TRINTA E NOVE | Aniversariante

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Eu estava bastante sonolento, culpa de ter ficado até tarde assistindo filmes, adentrando a madrugada, meus olhos mal abriam, mas sabia que o sol já havia raiado, pois, senão, aqueles dois não estariam no meu quarto, fazendo sei lá o quê. Talvez só quisessem me acordar mesmo; juro que estava tentando fazer isso também, porém, como vi em um dos filmes, meu corpo ainda se encontrava no processo de download da alma, ou algo do tipo. Bocejei e, então, pude perceber o quanto esse momento estava sendo constrangedor para mim, e logo tratei de me despertar de vez.

— O que estão fazendo aí, parados desse jeito e me olhando com esses sorrisos estranhos? — Eu estava confuso, encarando-os. Will mantinha suas mãos para trás, parecia segurar alguma coisa, ou melhor, parecia estar escondendo alguma coisa.

— Você não se lembra que dia é hoje? — David perguntou.

— Ahn… segunda-feira? — Respondi com um certo tom de ironia, mas, pelo visto, essa não era a resposta que eles queriam ouvir, pois se entreolharam e sorriram.

— Bem… sim. Porém, também significa outra coisa. Você quer tentar acertar? Não é difícil. — Insistiu na sua tentativa. Eu realmente não estava entendendo o que ele queria dizer, e deixei claro isso após a minha expressão. — Deixe a gente te lembrar, então.

Foi então que Will finalmente se prontificou a revelar o que tanto queria manter em segredo. Ainda me pareceu distante o que aquilo significava, ao menos, nos segundos iniciais, logo depois, fiz a associação. Eles começaram a cantar…

— Parabéns, pra você…

Eu entrei em um pequeno transe enquanto eles continuavam. Um sentimento diferente do que essa data representa me invadiu instantaneamente, era algo que eu ia carregar durante toda a minha vida; meu aniversário não era uma data feliz para mim, pois sempre me traz a lembrança de que a pessoa mais importante da minha vida se foi na mesma data, e isso ainda me machucava de forma crua. É algo louco, por que eu nunca cheguei a conhecê-la, mas isso não se tornou uma barreira para eu sentir tanta falta.

— Kaio? — David chamou a minha atenção. Eu enxuguei a lágrima que desceu em meu rosto. — Você está bem? — Seus semblantes mudaram repentinamente.

— Eu… desculpa, eu estou bem. É que… não é apenas o meu aniversário, sabe… hoje também faz dezessete anos que minha mãe faleceu, então, não é uma data que eu costumo comemorar, por sempre estar acompanhada desse fato. — Expliquei da forma mais branda possível, eles reagiram como se estivessem arrependidos.

— Eu sinto muito, Kaio… a gente nem se tocou do que este dia significava além do óbvio. Estávamos tão animados que queríamos te fazer esta surpresinha. — Apontou para o pequeno bolo com o número 17 desenhado no recheio.

— Não… tudo bem. Eu me sinto assim todos os anos, mas é algo meu, que venho tentando mudar, só que é difícil. Vocês não precisam, e nem devem, se sentir da mesma forma. —  Tentei fazê-los não se culparem por esse gesto de amizade. — Além do mais, o bolo está muito bonito, foi o primeiro que tive, a propósito… obrigado. 

Dei um sorriso sincero. Apesar de ser um momento complicado para mim, eu não precisava desconsiderar a atitude deles, e estava feliz por isso, por terem se lembrado, demonstrando mais uma vez que se importam.

— Quer saber…? — Will lançou um olhar com entusiasmo para seu namorado, depois voltou-se a mim, e prosseguiu. — Eu acho que a gente deveria comemorar, sim. Digo, eu entendo que essa data te passe um sentimento de perda que, possivelmente, nunca irá embora; infelizmente, foi uma terrível obra do destino, mas, também, ela serve para celebrar a vida, a sua vida, e eu tenho certeza que sua mãe, de onde é que ela esteja, iria querer que você prosseguisse dessa forma. Você é tão novo, um ser humano digno de toda felicidade desse mundo, e já passou por tantas coisas às quais muita gente não aguentaria, e ainda assim, está aí, esperançoso e buscando ser forte a cada dia, vencendo esses obstáculos. Então, por esses e vários outros motivos, a gente deveria te levar para algum lugar e comemorar os seus dezessete anos. Nada do que você sente neste dia vai mudar rapidamente, mas podemos fazê-lo ser um dia alegre, para começar a construir boas lembranças. — Após Will finalizar, David o encarou com um sorriso, e logo se dirigiu a mim, parecendo concordar com o que acabara de ser dito, e querendo que eu aceitasse.

Meu Dono Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora