Senhorita Padial

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Era domingo. Na mansão Victória foi a primeira a acordar e estonteante, como se os raios de sol que incidiam sobre a janela lhe desejassem bom dia. Ao se levantar para abrir a cortina e receber a manhã, ela nota o telefone do lado e abre um sorriso ao pensar o quanto se sentia uma adolescente por ter adorado ter passado a noite pendurada ao telefone até dormir. Sem perceber ela suspira:
- Jerônimo...
Sem por os sapatos e sem o rupão, apenas com a sua clássica camisola de seda, Victória passa a se incomodar com as cortinas que impedem o sol de iluminar seu quarto e lhe aquecer, então ela segura cada lado da cortina com uma das mãos, e como num gesto de liberdade, ela as separa rapidamente. O som das argolas deslizando sobre a suspensão em um único instante a fazia rir. Ela se empolga e corre para abrir a outra janela. O ato de correr lhe enchia de felicidade tranquila. Ela vivia o seu estado de graça. Depois ela se vira, olha para a cama, corre e se joga de costa e com os braços abertos, seu momento mal lhe cabia no peito. Ela se levanta, retira os travesseiros, a colcha e estica o lençol com a ajuda do vento. Até as ondas do lençol a fazia rir, como se seu quarto a admirasse nesse estado. Por fim, ela foi para o banheiro tomar banho e se trocar fazendo o som dos instrumentos da música com a qual Jerô uma vez dançou com ela.
Depois ela saiu do quarto e desceu as escadas, estava tudo quieto, pois por ser domingo até Deus tinha o direito de acordar mais tarde. Na cozinha ela já chegou pondo o avental,  ligou o radinho de Carlota e preparou o café da amanhã. Fez bolinhos de chuva, bolo de fubá com erva doce e cenora com chocolate, o preferido da irmã. Ajeitou a mesa e começou a fazer alguns bolos a La Victória para o seu primeiro fornecedor, a padaria Empório. Seu ritmo de trabalho era regido pela música, ora estrangeira ora de baú. De repente chega Fernanda:
- O que está acontecendo por aqui?
Victória riu:
- Bom dia, Fernanda! Nada, apenas acordei entusiasmada com os pedidos da padaria.
- Hum... só isso? Será que não tem alguma razão a mais com nome de Jerônimo.
- Talvez... Nos falamos ontem a noite.
- Como é que alguém dorme nessa casa com esse som de batedeira logo cedo? Diz Memé irritada.
- Desculpa, mamãe é porque tenho uma entrega para amanhã.
- Custava esperar só mais um pouco, ainda são 9h?
- Eu aproveitei que estava fazendo o café da amanhã e comecei a fazer a encomenda.
- Veja a que ponto você chegou Victória. Ter que acordar cedo em pleno domingo de amanhã para bater bolos! Se tivesse voltado com Enrique seria servida e não tinha que ficar servindo.
- Não diga bobagens, mamãe. - Disse Fer.
- Eu estou falando a verdade. Se a sua irmã tivesse esquecido tudo e não assumisse o relacionamento com aquele meliante tudo teria voltado ao normal.
Victória não se conteve:
- Normal? Normal o meu marido, pai dos meus filhos ter me enganado por mais de dois anos? Normal perceber que ele só se deitava comigo quando estava bêbado ou quando a outra o recusava? Normal ser a esposa para manter as aparências diante dos amigos e empresários? - Victória retira o pano do ombro, o põe sobre a mesa e apoia as duas mãos sobre ela. - Desculpe mamãe, mas não vejo nenhuma normalidade nisso, eu me casei com o Enrique por amor e não por interesse como você pelo papai.
- Victória... - Disse Fernanda tentando acalmar a irmã.
- Ah, e aquele meliante que a Senhora mencionou se chama Jerônimo Acosta, mamãe. Ele soube me tratar como mulher, ele não está comigo porque não quer dividir os bens que por lei pertencem a mim assim como Enrique. Para ele eu sou como uma joia que mostra o quão bom ou poderoso é quem a comprou. - Fernanda já não impedia Victória, entendia que ela estava no seu direito. - Entenda de uma vez por todas mamãe que eu amo a Jerônimo e que ele sim faz algo por mim, diferentemente de você que praticamente me virou as costas quando me divorciei de Enrique e hoje eu sou a única que pode fazer algo por você. - Fernanda se sentia envergonhada por ter dependido da mãe e agora da irmã.
Memé olhava com disgosto para a filha:
- Que ridículo Victória te ver assim. É um verdadeiro papelão. Esse jornalista ainda te trocara pela primeira oferecida. Nunca vi uma mulher a sua altura se rebaixando tanto...
Victória não sabia se sentia calor ou se o seu sangue que fervia.
- Mais uma palavra  e...
-Victória não pôde terminar, não poderia ameaçar a própria mãe. Memé com medo se calou, encarou a filha e saiu sem nenhuma palavra, ela havia sentido o risco que correu.
- Ual, nunca te vi falar assim com a mamãe.
- Às vezes parece que ela pede Fernanda. - Victória tomava água para se acalmar. - Jamais tiraria vocês daqui, eu só queria fazer ela parar, saiba que essa é minha casa e sua também.
- Obrigada por tudo, Victória!
- Imagine, até porque você vai me pagar,- Victória ria. - ainda preciso de você no gerenciamento dos doces a La Victória.
O clima foi amenizado. Horas depois os meninos acordaram e tomaram café. Primeiro Santi que comeu e foi para fora ensaiar no violão, segundo Mariana que avisou que iria para a casa de Lisa e por último Paula.
- hummm que cheiro bom. Comenta Paula.
- Bom dia, querida! - Disse Victória.
- Nossa, o que houve com a Memé, eu falei bom dia duas vezes para ela e ela não me dise nada. 
- Sua mãe disse umas boas verdades para ela.- Explicou Fer.
- É mesmo? Mãe, realmente a Senhora está mudada, já reparou o quanto?
- Sim, filha e percebo cada dia mais.
- Para vocês verem do que o amor é capaz.
- Sim, Fernanda e estou começando a acreditar que o amor também abre os olhos, ele não é cego, nós é quem acreditamos estarmos cego.
Paula via na mãe uma outra mulher.
- Ai, vamos mudar de assunto porque a sua netinha e eu já estamos sendo torturadas por esse cheiro maravilhoso. Posso ajudar vocês?
- Mas é claro!  - Diz Victória.
- Tia, a Penélope não vai vir almoçar conosco?
- Não, eu falei com ela hoje e ela disse que ía passar o dia concentrada nuns trabalhos para amanhã.
- Imagino, amanhã é o primeiro dia dela na rádio. Você sabe em qual rádio ela vai trabalhar?
- Não, esqueci de perguntar, mas deve ser alguma dessas conhecidas.
- Quem vai gostar de conhecê-la vai ser o Jerônimo.- Disse  Victória. - Eles devem ter muitas coisas em comum.
- É mesmo. - Disse Fernanda. - Penélope é comunicativa e simpática como ele.
Lá fora, Camila estaciona na entrada da mansão. Ela desce do carro e ouve um barulho na piscina, curiosa ela vai ver quem é. Ela dá a volta na casa e vê Santiago nadando, ela volta para trás e se esconde nos arbustos, mas antes olha ao redor para ver se não tem ninguém e fica admirando o físico de Santiago. Ela não havia notado o quanto ele estava crescido e robusto. Ela olhava discretamente para os bíceps e para a bunda dele. Ela sai da moita e vai cumprimentá-lo:
- Só podia ser você.
- Oi, Camila! Tudo bem? Ele se aproxima dela na borda da piscina.
De vestido ela se acerca a ele e lhe olha por cima dos óculos escuros.
- Bem, embora nem tanto quanto você. Soube que Penélope está aqui?
- Não, chegou mas não sei se vai vir para o almoço. - Ele olhava para cima e se deparava com as pernas de Camila lhe tapando o sol do rosto.
- Ah, sim. E onde está Victória?
- Na cozinha com a minha tia.
- Vou lá então. Até mais! Ela volta a por os óculos.
Após ela sair, Santiago não resiste e nem evita, fica olhando para as pernas e as curvas de Camila de longe. De tanto olhar o seu corpo esquenta e ele mergulha a cabeça na água, por alguns instantes e emergi balançando os cabelos e tentando esquecer a cena.
Na cozinha...
- Ual, Fernanda, é você mesma? - Ela chega a tirar os óculos.
- Oi, Camila! - Diz Victória e Paula.
- Não seja dramática, Camila.
- Mais isso é um milagre! O que aconteceu? A promessa do cabelo se cumpriu?
Elas riram.
