Eu estava relendo um livro que, a propósito, ganhei da dona Fátima no meu aniversário de 13 anos — aqui na vila temos uma escola, não é tão bem estruturada como as convencionais, mas estudei o ensino fundamental todo, pois o ensino médio só há na cidade e não tenho como estudar lá —, quando ouvi um barulho vindo de fora. Fui imediatamente ver do que se tratava. Após isso, fiquei levemente preocupado, mas já era de se esperar aquela cena. Meu pai havia chegado bêbado, ele derrubou um vaso com uma planta, fazendo-o quebrar. Estava segurando uma garrafa e com a testa sangrando. Me apressei para ajudá-lo.— Me solte, seu merda! — Ele esbravejou me empurrando, fazendo com que eu caísse no chão. — Eu não preciso de sua ajuda! — Entrou cambaleando como quase sempre. Eu já devia imaginar que ele iria me tratar assim.
— Você está bem, querido? — A senhora Fátima me viu no chão e veio até mim. Seus cabelos castanhos estavam um pouco assanhados e seu semblante era de cansaço, o que retratava a pessoa trabalhadora que ela é. Com certeza já havia feito muita coisa hoje e continuaria fazendo pelo resto do dia.
— Sim... eu estou. — Falei, um pouco enraivecido por dentro, e me levantei.
Ela sabia o que eu passava e aguentava todos os dias, era a única pessoa que se importava comigo, digo, se importar mesmo! Ela sempre foi gentil e tentava me deixar melhor, apesar de não conseguir muito todas as vezes.
— Ele chegou bêbado de novo, não foi?! — Percebi a expressão de decepção que se formou quando ela se referiu ao Germano.
— Sim, como sempre. — Abaixei a cabeça e respirei fundo. Uma lágrima involuntária começou a descer sobre meu rosto.
— Não fique assim... — Ela me abraçou. — Ele era uma pessoa tão boa, sempre sorridente. Mas, depois que... bem, você sabe, ele não foi mais o mesmo. Ficou com mágoas e agora só vive bebendo. Já era para ele ter superado a morte dela. Já faz tanto tempo...
— Pode até ter superado, mas o tempo todo sendo essa pessoa o deixou assim permanentemente. Ele não sente desprezo, raiva e não tem vícios, ele se tornou isso tudo. E ele me odeia. — Disse convencido e enxugando os olhos.
— Não, meu querido, não diga isso. — Ela falou somente para que eu me sentisse melhor, mas não adiantaria em nada. Sabia que eu tinha razão.
— O jeito que ele fala comigo, o jeito ele que me trata, que me culpa, é uma forma de retratar seu ódio, o quanto me rejeita. — Desabafei e ela ficou calada, e depois me encarou com olhar de pena. — Ele é meu único parente, pelo menos que eu conheço, mas, infelizmente, a cada dia esse fato perde o significado. A senhora não sabe o quanto é difícil viver assim. Mas... não tenho escolha.
— É complicado, eu sei... e espero que ele mude e que já não seja tarde se isso um dia ocorrer.
— Acho difícil, mas eu também espero... agora eu vou entrar, vou ver como ele está. — Pois é, ainda me preocupo. Sou muito besta, não sou?
— Está certo. Qualquer coisa pode me chamar. — Ela respondeu.
— Obrigado. A senhora sempre foi muito gentil comigo. — Ela deu um sorriso estreito, voltando para sua casa e eu entrei na minha.
Quando entrei vi Germano sentado na poltrona, já com os olhos fechados. A velha televisão que tínhamos estava ligada. Eu a desliguei e fui até a cozinha, molhei um pano e voltei para a sala. Tentaria limpar sua testa, sem que ele acordasse. Dobrei o pano e o passei pelo ferimento, até conseguir tirar todo o sangue. Felizmente ele não acordou, com certeza irá dormir por muito tempo.
***
Já estava no fim de tarde e em poucas horas o Sol ia se pôr. Eu sempre gostava de dar uma volta nesse horário e hoje não seria diferente. Tomei um banho, vesti uma roupa bem simples, até por que eu não tinha nada melhor que isso, e saí.
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Meu Dono Irresistível (Romance Gay)
RomansaKaio tem sonhos que para ele são impossíveis de serem realizados. Em busca de sua felicidade, ele se vê preso às consequências de um fato terrível do seu passado, e toda sua vida é construída por grandes obstáculos; os problemas com o seu pai alcoól...