Capítulo 3 - A Companhia Inesperada

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            Bloqueei o meu cacifo. Assim que o abri não o consegui fechar.

Tinha fotos minhas e das minhas amigas no baile de primavera do ano anterior. Uma com Liam, a abraçarmo-nos, nos tempos que ainda namorávamos. Uma com a minha mãe a jogar play-station e uma com o meu pai a comer pipocas. Parei nessa, não conseguia desviar o olhar. Obriguei-me a não chorar.

Tocou para a entrada. Assustei-me e pior foi quando, finalmente consegui fechar o cacifo, Klaus estava mesmo ao lado.

            - Olá. – Disse ele e sorriu.

            - Olá. – Disse eu sem grande entusiasmo, fiquei sorridente mas no fundo a tristeza ainda se encontrava lá.

            - Estás bem? – Ele fez essa pergunta e olhou-me fixamente para os olhos, lá bem para fundo. Ele e eu sabíamos que não.

            - Tenho Química agora, e tu? – Perguntei para fazer tempo.

            - Também. – Ele fez sinal com as mãos para eu ir à frente.

            - Se queres que te diga, - parei de andar de repente, - não vou ter Química. Nem nenhuma outra disciplina hoje. – Fiz um meio sorriso. – Adeus. – Virei costas.

            - Vais onde? – Perguntou ele, num tom que me pareceu preocupação, puxando-me o braço.

            - Para todos os lados menos aqui. – Hesitei. – Queres vir? – Eu disse-o mas de seguida apeteceu-me retirá-lo. Esquecera-me que não sabia o que ele era, nem se quer sabia o que ele era. Chamei-me de parva múltiplas vezes no meu subconsciente.

            - Se não te importares. – Respondeu ele descontraído, combinando o tom com o sotaque. Ele agarrou-me com um pouco de mais firmeza na mão e encaminhou-me para fora da escola. Chegou-se a uma mota. – Senhoras primeiro. Sorri-lhe e subi, seguidamente, ele subiu. Deu volta à chave e o motor fez um barulho ensurdecedor.

Por momentos, devido àquele barulho todo, tinha pensado que o director da escola sairia a correr lá de dentro do seu gabinete enorme e confortável, para nos vir buscar, por irmos faltar às aulas o dia inteiro, mas não apareceu. Felizmente, devo dizer.

            Arrancou.

            Eu nem sabia para onde ele me ia levar.

            Que irónico…

                                                                        ***

            Desligou o motor, deixou-me sair da mota e depois saiu ele. Estávamos num campo onde eu nunca tinha estado, e tinha um baloiço.

            - Obrigada por me tirares de lá. – Agradeci, sinceramente. Se tivesse ficado na escola por mais um minuto que fosse, tudo aquilo iria desabar, e eu ia cair.

            - Não me agradeças. – Inspirou - Tu não querias estar ali desta vez, eu nunca quero estar lá. Foi uma desculpa fantástica. Eu a salvar o mundo.

            - Então eu devo é dizer de nada, por te ter trazido para fora. – As minhas pernas tremeram e sentei-me no chão. Ele agarrou-me no antebraço para me ajudar e para eu não me magoar no coxis. E sentou-se também.

            - Sei que só nos conhecemos há pouco, mas podes falar se quiseres, amanhã finjo que não ouvi.

            - Podes abraçar-me, por favor? Preciso de consolo…- Hesitante, ele abraçou-me. - Podes começar por me dizer o que és. – Fui directa ao assunto. Olhei-o nos olhos.

The Triple Hybrid (Versão Portuguesa)Onde histórias criam vida. Descubra agora