EU e POULAIN

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                       È incrível como esse sentimento dentro de mim é tão forte, amo Sálvia como nunca amei nenhuma outra mulher, nem Poulain eu amei desse jeito.

                     Poulain era moça não muito formosa, pele muito alva, era alta, muito magra, cabelos que pareciam madeixas de fogo de tão ruivos, tinha sardas no rosto que pareciam uma ferrugem em suas bochechas. Aquela pele alva e seu corpo tão magro representavam para mim uma fragilidade, ainda mais porque ela falava baixo, muito tímida e introvertida como era, despertava em mim uma vontade de protegê-la.

                    Eu a conheci em uma festa de Natal na casa de tio Bartô, ela chegou com seus pais e logo que a vi, ela já despertou alguma coisa dentro de mim. Lembro que na hora em que me aproximei dela para cortejá-la, suas mãos tremiam e eu quase não conseguia escutar o que ela dizia.

                    Com o passar do tempo ficamos grandes amigos, ela gostava de passear pela cidade íamos ao Arco do Triunfo, andávamos pela Praça Charles de Gaulle, no final do Champs-Elysées em Paris, nas pontes do Sena, no Pont Neuf íamos escondido dos pais dela, lá não era bem visto por famílias tradicionais.

Então eu estava a cortejando com o consentimento de seus pais, mas eles não eram tão rígidos e tradicionais como se corteja aqui no Brasil.

                  Noelle Poulain era inteligente, intelectual, me ajudava com o francês, inglês e eu ensinava a ela o português, ela achava difícil minha língua, os verbos, as palavras com escritas iguais, mas significados diferentes. Poulain era de grande valia na tradução dos livros de medicina e literatura.

                            Eu pensava em me casar com ela, ter filhos, fazer minha família naquele país e não mais voltar para o Rio de Janeiro

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                            Eu pensava em me casar com ela, ter filhos, fazer minha família naquele país e não mais voltar para o Rio de Janeiro. Poulain apesar de não ser tão formosa era muito carismática, amiga, tão doce, despertava em mim um sentimento paternal e não muito de homem, eu sentia vontade de cuidar dela, protegê-la de tudo, com isso acabei fazendo com que Poulain ficasse muito apegada a mim.

Quando não estava preso nos meus estudos, o meu tempo era todo dedicado a ela, com o passar do tempo aquilo foi me incomodando, eu queria cortejar, mas não queria ficar sem minha vida, sair com meus amigos, participar das festas de tio Bartô e tia Hortênsia em nossa casa ou na casa dos amigos deles, os bailes eram bem divertidos, um tanto de gente nobre pelo salão, comidas, bebidas até quase amanhecer, mas Poulain não gostava dessas coisas não era dada aos hábitos noturnos, nem de ir aos teatros ela gostava.

O encanto que ela exerceu sobre mim nos primeiros meses que nos conhecemos, já não tinha mais.

Estar com ela era como se fosse uma obrigação diária.

O modo como ela estava dependente de mim, me incomodava cada vez mais.

Eu a amava, mas não queria que as coisas fossem daquele jeito, que eu tomasse o lugar do pai de Poulain na vida dela, não era a minha pretensão.

Procurei o pai dela para conversar, ele até me deu razão e disse que era normal, que ela fosse tão pegajosa e possessiva, pois ele e a esposa nunca deram mesmo tanta atenção a ela sempre a deixaram por atenção dos criados.

                     Desfeita a corte com Noelle Poulain, me via nas noitadas com meus colegas de faculdade de modo desenfreado, em tabernas com mulheres no furor da minha mocidade, e em bagunças pela noite.

Meu tio Bartô me deixava viver livremente.

O FILHO DO SENHOROnde histórias criam vida. Descubra agora