02 | CAFÉ

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Só guardei três gostos na boca; de vodca, de lágrima e de café. | Caio Fernando Abreu

Já haviam se passado duas semanas e o dia acabara de começar quando eu fui para a faculdade. O sol irradiava e ofuscava meus olhos — não mais do que a lembrança do brilho dos teus — eu já não sabia o que fazer para parar de pensar em você. Eu nem dormi direito.

— Que cara é essa, Stuart? — Brath me perguntou quando estacionou o carro.

— Nada... O que tem na minha cara? — perguntei sem ao menos saber o motivo da pergunta dele.

— Sua cara está muito feia, mais que o normal — ele riu — Não, sério você está muito mal.

— Eu só não consegui dormir direito — apenas disse a verdade para ele.

Como consegui deixar ao ponto de perder o sono?

A faculdade estava cheia como sempre. Pessoas me olhavam e outras só ignoravam.

Lembrei que não tomara café da manhã, então fui na cafeteria que tinha ao lado da faculdade.

Quando eu cheguei minha cabeça doía muito. Me sentei no balcão, mesmo que todas as mesas estivessem vagas.

— Não temos vodca! — levantei a cabeça olhando para onde a voz viera.

Era você Sarah. Vestida com um avental e um bloco de notas na mão, e mesmo assim essas roupas te caiam tão bem.

— Só um café mesmo. — eu falei sorrindo.

— Café? — você perguntou, descrente, e eu assenti com a cabeça — Okay.

Você anotou no papel e deu as costas, me deixando olhando para o nada.

Minha dor de cabeça só aumentava enquanto eu continuava de cabeça baixa.

— Um café expresso — você me disse — e uma coisinha para ajudar com a dor.

Você me entregou um comprimido e sorriu.

"Minha dor de cabeça passara, mas o remédio fora o seu sorriso, não o comprimido". — Eu pensei em falar, mas desisti.

Olhei as horas no relógio da parede e percebi que não dava mais tempo para voltar para faculdade, então abaixei a cabeça novamente.

Eu estava pensando na vida e em você. Tentei, mas você não saia da minha cabeça. Seu sorriso, cabelo, olhos, tudo. Exatamente tudo. Uma coisa bem inacreditável sendo que te vi apenas três vezes.

Acordei com alguém me cutucando. Era uma moça loira também de avental. Eu olhei para o relógio na parede que marcava 19:00. Me assustei por saber que dormi o dia todo nessa bancada.

— Onde está a garota morena de olhos verdes? — perguntei olhando para os lados e percebendo que só havia nós dois ali.

— O período dela já acabou. Ela está saindo logo ali. — ela apontou para atrás de mim.

Olhei para a porta que você acabara de passar. Eu saí do meu lugar e logo passei pela porta também.

— Você me deu alguma droga? — eu perguntei pelo fato do remédio ter me feito dormir o dia todo.

— Só te dei o que precisava. — Você falou ainda andando.

— Está escuro, você vai embora sozinha? — perguntei parando na rua.

— Sim. — foi só o que você disse e depois sumiu na escuridão.

Tão séria, por quê?

Eu dei meia volta e peguei meu celular. Mandei uma mensagem falando para o Brath onde eu estava e que era para ele vir me buscar. Ele não respondeu então eu decidi ir andando.

Eu estava caminhando quando um carro passou por mim e parou ao lado da pista. Parei um pouco com receio, continuei andando me aproximando cada vez mais do carro. Eu estava quase passando quando o motorista buzinou alto, dei um pulo de susto e o vidro do carro se abaixou. Era o Brath.

— Eu quase tive um infarto do coração! — falei ríspido e controlando a respiração.

— E seria infarto do pé se não do coração? — ele falou brincalhão, mas eu não vi graça. — Você mandou mensagem, entra logo.

Eu entrei e nós fomos para o apartamento.

— Onde você estava? — Nathan me questionou. Eu não respondi e fui para a cozinha. — O treinador está puto com você.

— Qual o motivo? — eu perguntei.

— Você faltou hoje e nem deu uma explicação. — ele falava como se fosse meu pai.

— Eu estava com muita dor de cabeça, Nathan.

— Você precisa falar isso é para ele, não para mim Stuart. — Eu saí de lá e fui para o meu quarto.

Eu não ligava se o treinador estava com raiva de mim, não podia faltar um dia que escutava reclamações dele.

Mas era o dever dele e uma filha da putagem da minha parte, admito.

No dia seguinte fui para a faculdade e logo o treinador me encontrou.

— Stuart... — ele começou a falar — Você não veio ao treino ontem, então hoje você fará o dobro.

— Como assim o dobro? — eu perguntei para ele.

— Você ficará aqui até depois das suas aulas. O treino vai ser pesado como o de costume, porém duas vezes mais — ele falava e eu só concordava com a cabeça. — Então se tiver que comer algo depois que suas aulas acabarem vá rápido.

Eu sabia que ia cansar muito — meu pulmão de fumante não iria aguentar —, então pensei comigo mesmo que se eu precisasse comer iria até a cafeteria e iria te ver, Sarah. Tudo rodava a meu favor.

As aulas estavam puxadas, mas eu tinha que me esforçar para poder concluir os estudos.

Estava indo até a cafeteria para poder comer e para te ver.

Você não estava lá, Sarah. Eu sorri para mim mesmo e pedi algo para comer.

— Onde está a garota de ontem? — eu perguntei para a moça.

— Qual delas? — ela me perguntou mastigando um chiclete.

— Uma morena de olhos verdes.

— Sim, a Sarah, ela só trabalha às segundas-feiras, é quando ela tem dia livre da faculdade. — Como não havia te notado na faculdade antes, garota?

Tudo se encaixava agora.

Eu voltei para a faculdade e o treinador me deu vários circuitos para fazer. Eu estava suado e cansado.

— Vamos Stuart! Mais ,você tem plateia garoto. — o treinador falava alto. Olhei para ver quem era a minha "plateia".

Nathan e Brath estavam rindo da minha cara nas arquibancadas. Mas meus olhos parou na garota de cabelos escuros e olhos claros. Você estava lá com suas amigas.

Elas me olhavam com desejo e você me olhava com curiosidade, mas eu... eu sim te olhava com certo desejo.

Eu ainda queria te conhecer melhor. E eu iria, só não sabia como e nem quando. Mas iria.

Só que pelo jeito você não me dava chances para isso, porém eu iria conseguir.

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