A sala de teatro é ampla e espaçosa, com paredes marrons e piso que lembra madeira. Sentei na cadeira azul, ao lado de Kim.
A Sra. Benson é nossa professora. Ela é uma mulher que possui formas e linhas muito belas, apesar de já ter passado dos 40 anos.
Ela levantou arrastando a cadeira para trás. Indo até o meio do círculo de cadeiras, os ombros eretos, a postura confiante, ela parecia deslizar pela cera recém aplicada no chão. Gosto de pensar que ela anda igual a Rainha Branca da Alice.
— Bem-vindos — Ela começou empurrando os óculos na ponta do nariz com o dedo. — Vejo que temos muitos rostos novos por aqui e quero conhecer todos o mais depressa possível. Então, vamos começar. Enquanto entrego o plano de aulas eu quero que sentem-se no chão em círculo e deem as mãos. Nas minhas aulas não são permitidos usar pulseiras, colares, ou qualquer objeto que possa atrapalhar. E celulares desligado. — Ouve um muxoxo de reclamações abafadas pela sala. — Não quero nada que atrapalhe a concentração de vocês.
Aceito a minha cópia e dou uma conferida rápida. O que quer dizer "boca chiusa?"
Olho para Kim, que dá de ombros.
— Sugiro à vocês que não usem jeans. — Continuou a Sra. Benson. Eu não usava. — Muito menos roupas de cores extravagantes. E por favor tragam suas garrafas de água e evitem sair o máximo da sala. Agora quem de vocês está disposto à iniciar as apresentações?
Silêncio.
— As apresentações são algo muito simples. Cada um de vocês tem três minutos para falarem o nome, porque estão aqui e o que mais quiserem falar.
Outra vez o silêncio.
— Muito bem. Você. — A Sra. Benson apontou o dedo para a tal Emma, que conversava com Harry no corredor mais cedo. — Comece.
Emma respirou fundo e Harry Schofield apertou sua mão. Desvio o olhar.
— Eu sou Emma Benex e entrei no curso porque meus pais disseram que seria ótimo para superar minha timidez.
— Muito bem Emma. — A Sra. Benson parecia satisfeita. — Assumir a timidez é o primeiro passo. O teatro é uma ótima ferramenta para ter desenvoltura e falar em público. Quem é o próximo? Você, gostaria de ser a próxima?
Eu? Agora? Limpei a garganta antes de começar a falar.
— Meu nome é Isabella Sophie Young. E estou aqui por causa da minha mãe. Ela acha que eu preciso trabalhar minhas emoções. — Falei.
Mas eu não vou ficar aqui por muito tempo. Vou frequentar as aulas até minha mãe resolver mudar de ideia. Sorrio para mim mesma.
Kim comprimiu uma risada. Eu olhei feio pra ela. Por que você acha que minha mãe não vai mudar de ideia? Posso saber?
— Aproveite as aulas Isabella. — Voltei a olhar para a Sra. Benson. — E leve o que aprender aqui para sua vida intelectual e psicológica. Muito bem, quem será o próximo?
Kim e Harry levantaram a mão simultaneamente.
— Você primeiro. — Harry disse para ela.
— Eu sou Kimberly Stewat, mas podem me chamar de Kim. Eu decidi fazer teatro porque um dia quero me tornar uma atriz mundialmente famosa. Eu fico imaginando como deve ser saber que as pessoas procuram meu nome no Google e nas revistas, deve ser incrível.
— Espero que mude sua forma de pensar ao longo dá convivência com a turma, Kimberly.
Harry levantou a mão.
— Pode falar. — Disse a Sra. Benson.
— Meu nome é Harry Schofield. E eu acho que a sensação de subir no palco, receber os aplausos, e ser reconhecido é realmente indescritível. Mas ninguém deve usar o teatro para ficar famoso. Eu mesmo não quero ficar conhecido apenas por ser mais um “rosto bonito” — Harry fez aspas com as mãos. — Eu quero ser reconhecido pelo meu talento.
No final das apresentações a Sra. Benson resolveu nos poupar da baboseira de ouvir seu famoso discurso sobre "Eu vivo e respiro o teatro". Que eu sei que ela faz. A Sra. Benson instruiu que tirássemos os sapatos (tive sorte das minhas meias de listras azuis e amarelas estarem em perfeito estado) e ficássemos de pé. Pernas na largura do quadril, joelhos levemente dobrados, ombros relaxados e braços ao lado do corpo. Os exercícios começaram pela respiração. Inspira, levanta os braços. Segura o ar nos pulmões. Expira, abaixa os braços. Depois tivemos que aquecer os músculos do rosto fazendo caretas bastante exageradas.
