SÁLVIA e ROMERO

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              Mesmo tendo se passado muito tempo da visita de Margarida na fazenda, Sálvia às vezes ficava estranha comigo, fingia que não me escutava, me ignorava.

Eu a chamava para os nossos encontros, mas ela de última hora desmarcava. Já tinha tempos que não acontecia nada entre a gente.

Eu tinha que reconhecer que para ela foi muito difícil, teve que aguentar outra mulher com toda sua chatura e empolgação, fazendo planos de casar, ficar junto, montar casa, com o homem que ela amava e ainda por cima não podia fazer nada.

Ela se sentiu insegura e ameaçada, até pior do que eu me sentia com Kijani perto dela. 

No meu caso eu poderia ter encomendado a morte dele com algum capataz, ou poderia até eu mesmo ter feito o serviço, poderia ter feito o jogo dele e colocar meu pai contra ele, prejudicá-lo, mas foi o contrário que aconteceu.

                Eu como dizia Dodo, "cozinhei" Kijani em "banho-maria" por muito tempo, nunca tive coragem de agir como meu pai, se alguém atravessasse o caminho, matava ou mandava matar. Kijani era escravo e seu fizesse algo contra ele, iria contra os meus princípios abolicionistas, em meu sangue não está a maldade.

Lembro-me do dia que o mandei ao tronco, depois fiquei arrependido, mas já tinha feito. Estava furioso e fora de mim, era um dos raros momentos em que usei de violência na vida em meu favor. Lutava, usava armas, atacava, mas sempre em favor da causa dos outros ou para me defender.

                 No caso de Sálvia ela nada podia fazer contra Margarida.

Teria que suportá-la, quando retornasse lá. Que demorasse aquele dia!

                   Pensei que ela pudesse estar grávida, fiquei aflito. Certamente iria levá-la ao quilombo, lá ela iria ter nosso filho tranquilamente, sem aborrecimentos os quais passaria na fazenda, ou então iríamos para a Paris as pressas de qualquer jeito.

Mas quando procurei a Dodo ela disse:

-Num "carece" de preocupar não, "sinhozim"! Eu faço umas "beberagens" fortes, que "muié" quando toma "num" "embucha" de jeito nenhum. A Uzima quando não tomou mais, deu no que deu! Agora Sálvia e Gimbya tomam pra evitar "pobrema".

-Mas Dodo e se ela se esqueceu de beber? E mais, essa tal mistura de ervas fortes, do que se trata?

 Perguntei.

Ela me passou todas as ervas e como preparava.

                  Dodo era como uma mãe pra Sálvia tinha um grande carinho por ela, mas o conhecimento que ela tinha era diferente dos meus em medicina.

Levei a "receita" da "beberagem" para Dr. Winfrey que era um grande estudioso de homeopatias, porém não as usava para evitar problemas no hospital, ele me disse que não havia problemas com a mistura daquelas folhas.

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                   Estava demais, entre eu e Sálvia não acontece nada há muito tempo.

Ela estava tão amargurada e demonstrava isso.

Um dia, a chamei na casa de hóspedes e ela achou que eu iria tentar alguma coisa, já chegou lá arredia

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Um dia, a chamei na casa de hóspedes e ela achou que eu iria tentar alguma coisa, já chegou lá arredia.

-Sálvia lhe chamei aqui porque tenho algo muito importante para lhe falar.

-Vai falar que tem mesmo o "casório" com a branca? 

É daqui pouco tempo, que eu sei! 

Disse ela chorando.

-Nada disso! Eu prometi a vosmicê, que esse casamento não vai acontecer, não prometi?

-Prometer é uma coisa, passar por cima de seu pai é fazer o prometido é outra, "sinhozim"! Disse ela.

-Prometer é uma coisa, passar por cima de seu pai é fazer o prometido é outra, "sinhozim"! Disse ela

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-Sálvia, não sei por que duvida de mim, desse jeito?

Sou um homem de palavra.

           Meu tio Bartolomeu é um maluco, mas uma coisa que ele me ensinou é: Se prometer terá que cumprir. Se vosmicê criar esperança em alguém e não cumprir a promessa, fará grande inimigo. 

Um dia ele me disse.

O que eu tenho a lhe dizer agora é a prova de meu grande amor por vosmicê.

É tão grande, se vosmicê soubesse!

Pegue este papel e guarde bem escondido, eu disse bem escondido

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Pegue este papel e guarde bem escondido, eu disse bem escondido.

-O que é esse papel? 

Perguntou Sálvia.

-É a sua carta de alforria, meu pai me deu perante a lei alguns escravos, inclusive vosmicê, para me convencer a casar, ele me deu também, dinheiro e posses, me aconselhou ter a vosmicê para diversão e Margarida por esposa, mas jamais será assim.

Vou alforriar esses meus escravos, e tanto dinheiro servirá para vivermos muito bem quando chegarmos a Paris.

Isso não é maravilhoso?

-Eu vou acreditar em "vosmicê", vou acreditar no seu amor. É isso que vou fazer!

Não vou mais prestar atenção nas conversas de Ituri e nem nos causos dela que ela viu no casarão onde era cozinheira.

-Faça isso Sálvia, é melhor pra nós!

Acredite no meu amor, é tão forte e verdadeiro! Disse.

Ela me abraçava forte e me beijava.

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