MORTE

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             Meu pai com sua mania detestável de esconder dores e doenças tinha pavor de hospital, não gostava de médico, por ironia eu o examinava todos os dias.

Um dia me confessou que já sentia desde antes de eu vir de Paris, umas fincadas no peito, mas não falava a ninguém e quando passava raivas e contrariedades as fincadas aumentavam mais.

-Meu pai, achei que depois daquele susto enorme que o senhor me deu com aquelas pedras nos rins, o senhor pararia de me esconder doenças, peço pelo amor de Deus, quando estiver com dores, diga-me imediatamente.

Não deixe as coisas chegarem ao último caso, na última hora, o senhor me deixa furioso com isso.

-Não sou homem de ficar gemendo, se queixando pelos cantos, preocupando os outros. Só em último caso mesmo, se tivesse necessidade, iria para o hospital, iria te falar. Arrependo-me de não ter enviado vosmicê, para os estudos de direito, me ajudaria mais nos negócios e não ficaria me aporrinhando com essas consultas, me pegando, me enchendo de remédios...

Dizia ele.

-Agora meu pai, deixe de ser teimoso e nada de reuniões de negócios, nada de roda de truco, xadrez, de caçar confusão na senzala, de atiçar a raiva aos negros, nada de agitações, amolações e chateações. Vosmicê está escutando meu pai, está? 

Eu disse nada!

                Ele ficava mudo nessas horas, mas meu medo era mesmo se ele passasse mal novamente dentro de casa iria sofrer calado.

Minha mãe estava sempre atenta e sempre perguntava em vão se estava doendo, se ele precisava de alguma coisa, mas ele dizia que estava tudo bem.

                Hoje ele se recusou a participar do jantar, eu percebi que ele não estava bem, comecei a ficar preocupado, ele foi se deitar cedo, nem fez a leitura de seu livro, sua pressão estava alta, dei-lhe medicamentos, mas não estava mesmo com bom pressentimento. De madrugada eu fui até seu quarto e examinei-lhe uma vez, havia melhorado, então consegui dormir.

Mas logo cedo, gemia, gemia e reclamava de forte dor no peito novamente, mandei chamar Dr.Winfrey, perdi a confiança em mim mesmo, parece que tudo que fazia era em vão.

Dr.Winfrey me acalmava e dizia que todo procedimento que fiz durante esse tempo todo estava certo e que eu deveria aceitar a ordem natural das coisas.

-O coração é um órgão traiçoeiro, uma vez o paciente tendo infartado gravemente, pode se esperar o pior.

 Disse.

-Dr. para que me serve esse diploma? Se não posso lutar com a morte. Disse.

-Vosmicê é um médico, não um soldado, seu diploma, não é uma arma, meu rapaz!

Perto da hora do almoço, bate um vento forte, gelado, uma sensação ruim, um aperto no coração.

Fui até o quarto e meu pai pediu para chamar padre Eufrásio e a família.

                 Eu atendi ao pedido, mas quase não conseguia andar pela casa, minha garganta tinha um nó que sufocava.

Todos nós permanecemos ao lado de sua cama, até a chegada de padre Eufrásio, que o abençoou, ele apertou minha mão e colocou em cima da mão de Violeta.

Eu queria dizer algo, eu precisava dizer algo, mas o nó entalado na garganta não deixava.

-Belizário! Belizário! Chamava minha mãe, mas ele não respondia.

-Belizário! Belizário! Chamava minha mãe, mas ele não respondia

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Nunca mais a respondeu.

Descansou meu pai!

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                   Passaram dois meses da morte de meu pai, tudo era tão estranho sem a presença dele lá.

 Achei que ia me perder no meio de tantos papéis, documentos, negócios que eu nem imaginava que meu pai tinha tanta responsabilidade que tive de assumir.

                    Amaranto se tornou meu advogado oficial e me auxiliava nas questões da fazenda Alcântara, regularizou algumas situações, inclusive, descobrimos que o safado do Barão Estevão havia falsificado a assinatura de meu pai na época do...

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                    Amaranto se tornou meu advogado oficial e me auxiliava nas questões da fazenda Alcântara, regularizou algumas situações, inclusive, descobrimos que o safado do Barão Estevão havia falsificado a assinatura de meu pai na época do meu casamento e fez grilagem para parecer que os documentos eram antigos, ele queria mais terras de meu pai além daquelas do acordo, isso nos deu bastante trabalho, mas depois tudo foi se resolvendo, o parecer do juiz foi em meu favor.

Tive que afastar um pouco da medicina, mas depois já conseguia conciliar tudo, Amaranto faz um bom trabalho e administrou as coisas bem melhor que eu.

O FILHO DO SENHOROnde histórias criam vida. Descubra agora