deixado de lado, com certeza teria algo de errado em relação aos meus sentimentos.

Meu Dono Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora