Havia rastro de sangue no chão, cinzas, fumaça, choro de quem não conseguiu fugir, mortos e feridos.
No outro dia cedo, estava tudo revirado, parecia que um grande furacão havia passado por ali.
Os escravos guardavam os restos de coisas que não foram saqueadas, debaixo de chibatadas de alguns capatazes que descontavam sua raiva nos negros que ficaram.
Meu pai mandou os feitores fazerem a contagem de tudo, sobraram uns 320 escravos, a maioria eram as crianças e velhos que não iriam aguentar a longa caminhada e corrida para o quilombo, ainda restaram umas 120 armas, parece que na hora de retirá-las do depósito, não houve quem as carregasse, creio que nós precisaríamos de mais homens nesse ataque, restaram também umas 300 sacas de café, houve 21mortes, oito de escravos.
Esse ataque não deixou meu pai à beira da ruína, eu sabia disso, mas foi suficiente para que com negros fortes, armas e suprimentos se começasse um novo quilombo.
E os ataques anteriores nas fazendas vizinhas foram suficientes também.
Meu pai e os fazendeiros vizinhos que sofreram os ataques mandariam os capitães do mato junto com a cavalaria da guarda seguirem mata adentro atrás do pessoal, mas creio que não iriam ser bem sucedidos na caçada, até os fazendeiros se organizarem, até a cavalaria tomar conhecimento dos fatos, até eles se organizarem em grupos e seguir viagem, o pessoal já havia ganhado bastante tempo, quase um dia de diferença a frente.
O fato de que o grupo de caça, onde tinha até alguns senhores que não conheciam a mata, como o guia do nosso bando ajudou bastante. Um dos grupos da caçada andou em círculos, muitos se perderam na mata, veio uma grande chuva que atrapalhou bastante a perseguição e tirou as marcas deixadas pelos fugitivos no capim.
Eu estava muito preocupado pensando como iria ser se alguém do nosso bando fosse apanhado, pensava em Jawaad, Jalil, Cupertino, Kinda enfim em todos os abolicionistas participantes e os escravos fugitivos.
Eram um grande grupo com carroças pesadas seguindo viagem pela mata até bem distante do Terra Preta.
XXXXXXXXXX
Meu pai e eu naquela madrugada mesmo quando o confronto havia terminado tivemos uma discussão, talvez a pior de todas, eu estava em grandes apuros, não conseguia convencer meu pai de que o deixei trancado no casarão a fim de protegê-lo dele próprio e que sua "valentia" intempestiva era a qual poderia levá-lo à morte no confronto.
Meu pai disse que ele era homem suficiente para proteger a si próprio e sua fazenda e se tivesse que morrer, morreria com gosto porque estaria lutando por aquilo que é dele, herança dele, não era preciso eu intervir daquela maneira e que fui um estúpido em minha atitude, me deu um soco no rosto, então fui morar na casa de hóspedes, até a chegada de minha mãe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O FILHO DO SENHOR
RomanceA história de um jovem abolicionista que se vê obrigado a ir contra o próprio pai escravagista para defender os direitos dos negros escravos e livrá-los do sofrimento. Inconformado, justiceiro, perfil aventureiro destemido e inconsequente. A histór...