Ligação

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Saindo da loja e entrando ao salão, elas esperam um pouco mais Fernanda na recepção, Pene mostra o chinelo meigo que encontrou e Victória mostra a toalha que havia escolhido para a sobrinha. Mariana começa a contar sobre um fato ocorrido na escola com Elisa e é interrompida por Evandro, o cabeleleiro:
- Atenção, atenção! Aprensento a vocês a verdadeira Fernanda Santiesteban! – Fernanda continuava loira, mas um loiro mais escuro com algumas luzes e uma franja enorme do lado direito.
- Ual! Disse Mariana. Victória não tirava o sorriso do rosto.
- Mãe, você está incrível! Se o meu pai te visse agora, amanhã mesmo você já amanheceria casada!
- Não me lembre o seu pai, Penélope... E agora eu já posso  ver?
- Por supuesto que sí, preciosa! O Evandro segurou ela pelos ombros e levou a até o corredor.
- Nossa, mal posso acreditar...
- Gostou? Perguntou Victória.
- Sim, está tão brilhoso e iluminado. Creio que até me tirou uns aninhos de cima.
- Você é linda, mãe e eu sempre soube disso.
- Obrigada, filha! O cabelo loiro destacava mais ainda os olhos cor de mel de Fernanda.
- Então, vamos! - Disse Mariana.
- Sim. Confirmou Penélope que se dirigiu ao caixa para pagar.
Na saída...
- Onde vamos almoçar? Perguntou Fernanda agora tocando nos cabelos sedosos.
- Podemos comer na Massaria, assim eu passo na lanchonete e depois eu compro o meu ingresso, que tal? - Sugeriu Mary.
- Pode ser. - Respondeu Victória.
- Por mim tudo bem! Confirmou Pene.
Ao chegar na massaria e escolherem a mesa, o garçom as atende. Mary e a mãe pedem o mesmo. Na espera do prato, Victória estava sentada ao lado da irmã e as meninas de frente para elas na mesa redonda. Victória bebia suco quando viu um rapaz de blusa azul e cabelo um tanto comprido acompanhado de um garoto. Por alguns instantes ela desconfiou ser Jerô e Martín, e em outros não.
Fernanda observava Victória com o olhar concentrado e uma ruga na testa:
- Tudo bem, Victória?
Ela demora um pouco para perceber a voz da irmã:
- Ahn, sim, nada não, apenas pensei ter visto algum conhecido.
- Hum...
Depois do almoço elas voltaram direto para a mansão. Quando Penélope chega e abre a porta se depara com o sorriso da prima:
- Penélope!
- Paula!
Victória, Fer e Mary entram felizes ao verem com o reencontro das duas.
- Nossa, você está tão parecida com a minha mãe!
- E eu já sei que você vai dar a luz ao mais novo integrante da família!
- Que saudade!
- Também! Quem diria que você seria mãe antes de mim.
- Sim, mas isso porque você ainda não encontrou um homem que te prendesse de vez.
- Filha, já almoçou?- Pergunta Victória.
- Ainda não mãe, cheguei a pouco tempo.
- Ah, então vou ver o que a sua vó preparou e preparo algo para nós.
- Obrigada! Feranda sai junto com Victória até a cozinha.
Sentadas no sofá elas continuam conversando.
- E o que deu do seu lance com o francês?
- Nós terminamos um mês antes de eu vir para cá.
- E por quê?
- Enjoei dele, ele era muito carente, me queria sempre por perto. Quando eu queria viajar tinha que preparar ele psicologicamente. Penélope apoiou o braço por cima do sofá e colocou uma almofada no meio das pernas.
- Fez bem! Por quanto tempo pretende ficar por aqui?
- Creio que uns dois meses, será o suficiente para eu dar uma repaginada na rádio.
- Então abandonou o mestrado?!
- Praticamente, estou gostando mais da parte prática, mexer com programações, edições, é o que faço de melhor.
- Paula, - chamou a mãe. - a comida está na mesa. Penélope, Carlota passou aqui e deixou o seu mousse de chocolate.
- Mentira! Sério?!
- Vai ter que dividir comigo senão eu te ponho um baita terçol.
- Já começaram as ameaças.
Depois do almoço  Victória subiu para o quarto para descansar, as meninas se reuniram no quarto de Mariana. Memé ficou assistindo e Fer lendo. Horas depois, Victória depertou e foi ao estábulo ver como estava a sua vaquinha Clementina, percebeu que ela estava dura de tanto leite e decidiu encher algumas garrafas. Ela pegou duas das três garrafas para deixar na geladeira da casa.  Ao entrar na mansão ela passa pela cozinha e depois sobe de volta para o quarto. Do corredor ela houve a conversa de Santiago que havia acabado de chegar:
- Eu sabia que ele não era assim. Sabia que ele ía fazer de tudo para ficar do meu lado.- Victória ao lado da porta tentava entender o que se passava com Santi. - Eu falei que eu ia pegar ele na segunda, não sei porque tenho que vê-lo no sábado.
- [...]
- Já nem sei se vou mais aceitar. Ficar com ele só está me dando problemas, mas não quero pensar que já não posso tocá-lo. Esperei tanto para ter ele comigo. - Victória tapava a boca com uma das mãos, achou que talvez a irmã estivesse certa e de que as mulheres não lhe agradava.
- Tchau, Lucas a gente se vê depois e obrigado, obrigado por me entender amigo.
Santi desligou, se virou para trás e viu a mãe passando.
- Mãe!
Ela tentou disfarçar o nervosismo.
- Sim, filha! Quer dizer, filho.
- Está, tudo bem?
- Sim.
- Eu vim ver a Penélope, ela já voltou para o hotel?
- Não, não, deve estar no jardim com as suas irmãs.
- Ah, ta, vou lá ver elas. Hum, você está tremendo?
- Ah, nada não, isso me acontece às vezes.
- Tah... Você está estranha. - Disse ele rindo.
Ela riu do rosto doce do filho preocupado.
- Não é nada, filho. Me dá um beijo.
- Oh, mãe! - Ele a beija no rosto e abraça forte e carinhosamente.
- Filho, sabe que pode confiar em mim, sabe, que nem quando você era criança. Não quero romper essa linda essa intimidade que nos une.
- Que isso mãe, você é a mulher mais compreensiva que conheço eu não poderia me abrir com outra pessoa.
- Te amo muito Santiago. Te amo de qualquer jeito.- Ele ria.
- Eu também mãe, eu também...
Minutos depois, Santi foi até a beira da piscina:
- Ah, aí estão vocês!
- Santi!
- Penélope!
- Como você está linda!
- E você cada vez mais cabeludo!
- Nossa, valeu!
- E você, como anda a vida?
- Indo... Comecei a fazer shows em bar depois que a minha mãe separou do meu pai e continuo na faculdade de música.
- Está compondo muito?
- O tempo todo! - Diz Mariana. - É porque ele chegou tarde senão você ía ouvir.
- Exagerada! Basta vocês reclamarem e eu ponho o fone.
- É uma loucura pra tentar estudar. Reclama Paula.
- E quando você vai lançar o seu CD?
- Não sei, mas falta só mais alguns ajustes e eu já terei um pronto.
- E o seu pai? Devido ao calor Penélope volta e outra prendia o cabelo com as mãos. Ainda não aceita o fato do filho dele não querer trabalhar no escritório da família e querer  viver de música? Você sabe que é você quem tem que decidir, certo?
- Sim, depois do acidente em que perdi os dois dedos da mão esquerda, ele ficou com receio de que eu estragasse a minha vida por não ouvir ele. Eu acreditei nisso até o momento que notei que eu já não era eu, eu era os sonhos do meu pai.

