13 | DROGAS

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Como falar que não usa drogas se você me usou e usou a minha vida? | Navignier Cunha

Hoje o dia seria ótimo se eu não tivesse que ir à faculdade, como todos os outros dias, para variar o céu estava escuro, como se fosse chover. Esse clima antes da chuva sempre foi bom, meio que uma nostalgia, mas ainda assim eu tinha um pressentimento ruim.

Tudo que eu via nos corredores eram pessoas de um lado para o outro e também Brath, e eu me pergunto quando era que ele iria esquecer toda essa merda. E o que eu não via nos corredores era o Nathan, onde foi que ele se meteu?

Liguei para ele algumas vezes, mas ele não atendeu.

Querendo ou não o dia hoje pareceu passar mais rápido.

Cheguei em casa e logo senti um cheiro estranho. Não era um cheiro desconhecido.

- Nathan? - chamo baixo. Não tenho resposta. - Nathan?! - chamo mais alto agora e mesmo assim nada.

Me aproximei do corredor e depois do seu quarto. Bati duas vezes. Nada. Entrei. Ele estava lá estranhamente deitado.

- Que merda é essa Nathan? - o cheiro de maconha era muito forte.

- O quê? - ele fala arrastado.

- Onde você arrumou essa merda? Você já não tinha se afastado das pessoas que te arranjavam isso? Que porra Nathan! Me dá isso. - tiro da sua mão e jogo dentro de um copo de água que havia na cômoda ao lado da cama.

- Para de ser chato - ele fala. - Você vive fumando cigarro e eu não posso fumar uma ervinha?

- É, mas o cigarro acaba com o meu pulmão e não com a porra dos meus neurônios!

- Para com isso Stuart! Você quer mandar em todo mundo.

- Não, eu não quero mandar em ninguém.

- Você não percebe que não consegue nem controlar a si mesmo? - ele chega bem perto do meu rosto.

- Sai daqui, Nathan. - o empurro de leve e ele cai sentado na cama.

- O que foi? Ficou com medo de eu te beijar? - ele sorri enquanto semicerra os olhos e balança a cabeça em negação.

- Cala a boca, você está totalmente chapado, não deve estar nem raciocinando direito.

- Eu não queria te beijar idiota! Você está ficando louco? - ele gargalha alto.

- Eu que vou saber o que essa merda faz com a sua cabeça? - Passo os dedos entre os meus cabelos.

- Ué? Você mesmo disse, ela acaba com a porra dos meus neurônios. - ele fala de um jeito bem idiota tentado me imitar.

- Você é ridículo. - Saí do seu quarto e fui para o meu.

18:24_Stuart: preciso da sua ajuda. É sobre o Nathan.

A resposta não chegou, então resolvi tomar um banho.

O que será que ele quis dizer sobre eu não consegui controlar nem a mim mesmo?

Isso ficou por tempo até de mais na minha cabeça.

20:12_Brath: estou ocupado.

OCUPADO COM O QUE PORRA?! - Era só o que eu queria gritar na cara dele.

Eu só queria saber qual, qual o motivo para ele estar sendo tão idiota? Nós somos a porra da família dele.

Eu não sei se eu posso reerguer o Nathan sozinho. A última vez foi tão difícil, eu chorava quase todas as noites ouvindo ele chorando no seu quarto, enquanto estava sobre o efeito das merdas que ele usava.

Eu não sei se eu consigo fazer isso sozinho. Não sei.

Eu queria saber o que se passa na cabeça dele, o que ele realmente pensa, mas não nos fala.

Isso tudo era uma grande merda.

Ouvi a maçaneta girar.

- Posso entrar? - Nathan pergunta enfiando a cabeça para dentro do quarto.

- Sinta-se em casa - falei calmo. Ele bufou e entrou.

Sentou na beirada da cama.

- Eu não sei se consigo - ele disse, fitando a porta.

- Não consegue o quê? - perguntei, mas não obtive resposta - O que você não consegue, Nathan? - me sentei com as costas na cabeceira da cama.

- Eu não sei - respondeu em um fio de voz - Eu apenas não consigo.

- Eu te entendo, mas não compreendo. Você precisa me dizer mais do que isso para eu poder te ajudar.

- Eu não sei se consigo sair dessa merda de drogas de novo - me olhou - Eu não sei se eu consigo.

- O que você quer que eu te fale?

Ele riu fraco.

- Eu... eu não sei.

- Você quer passar por tudo aquilo de novo?

- Claro que não - franziu as sobrancelhas.

- Então pronto! Aí sua resposta. Lembra da reabilitação? Se você não quer isso de novo é só não usar. - falei o que me veio à cabeça.

- Para você é fácil falar né? - usou um tom amargurado.

- Como assim?

- Não é você que passa por isso! Não é no seu sangue que essa porra corre!

- Eu não passo por isso?! Quem caralhos está sempre do teu lado, porra?! - nós dois estávamos exaltados. - Era sempre eu e Brath que te ajudava, Nathan! Sabe o quanto isso dói na gente também?! Não sabe, pois só pensa em você!

Ele me olhou profundamente. Provavelmente enxergando até a minha alma.

- Você já viu o demônio? - perguntou ainda me encarando profundamente. Eu não sabia bem o que responder. - RESPONDE MERDA! VOCÊ JÁ VIU A PORRA DO DIABO?! - gritou me dando um sobressalto. Eu podia ver as lágrimas nos seus olhos.

- Não, caralho! O que você está falando? Eu não consigo te entender!

Suspirou. - ele parecia cansado.

- Eu já, - passou a mão pelo cabelo - toda vez que tô chapado eu o vejo...

- Nathan...

- Sabe como ele se parece? - permaneci em silêncio - Sabe?! - perguntou mais firme.

- Não, não sei.

- Ele se parece comigo, ele sou eu. Entende? Eu o vejo sentado na minha cama, e sem precisar de palavras nós simplesmente conversamos.

- Eu não sei reagir a isso. Você está falando... não sei que merda você está falando. Você está ficando doido.

- Não, eu não estava doido. Apenas chapado demais para saber o que é realidade e o que não é. - ele se levantou. - E enquanto eu chorava toda noite no meu quarto, era ele quem estava lá. - E sem nem esperar a minha resposta ele saiu.

Não que eu tivesse uma resposta, essa conversa foi muito intensa.

QUATRO MESES PARA STUARTOnde histórias criam vida. Descubra agora