Eu não estava mais suportando ver Violeta sofrendo daquele jeito, cabisbaixa, chorosa, seus olhos estavam fundos e sua aparência deprimida e descuidada.
Ela ficava a maior parte do dia em seu quarto escuro, puxava as grossas cortinas, fechava a porta e saia somente para se alimentar quando não aguentava mais de fome.
Eu a levei contra a vontade dela até a praia, uma pequena praia não muito distante do porto de Mangaratiba.
Ficamos lá quase que o dia inteiro, eu contava sobre a vida de Paris, sobre tudo que vivi lá, estava fazendo de tudo para ela se distrair, mas às vezes as tentativas eram em vão.
Ela nem sequer prestava atenção no que eu dizia, somente ficava olhando em meu rosto e tanto fazia o que eu dizia.
-Violeta vosmicê tem que voltar a viver. Disse.
-Como?
Como Romero, como?
Pois se o que motivava, o que me alegrava para a vida já não existe mais!
Em uma das cartas de Cupertino que vosmicê trouxe a mim, ele escreveu que planejava na calada da noite, passar na fazenda e fugirmos para a capital ou para o quilombo e que talvez isso pudesse ser no dia do ataque que houve lá.
Mas minha mãe me obrigou a viajar com ela e Sálvia, então perdi a oportunidade para todo o sempre. Contou ela.
-Ele me disse mesmo que planejava isso. Mas parece que ele pensou bem sobre tudo porque me disse que iria a capital, fazer fortuna segundo ele, e voltaria para buscar vosmicê. Ele na época do ataque estava quebrado Disse.
-Não importava a situação financeira dele, se ele tivesse me dito roubaria o cofre na fazenda, pediria dinheiro a vosmicê, a mamãe, sei lá e fugiríamos assim mesmo. Ela retrucou.
-Vosmicê amava mesmo ele de todo seu coração, para se comportar dessa forma. Imagine roubar o cofre de nosso pai!
-Sim eu o amava e esperava por ele.
Cupertino foi o único que me amou, Romero!
Ele foi corajoso, mesmo sabendo que era pobre, quase miserável, foi capaz de pedir a corte a meu pai, através de vosmicê, mesmo depois de nosso pai tê-lo proibido de entrar em nossa casa ele desafiava meu pai, tentando ir além e chegava até a varanda para me ver.
Ninguém, ninguém nunca me amou assim! Desabafou ela.
-Mas pode amar, vosmicê acha que ninguém a amará dessa maneira de novo?
-Não! Não acho. Disse ela.
-Violeta pare de pensar assim. Vosmicê está louca!
Não é a mais formosa das mulheres, mas também não haverá nessa terra homem que não se encantará por vosmicê.
A beleza é um complemento, às vezes não muito importante. Dizia eu.
-Para falar a verdade às vezes eu nem quero que ninguém me ame mesmo, que venha me cortejar, que se aproxime de mim, pois não darei o meu amor, não darei a nenhum outro homem.
Eu queria o Cupertino, queria e muito. Ela chorava e dizia.
-Violeta vosmicê se encontra de um jeito que por mais que alguém fale, por mais que alguém faça, não adiantará.
Venha cá! Preciso te abraçar bem forte.
Tem coisas que somente o tempo cura, somente o tempo! Dizia eu.
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O FILHO DO SENHOR
RomansaA história de um jovem abolicionista que se vê obrigado a ir contra o próprio pai escravagista para defender os direitos dos negros escravos e livrá-los do sofrimento. Inconformado, justiceiro, perfil aventureiro destemido e inconsequente. A histór...