VIOLETA

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                 Com o passar do tempo Violeta já não era mais uma pessoa triste e infeliz, parecia que estava indiferente às atitudes de meu pai, independente do que ele fizesse de bom ou de ruim.

Ela tomava banhos frequentes com ervas e flores que Sálvia sabia como ninguém preparar, banhos que deixavam a pele macia e perfumada por horas.

Estava sempre sorrindo e feliz aquilo me chamou à atenção. Era impossível não notar diferença nela.

                  Notei que a presença de um rapaz que ia frequentemente lá em casa estava tornando isso possível.

Era Cupertino, o rapaz que ia buscar mercadorias para levar ao mercado para os comerciantes.

Parecia ser boa gente, rapaz jovem de boa conversa, inteligente, abolicionista, participava das reuniões secretas da casa da pianista Camélia, mas isso era segredo nosso.

                   Cupertino era branco, sua família não tinha escravos para servidão por isso ele e o pai faziam os serviços para sustentar a família: repassar as frutas no mercado por outro preço, manter a birosca de cachaças perto da igreja.

                   Cupertino era branco, sua família não tinha escravos para servidão por isso ele e o pai faziam os serviços para sustentar a família: repassar as frutas no mercado por outro preço, manter a birosca de cachaças perto da igreja

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Eles faziam parte do povo do vilarejo que não tinha posses, dotes, brasões, títulos de nobreza, sem sobrenome forte, sem vínculos com Portugal...

                 Toda semana Cupertino ia de carroça buscar frutas ou verduras, delongava em suas conversas, com Dodo até aparecer Violeta na cozinha e ele começava então seus galanteios. Com as viagens de minha mãe isso se tornava bem frequente e fácil com a ajuda de Sálvia, meu pai estava atarefado, fazia questão de cuidar de tudo, fiscalizar todos os negócios às vezes passava o dia inteiro fora.

Violeta era bonita como nossa mãe, porém gordinha, não aparentava a idade, tinha jeito de menina, ainda mais que era baixinha.

Creio que com isso ela tenha despertado sim, um sentimento em Cupertino.

           Violeta pediu-me para conversar com meu pai a respeito da corte de Cupertino.

Esperei um dia que meu pai se encontrava calmo, numa semana onde por incrível que parecia não brigamos, minha mãe havia chegado de Vila Rica, cheia de novidades, o tempo estava perfeito para ser ter aquele tipo de conversa.

Estávamos todos assentados à mesa do almoço, Uzima retira a mesa e então tomei coragem e disse a meu pai sobre Cupertino, suas qualidades e sobre a vontade de Violeta e Cupertino de fazerem a corte.

-E então meu pai? Esperava a resposta.

-Vosmicê ainda espera que eu responda.

Nenhum louco daria a mão de sua filha única mulher, para um pobretão sem nome, sem dotes...

Está louco Romero? Dizia meu pai.

-Nesse caso somente se Violeta tivesse sido desvirginada por algum escravo, ou pelo próprio Cupertino, mas ela ainda é moça, de família, de prestígio.

*Seus bisavôs foram visitados por João Fernandes contratador das Minas Gerais o que possuía Chica da Silva, para vosmicê ver a quão prestigiada era e ainda é nossa família. Falava orgulhoso.

Nesse momento pensei sobre mim e Sálvia, o que seria de nós se ele descobrisse?

E se eu lhe contasse que não queria cortejar nenhuma moça branca de prestígio do vilarejo?

           Violeta levanta-se da mesa e sai pisando firme em direção ao quarto, meu pai sente-se ofendido e vai atrás dela.

Da sala de jantar eu e minha mãe escutávamos os gritos de meu pai com Violeta.

-Abra a porta! Abra agora, menina insolente!

Que negócio é esse de se levantar da mesa que nem uma vaca dando coices, sem pedir licença?

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Que negócio é esse de se levantar da mesa que nem uma vaca dando coices, sem pedir licença?

Vosmicê acha que será como Romero, que chegou do estrangeiro, sem freios, cheio das vontades, vosmicê acha que pode me desafiar?

Gritava nervoso na porta do quarto.

-Pare Belizário depois converso com ela, esses devaneios da mocidade hão de passar! Dizia minha mãe.

-Eu sou seu pai, eu faço suas escolhas, eu te sustento, então eu sou o que manda, sei o que é melhor para vosmicê, minha filha!

Ser cortejada por um qualquer desse vilarejo, não foi isso que sonhei para vosmicê!

Abra a porta Violeta! Dizia mais calmo.

-Vamos Belizário, vamos para a varanda, a deixe em paz, esses frenesis são mesmo coisa de menina virando moça.

             Mais tarde Sálvia me confessou que Violeta e Cupertino sempre trocavam afagos às escondidas na fazenda, mas não como eu e ela, afagos inocentes no caso.

Acho que Violeta nunca tinha sentido algo assim, nunca teve alguém que gostasse dela e demonstrava, ela se perfumava se arrumava. Mesmo para Cupertino vê-la de longe na varanda, já que nosso pai avisou aos capatazes para não deixar Cupertino entrar na casa.

            Nas reuniões na casa da senhora Camélia, Cupertino sempre me dava cartinhas para eu entregar a Violeta, e eu levava as dela para ele, teve até certa vez que Cupertino me deu um camafeu, daqueles que as mulheres gostam de pendurar em roupas, acho que é broche o nome. Dizia ele que o tal presente era vindo da capital, mas não era joia de alto valor.

No dia levei Violeta para casa de hóspedes e lá dei a ela a pequena joia, ela ficou tão radiante. Era bom ver aquilo!

 Era bom ver aquilo!

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