Cupertino se encontrava em grande dificuldade financeira então antes de partir veio até aqui na pousada fazer um empréstimo comigo, como combinado na reunião da igreja.
Dei-lhe o dinheiro, na verdade ele não teria como pagar o empréstimo então fiz a doação. Era suficiente para ele se manter na capital por um longo tempo.
Cupertino era mais que um amigo, eu já lhe tinha como cunhado.
Ele fazia mesmo de longe, por meio de cartas, muito bem a Violeta.
-Se eu fosse vosmicê, Cupertino não iria se despedir de senhora Camélia antes de partir, aproveitava a calada da noite e já iria direto de cavalo para capital.
-Não creio que corro tanto perigo, assim Romero, estou tranquilo.
Quem os fazendeiros quererão se vingar é vosmicê e Jawaad, mas vosmicê ninguém vai fazer mal por causa de seu pai.
Demos um abraço forte e Cupertino monta no cavalo.
-Diga a Violeta que vou fazer fortuna na capital e voltarei para buscá-la.
-Como? Perguntei.
-Vou roubá-la da fazenda na calada da noite e fugiremos.
-Assim seja! Disse.
XXXXXXXXXXX
Pela manhã escuto um reboliço na praça, abro a janela e vejo o pai de Cupertino sendo carregado por amigos até sua birosca de cachaça.
Corri em trajes de dormir, até a praça e fico sabendo que Cupertino ao sair da casa de senhora Camélia levou dois tiros no peito e caiu de seu cavalo.
Sua irmã carregava os pertences que estavam do lado do corpo e seu pai inconsolável era carregado desmaiado com a notícia.
-Onde está o corpo?
-Nossos amigos do mercado o recolheram e o levou para nossa casa. Respondeu-me a irmã dele.
Meu Deus! Fiquei tão perplexo com a notícia que mesmo em trajes de dormir permaneci sentado no banco da praça sem saber o que fazer, pensava em Violeta, como iria dar a ela tão terrível notícia.
Será que foi vingança de meu pai encomendando a morte de Cupertino ou será que foram os outros fazendeiros que encomendaram a algum capataz.
Mais tarde fui até a igreja procurei saber se Jawaad ainda estava em perigo na cidade, mas senhora Camélia disse que ele já havia partido logo depois da reunião.
-Apanhou umas roupas, armas, comida fez uma "matula", passou em minha casa, me abraçou e partiu na madrugada. Disse ela.
-E os outros?
-Todos em alerta, até padre Eufrásio está em alerta para ver se sabe de alguma coisa, se mais alguém foi visto por fazendeiros. Mas todos estavam de capuz, não devemos preocupar tanto!
Somente Cupertino foi reconhecido na fazenda de seu pai. Disse senhora Camélia.
Nesse momento cheguei à conclusão que provavelmente a morte de Cupertino foi mesmo a mando de meu pai, por vingança aos saqueadores.
Mandei um moleque até a fazenda avisar minha mãe, e ela veio sem kijani na charrete conforme escrevi no bilhete.
Ela veio a tempo, mas não quis ir ao enterro de Cupertino, disse que não iria contar a Violeta o ocorrido, pelo menos por enquanto.
Como amigo de Cupertino que fui a última lembrança que eu queria ter dele era aquela dele montado no cavalo, alegre, feliz, fazendo planos para o futuro com Violeta, não queria vê-lo deitado em um caixão e todos seus planos bruscamente interrompidos de forma tão estúpida.
Fiquei com minha mãe na pousada e também me recusei a ir ao enterro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O FILHO DO SENHOR
RomanceA história de um jovem abolicionista que se vê obrigado a ir contra o próprio pai escravagista para defender os direitos dos negros escravos e livrá-los do sofrimento. Inconformado, justiceiro, perfil aventureiro destemido e inconsequente. A histór...