 - Meu pai obrigou ele a se inscrever ou em direito ou medicina e que ele pagaria. Disse Paula.
Penélope ficou curiosa:
- E o que você disse?
- Ele mandou o Doutor Enrique se inscrever em medicina já que ele fazia tanta questão. Respondeu Mariana se ajeitando na cadeira.
- E depois disso?
- Nada, meu pai continuou me atormentando dizendo que isso não levaria a nada e blá, blá, blá.
- Elas riram.
- Você está certo, Santi. Já que vamos passar mais tempo trabalhando do que com os amigos e a família, que seja por algo que realmente gostamos e sentimos prazer em fazer.
- Senti sua falta Penélope...
- Eu também. Agora vem aqui e me dá um abraço!
No fim do dia Penélope foi embora, Victória fez companhia a mãe e depois todos dormiram, exceto Victória que estava pensativa.
No apartamento de Jerô, naquele instante, ele estava deitado ao lado do filho na barraca. Com o braço sobre a testa, ele se lembrou do quanto a mulher da loja lembrava a sua amada. Ele se lembrou também do beijo que deu em sua amada no viveiro, sua boca perto do nariz dela e ela de pé em seus braços. O sangue dele esquentava só de pensar.
Então, ele se levantou cuidadosamente, tirou o braço do filho de cima dele e calçou o chinelo. De pé, perto da bancada da cozinha, ele retira o telefone do gancho e disca.
No quarto, Victória olhava para cima com os pensamentos perdidos, de repente o telefone toca. Ela atende com medo de que fosse alguma notícia ruim.
- Pronto!
- ...
- Pronto.
- Victória...
- Jerônimo... - Ela se sentou na cama e ajeitou o cabelo.
- Estava dormindo?
- Não, perdi o sono...  está tudo bem?
- Sim, só queria poder te ouvir um pouco. 
- ... Ahn, sobre ontem...
Ele suspira:

- Você falou que me ama.
- Mas foi por...
- Não arrume mais desculpas Victória, não vou sair da sua vida tão simples assim.
- E eu não quero, não quero que desapareça dela. Se pudéssemos ser amigos...
- Pra quê? Para continuar nos falando, nos vendo e negando o que sentimos um pelo outro?! Não, isso não é certo, não é justo com nós dois, Victória. Ademais, não consigo tirar sua pele, sua boca da minha cabeça por mais que eu insista. O fato de eu insistir me faz te querer ainda mais.

Ela ficava sensível só de sentir a voz dele. 
- Jerônimo...
- Sabe qual é o meu maior desejo agora?
- ...
- Poder dormir ao seu lado, Victória. Saber, por alguns instantes que você é inteiramente minha.
Ela colocava a mão entre os seios como se quisesse evitar que as batidas do coração dela chegasse ao ouvido dele.
- Tenho que desligar.
- Não, por favor. Passe essa noite comigo, Victória.  - Ela se deitou e não disse nada, mas ainda estava com o telefone sobre a orelha. Ele também não dizia nada, apenas ouvia a respiração dela, ele tinha medo de dizer mais alguma coisa e que ela desligasse.
Tranquila Victória fechou os olhos ainda com o telefone sobre a orelha e entre os cabelos que lhe aquecia a face. A respiração dele lhe dava a sensação de dormir envolvida pelos braços dele.
De madrugada, Jerô, durante o seu sono, fala como se tivesse respondendo a alguém nos seus sonhos:
- Eu te amo mais...
Enquanto isso Victória dormia confortável com o telefone ao lado.

Ela ainda sabe amarOnde histórias criam vida. Descubra agora