A parte que eu mais gostei foi de aquecer os lábios, fazendo barulho de motor de caminhão "brrrr" e ver saliva voar por toda a sala.
★★★
Entrar em casa foi o ponto alto do meu dia. Na saída do colégio o motor do Besouro morreu; por isso tive que vir andando até aqui. Eu estava sentada na bancada de mármore em um banco de pernas altas, abraçando uma almofada colorida que trouxe do sofá, enquanto mamãe raspava o arroz queimado do fundo da panela com uma colher.
— Como foi sua primeira aula, Isabella? — Mamãe largou a panela dentro da pia e me encarou enxugando as mãos no avental florido, os olhos brilhando em expectativa.
— Foi legal. — Eu disse.
— Como está se sentindo?
Parei de brincar com as continhas da almofada.
— Normal. — Eu disse.
— Só normal?
— Sim. Desculpa.
Não sei por qual motivo estava me desculpando, se era por responder mamãe com palavras vagas ou por não ter dito o que ela queria ouvir. Talvez: Depois dessa primeira aula descobri que o teatro não é apenas o meu sonho, mãe. É também o meu futuro.
Sorrio com ironia.
Mamãe sorri para mim. Ela tirou o avental e foi até a sala, quando voltou trazia nas mãos um envelope negro.
Meu coração acelerou na hora e o típico frio na barriga me atingiu em cheio. Esses bilhetes me deixam nervosa.
— Encontrei na porta logo depois que você saiu. — Ela disse. — Acho que é mais uma do seu admirador misterioso.
— Sabe, mãe. Eu acho que você tá mais interessada nesse cara do que eu.
Ela ri.
Ela me entregou o envelope. Eu fiquei encarando o negro do papel, que parecia que queria me engolir a qualquer momento e me afogar em meio as palavras do cara misterioso.
A porta da sala foi destrancada e meu pai entrou carregando uma pilha de pastas de papel.
— É melhor guardar o envelope. — Sugeriu mamãe.
Escondi o envelope dentro da blusa e corri para o meu quarto. Esperando que meu pai não me visse ou até mesmo que me ignorasse.
No quarto, guardei o envelope negro dentro da mochila e entrei no banheiro disposta a tomar banho. Aproveitei para lavar o cabelo e escovar os dentes. Voltei para o meu quarto de pijama e com uma toalha branca enrolada na cabeça. Sentei-me na cama, trazendo comigo minha mochila.
Decidi tirar o tempo livre que tenho para estudar, sempre gostei de me adiantar nos conteúdos, assim eu evito distrações que podem me atrapalhar nas matérias. Quando puxei minhas anotações o envelope negro caiu entre minhas pernas.
Talvez lê-lo não seja má ideia.
Percebi que os envelopes tem vindo sempre aos sábados no mesmo horário. Eu queria ficar na sala espiando pela janela para ver quem os mandava, mas isso acabaria com todo o mistério e expectativa de esperar sempre por mais um. O primeiro envelope que recebi no começo de janeiro, ri ao ler as palavras "Para minha amada, que não sabe que é amada".
Quem diabos, em pleno 2017 escreve cartas a mão ao invés de mandar e-mail? Ele, meu admirador misterioso. Ele escreve cartas. No começo eu achava que era apenas mais um idiota do colégio me enchendo o saco, mas depois eu até que comecei a gostar disso.
Desdobrei a folha.
Para minha amada, que não sabe que é amada
Hoje te vi usando amarelo e não pude deixar de sorrir. O amarelo é uma cor viva, vibrante assim como você. E olha só a ironia...
★★★
Acordei com o barulho de pedrinhas sendo jogadas no vidro da minha janela. Estico o braço tentando encontrar o rádio-relógio na mesinha de cabeceira. 12:33 piscava em verde. Puxo o cobertor e me cubro até a cabeça.
As pedrinhas voltaram a ser atiradas. Levanto da cama e afasto a cortina o suficiente para perceber que a janela de Harry Schofield estava aberta e a luz do quarto acesa. E o que mais me impressionou. Harry. Ele estava sentado na cama segurando um caderno e uma caneta marcador preta da mesma maneira que fazíamos à 6 anos atrás.
Obrigada por terem lido.
Espero que tenham gostado ❤Ah, e não esqueçam de comentar e votar.
Beijinhos de gliter meus amores
😘😘😘
Até o próximo capítulo.
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Perseguindo Estrelas
RomanceHarry e Isabella eram amigos inseparáveis desde crianças, dividiam a mesma barraca no quintal à noite para admirar as estrelas e inventavam codinomes para quando fizessem besteiras e precisassem de ajuda. Anos depois, o destino fez com que ambos se...