Não nevava muito quando eu sai de casa, e apesar do casaco e das três blusas que coloquei, o vento conseguiu encontrar uma brechinha para entrar através das roupas e me incomodar.
Arrumo minhas luvas e meu cachecol.
O frio foi momentaneamente esquecido pelo barulho dos pneus do ônibus sibilando no asfalto molhado e pela porta que o motorista, o Sr. Norman, abria para os estudantes.
Procurei um lugar vazio ou Kim em meio aos alunos e sentei no fundo. Girei o pescoço, e espiei a janela de trás. Kim não veio, mas Harry está aqui. Suspiro de alívio. Eu tentei chama-lo para sentar comigo, mas minha voz saiu abafada pelo Sr. Norman que engrenou o ônibus. Harry sorriu e acenou para mim. Ele sentou em um dos acentos da frente.
As vezes minha vida é um saco.Observo pela janela a Northwestern se afastar. Nosso próximo destino é Dawntown e de lá vamos seguir pela Bloor Street no sentido oeste.
Pela visão periférica notei que alguém deslizou para o meu lado no acento. Será...?Não. Não é Harry. É Emma Benex.
Sorrio para ela.E tenho total consciência de que esse sorriso não chegou nos meus olhos.
— Oi — disse Emma. — Você vai sempre ao High Park?
— Não — respondi. — Mas é minha primeira vez vindo nesse dia. — E só vou porque Harry me convidou.
— Ah.
O dia de São Valentim é fantástico. Vejo casais se beijando nas ruas. Grandes gestos românticos. Presentes caros. E pessoas que simplesmente odeiam esse fadico dia. Tipo eu, enfornada dentro desse ônibus lotado de adolescentes de rostos sonolentos e por Caroline Funck's, que nesse exato momento cambaleava pelo corredor entregando os cartões.
— Jack Winslow? Pega. Tá perfumado. E Kate Gordon. — Caroline olhou pra mim. — Foi mal, Isabella. Não tem nenhum cartão pra você.
Óbvio que não tem. Eu recebi antecipadamente o meu cartão.
— Tem certeza que não é como Emma Benex? — ela debochou.
O quê?
Emma Benex é uma das calouras (se não a única) que nunca namorou com ninguém da Northwestern.
O que isso tem haver?
Emma é do tipo de garota pequena, magra e delicada, de nariz empinado. Seus cabelos castanhos eram puxados de qualquer jeito para um coque no alto da cabeça. Emma também não sabia combinar roupas e roía unhas.
Eu não sou como ela.Massageio as têmporas.
— Caroline — digo em tom de aviso. Faça-me o favor de esconder essa sua língua venenosa e bifurcada dentro da sua boca.
— Como é que é?
— Controle suas idiotices — murmuro entre dentes.
Fico incomodada com os atos maldosos dela. E de saco cheio também. Se Caroline não calar a boca, eu sou capaz de tacar-lhe minha cópia do livro do Garfield (presente do meu pai quando eu tinha 10 anos) com exatas 624 páginas bem no meio da testa dela.
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Perseguindo Estrelas
RomanceHarry e Isabella eram amigos inseparáveis desde crianças, dividiam a mesma barraca no quintal à noite para admirar as estrelas e inventavam codinomes para quando fizessem besteiras e precisassem de ajuda. Anos depois, o destino fez com que ambos se...