- Penélope a convenceu a mudar. - Disse Victória.
- Adorei a mudança! Esse corte te tirou uns 10 ou 8 anos de cima. Já sei o nome do santo! Foi o Evandro Vlasak?!
- O próprio. - Disse Victória.
- Não tem jeito. Existe cabeleleiros e um Evandro! E onde está Penélope?
- Iiiihh, Camila! Ela não virá, está ocupada, pois amanhã ela começa a trabalhar.
- Poxa! Vim justamente no fim de semana para encontrá-la!
- Mas não vai faltar oportunidades. - Disse Paula.
- E você? Como vai o baby?
- Estamos bem, na segunda vamos tentar marcar uma consulta para fazer o pré- natal e tudo mais.
- E Enrique, como tomou a notícia de que será avô?
- Vou descobrir amanhã, mas espero que ele reaja bem porque eu vou me casar com o Sebastian.
- Boa sorte!
- Camila! - Lhe chamou Victória a atenção.
- Vai precisar! – Cochichou Camila -  É bom acender umas velas também.
- Ai, Camila! Eu não vou sozinha, o Sebastian vai comigo.
- Ainda bem. E posso saber pra quem vai esse monte de bolos?
- Ah, é para fornecer a padaria que a Fernanda conseguiu para eu trabalhar, lembra?
- Na Empório?
- Sim!
- O Jerônimo parou de vender seus bolos?
- Não, na verdade ele vai ter uma reunião importante amanhã, lembro que é sobre algumas mudanças, ele vai ficar ocupado demais para dar tempo de vender. Creio que farei uns extras para Mariana levar. Eu queria tanto poder terminar isso mais cedo...
- Hum! Hum! É, era só isso mesmo, só queria dar um oi para Penélope.
- Camila.... - Victória apresenta a amiga o ralador e uma barra imensa de chocolate branco.
- Você quer mesmo a minha ajuda? Já tem tanta gente nessa cozinha.
- Sim, quanto antes eu terminar melhor.
- Oh, não!
Na amanhã seguinte, Jerônimo acordou super cedo, preparou um corrido café da amanhã para ele e para o filho.
- Martín, saia logo desse banheiro!
- Tô saindo!
- Pai, vou precisar de dinheiro?
- Pra quê, posso saber?
- Hoje é o último dia de pagar o passeio da escola.
- Passeio, neh?
- Sim, o dinheiro que a minha mãe me deu só da para o lanche.
- Está bem! Agora vamos?
- Sim.
Jerônimo chega em cima da hora na rádio.
- Bom dia, Wellington! Dia pra todo mundo! E aí ela chegou?
- Bom dia! - responderam alguns.
Wellington na cadeira giratória, se desvira para Jerô:
- Ainda não e o Castro já está furioso!
- E por quê?
- Valéria acabou de ligar falando que está presa no trânsito e vai se atrasar. O pior é que o Castro responsabilizou ela para apresentar a rádio.  Xiiii, falando no Castro...
- Jerônimo, por acaso você teria uma cópia da lista com o nome e telefone de cada funcionário e como eles se destribuem.
- Sim, Valéria, imprimiu umas a mais e deixou sobre a minha mesa.
- Então, vai ser você mesmo!
- Eu no lugar da chefa?! - Ele coçava a bochecha- No, no, no, no... Eu não entendo muito da parte de transmissão e da parte administrativa.
- Não, tem problema, isso a Senhorita Padial vai aprendendo aos poucos. Só quero que não fale nada sobre o programa juvenil ainda.
- Mas por que não, sendo que ela será a coordenadora e apresentadora?
- Sim, sim, mas ela ainda não sabe. Na verdade, estou pensando dela apenas montar o projeto e eu dar ele na mão de outra pessoa.
- Ahan, tá, entendi...
Se ouve uma voz suave da entrada:
- Bom dia!
- Bom dia! Seja bem-vinda! Respondeu Castro ao ver a Senhorita Padial de calça jeans, uma blusa azul de mangas compridas com detalhes brancos, de salto e cabelo solto.
Jerônimo se virou para cumprimentá-la e acabou a reconhecendo:
- Bom dia! - Ela também o reconheceu. - Seja bem-vinda... Penélope?!
- Você é o pai do menino Mártin, não é mesmo?
- Vocês já se conhecem? - Indagou Castro.

Ela ainda sabe amarOnde histórias criam vida. Descubra agora