DEZENOVE | Fotografia

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Meus olhos se abriram tão vagarosamente que de longe qualquer um poderia sentir a minha preguiça se libertando aos poucos, e a minha falta de coragem para levantar-me de vez. De certo modo, era como se eu tivesse ingerido algum remédio tranquilizante que me tivesse feito dormir intensamente por horas e acordar renovado, com novas energias vagando pelo meu corpo. Todavia, de fato, isso em parte aconteceu.

Os flashes de memória correspondentes à noite passada me faziam reviver as cenas. Lembrava de tudo detalhadamene; Lucas sendo compreensivo, atencioso e um verdadeiro amigo. Assim como comentei outrora, me sinto bem mais aliviado, com a sensação de ter engolido o elixir da alegria, e aquele contendo a esperança que me referi há algum tempo parecia ser preenchido magicamente, apesar dos muitos pesares.

Não canso de fazer uma retrospectiva sobre minha vida, comparando os momentos, e isso não é um fato novo a ser contado por mim; é inevitável, como eu mesmo já disse. Pense bem, quem diria que uma pessoa com um passado tão desgraçado feito o meu estaria conhecendo a bendita felicidade. Uma paz parcial comigo mesmo e com os que me rodeiam. Eu não acreditaria nem que, por exemplo, o meu "eu" de agora tivesse ido me contar há alguns meses atrás, ainda que mantendo uma tal chama acesa. Só o fato disso ocorrer, já seria uma loucura e tanto. Se bem que, para quem parece ter sonhos e sensações premonitórios, eu não duvidaria de nada sobre algo tão fora do normal assim e praticamente impossível.

Quanto a esses "presságios" - devo abrir um espaço ressaltando -, para o bem ou para o mal, prefiro acreditar que seja uma ajudinha de forças superiores, ou até mesmo da minha mãe, em sua missão extra de me proteger. A única coisa que entendo é que tenho uma ligação intensa com essa mulher, ou com seu espírito, sei lá. Talvez o amor que eu sinto a seu respeito nos faça ser tão conectados sentimentalmente. Quantas vezes já não pedi a sua ajuda para suportar tudo que me afligia, nos meus incontáveis momentos de tristeza. Ela sempre esteve lá nesses momentos e sempre vai estar, em todos eles. É o que sinto. Também não uma é novidade que se não fosse por isso, eu já teria me afundado na escuridão, ou algo pior.

Talvez pensar de forma tão espiritual assim seja um tanto equivocado da minha parte, ou até mesmo um outro ato de loucura acreditar que minha vida estaria recebendo intervenções paranormais tão óbvias como as que se concretizaram. Pode ser apenas uma boa e velha coincidência do destino. Entretanto, a relação com minha progenitora é algo intocável. Faz parte da minha verdade.

A destacar, algo louco mesmo e que estava me deixando um pouco incomodado, era o fato de haver uma perna de outra pessoa por cima de uma das minhas, enquanto eu sentia uma respiração levemente quente atingindo o lado esquerdo do meu pescoço; não estava tão próximo, mas ainda assim eu sentia. Desde que percebi a situação, meu corpo paralisou de uma forma a não conseguir afastar Lucas e desprendê-lo de mim. Não queria acordá-lo, mas eu já estava envergonhado demasiadamente.

Uma de suas mãos pousavam sobre metade do meu abdômem. Virei meu rosto para seu lado e o vi dormindo intensamente. Por um quarto de segundo, dei um breve sorriso, e então logo afastei qualquer pensamento que pudesse me perturbar em seguida. Menos um: o senhor Dantas entrando no quarto e vendo seu filho quase abraçado a mim. Não acho que ocorreria algo tão ruim, mas seria muito estranho. Ele provavelmente concluiria que nós havíamos dormido abraçados de fato, quand, na verdade, o que aconteceu foi que seu filho ultrapassou a nossa muralha de lençóis, e estava por cima dela. Ironicamente, estava "em cima do muro".

Com cuidado, segurei o seu braço e o dirigi em afastamento da minha pele enxuta. Objetivo alcançado. Mas eu precisava que sua perna também não estivesse onde estava. O pior de tudo era que a famosa ereção matinal nem hesitou em aparecer, e a necessidade de usar o banheiro para urinar me afetava com uma tortura imensa. Maldita hora em que inventei de beber dois copos de água antes de dormir. Agora, eu estava literalmente preso na cama. Não havia outro jeito, ele iria ter que acordar para que eu pudesse sair. Daria no mesmo se eu fizesse algum movimento brusco com as pernas.

Meu Dono Irresistível (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora