Capítulo 32 - Memórias e Problemas

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        Nos dez dias seguintes tudo andara calmo. Tinha as visitas das minhas amigas pelo Skype todos os dias também, elas contavam-me todas as últimas, todas as fofocas que eu andava a perder. As conversas com a minha mãe, pelo telemóvel, todas as noites às nove e meia em ponto. Todas as noites, se não falasse com Liam também pelo Skype ou telemóvel, recebia sempre uma mensagem a dizer “Adoro-te pequenina.”

Todos os finais dos dias, pensava no tempo, como ele passava tão depressa, sem que as pessoas dessem por ele passar. Já dava um total de doze dias, faltando apenas cinquenta e dois dias para ver o que agora era meu.

                                                                                ***

        No décimo-terceiro dia, senti algumas dores de cabeça, como se continuassem a tentar vasculhar, desenterrar memórias profundas que eu não queria mais ver, mas que nesse dia me saltavam à visão.

        Foram muitas as pequenas lembranças, mas a que me saltara mais a vista e à atenção foi uma quando estava a tirar leite do frigorífico, visionei uma cena que se havia passado com o meu pai e eu, que englobava também um pacote de leite.

»Havia sido num lanche quando eu tinha cerca de cinco anos. Ele estava a fazer-nos um pequeno lanche. Abrira um pacote das minhas bolachas preferidas, bolachas com recheio de chocolate e, do frigorífico, tirou o leite e, pousou o mesmo para abrir no picotado, aconteceu que abriu o pacote, mas sem querer, deixou-o cair no meio do chão, o leite estava em todo o lado… As suas calças que, haviam sido lavadas e engomadas, vinte minutos antes, estavam já sujas e o meu pai nem havia saído para a reunião que ia ter. O meu cabelo loiro estava, em algumas partes, molhado e colado à cara, que estava também salpicada, tal como o frigorífico e o seu interior, todo o chão, a nossa roupa, até mesmo as pernas da mesa.

Rimo-nos imenso durante os cinco minutos seguintes, mas quando a xerife apareceu à porta e reparou na bagunça, só não levamos um ralhete os dois porque a minha mãe acabou por sorrir quando explicamos o sucedido.»

                                                                                        ***

        Só pensava nesse momento.

        Era já o meu décimo quarto dia de sessenta e quatro dias.

        Costumava pensar nisso a toda a hora.

        Faltavam cinquenta dias…

        Estaria preparada?

        Como seria?

        Como correria?

        Tinha medo…

        Tinha medo do que pode acontecer, tenho medo do improvável, tenho medo do inimaginável, tenho medo de tudo o que me faz ter medo, já para não falar no medo em si.

O que me enervava mais neste processo todo era não ter companhia durante grande parte do dia. Klaus ia ter com Marcel, continuando nas suas tropelias e tentando ganhar a sua confiança, para um dia ter poder sobre tudo o que Marcel tinha. Tinha de continuar a tentar demovê-lo desta ideia, sinceramente não gostava da ideia de ele andar por aí a lutar por uma cidade… Mas tudo o que tentara até ao momento não fizera efeito nele.

The Triple Hybrid (Versão Portuguesa)Onde histórias criam vida. Descubra agora