QUATRO MESES PARA STUART

14 | DEMÔNIO

Ele só se torna real quando você quer | Navignier Cunha

Alguns dias já haviam se passado desde aquela conversa bizarra com o Nathan.

Eu ainda não sei o que deveria falar para ele.

Eu ainda não sei o que eu deveria falar para mim.

Eu não sei nem se ele lembra da conversa, ele não tocou no assunto, e se ele não tocou, quem sou eu para ir cutucar a onça com vara curta.

As férias iriam começar daqui a algumas semanas, e eu estava enrolado em algumas matérias, provavelmente teria que recuperar algumas notas depois.

Mas não estava tão enrolado quanto aos meus problemas pessoais. Esses sim estavam me deixando com uma puta dor de cabeça.

Nathan também resolveu não dar as caras, vive entocado dentro de seu quarto, e quando nos esbarramos pela casa, ele finge que nem me viu. É inacreditável que ele faça isso.

Eu não fazia questão de tentar puxar assunto e ser cortado do nada.

Hoje eu escutei ele falando com alguém no telefone. — Não estava bisbilhotando, apenas passei na hora errada. Ou seria na certa?

— Não, tudo bem, eu posso ir aí, não fica muito longe. Tá ok. Falou. — foi o que ele disse ao telefone.

Ele não me contava mais as coisas, e eu queria saber o que era, já que não era longe dava para o seguir certo?

Não era muito tarde ainda, e eu não sabia a hora que ele iria sair, o que me restava era esperar.

Decidi ir para o meu quarto, mas ficaria atento a qualquer coisa.

As coisas ultimamente pareciam estar fugindo de controle. Do meu controle.

Resolvi deitar, mas logo escutei um barulho — eu não esperava que fosse tão rápido assim.

Logo desci, dando de cara com ele na cozinha.

— Vai fazer alguma coisa hoje? — perguntei tentando disfarçar a minha ansiedade.

— Não... — ele pegou um copo. — Por qual motivo?

— Que motivo? — Eu parecia estar suando.

— Da pergunta. — encheu o copo com água.

— Nenhum motivo — Dei um sorriso bem nervoso, eu diria.

— O que foi? — perguntou e depois bebeu um pouco da água.

— O quê?

— O que foi, Stuart? Você está estranho, aí parado me olhando, tá até suando. — deixou o copo ainda com água em cima do mármore.

— Nada, é só o calor. — falei e dei uma risada abafada.

— Tá bom então... — saiu de lá andando rápido.

Peguei na minha testa e eu estava realmente suando, suando frio.

Encostei no mármore e bebi o resto da água que ainda tinha no copo.

Não sei o motivo de estar com tanto medo assim, estou parecendo um idiota.

Fiquei o resto do dia atento a qualquer barulho que ele fizesse.

Algumas vezes eu passava por ele disfarçando e ele me olhava estranho.

Ele estava toda hora mexendo no celular ou indo beber água — muitas vezes. Parecia nervoso com algo.

Poucas vezes você veria o Nathan muito nervoso ou preocupado com algo. Ele era sempre o mais relaxado — talvez pela maconha — e de boa.

Já estava quase anoitecendo quando ouvi a porta ser aberta. — Corri igual ao flash para chegar nele.