Perseguindo Estrelas

CAPÍTULO QUATRO

Para as estrelas.

Quando Harry me disse para onde estávamos indo ele esqueceu de mencionar que na verdade íamos caminhar ao redor do Rio Avon em Likes de Drive e observar os cisnes e os patos dormirem durante a madrugada gelada. Harry trouxe um cobertor vermelho do carro e o estendeu sobre a grama ainda coberta pela neve.

- Isabella, você não faz ideia de como eu me sinto vindo aqui.

- Você tem fetiche em olhar os patos dormirem. - Falei. - O que tem de mais nisso? Claro, desde que não desenvolva nenhuma vontade de correr com uma faca e mata-los, isso é normal.

- Não tem nada a ver com matar patos, Isabella. - Ele disse. - Eu gosto de patos. É que as estrelas daqui parecem estar mais perto de nós, do que na Willow St - Harry sentou-se no cobertor, junto-me a ele. - São as luzes da cidade que deixam elas... Apagadas. Mas, é uma pena que o tempo não colaborou comigo essa noite.

Harry se arrastou até ficar sentado do meu lado, estávamos muito próximos e eu gostei disso.

Ele continuou:

- Gosto de vir aqui, pra pensar. Quanto mais escura é a noite mais brilhante as estrelas parecem ser. Sempre gostei de olhar para cima e me perder no escuro, parece que as estrelas olham de volta pra mim.

Encaro Harry.

- Isso é ridículo, não é? - Ele ri.

Ele está sorrindo pra mim (bom, eu quero pensar que seja pra mim). Se eu colocasse Harry Schofield de pé no ponto mais alto da cidade, eu sei que o sorriso dele iluminaria Stratford inteira. Esse sorriso que só ele sabe sorrir, é o motivo pelo qual abro minha janela todas as manhãs.

- Não. - Respondi.

- Faria mais sentido se as estrelas estivessem aparecendo. - Ele deu um sorrisinho. - Se não encontrares alegria nesta terra, procura-a irmão para além das estrelas.

- É lindo. Parece uma citação. De quem é? - perguntei.

- Platão.

Abraço meus joelhos e encaro o céu escuro. Eu queria ser como aquelas meninas que tem assunto o tempo todo quando estão com garotos, mas não sou, minha língua escolheu ficar amarrada justo agora. Depois de três longos anos, finalmente Harry Schofield me convidou para sair com ele e eu fico parada feito uma pedra.

- Um pirulito por seus pensamentos.

A voz de Harry me trouxe de volta para a realidade.

- Desculpa. O que dizia, mesmo?

- Não era nada importante.

- Me fala o que era - insisto.

- Olha pra cima. Tá vendo?

Um relâmpago clareou nossas cabeças.

- Vai chover - eu disse.

- Provavelmente - respondeu ele distraído, olhava fixamente para um ponto distante no céu. - Atrás dessas nuvens escuras tem a Via Láctea, às vezes eu penso que posso toca-la, é só esticar minha mão. Sabe, a estrela Sirius é como você, Isabella; brilhante e inalcançável. Isabella. - Harry pronunciou meu nome de uma forma diferente, parecia acariciar com a língua cada uma das letras. - Um nome tão brilhante quanto a menina que o carrega. - Ele me disse. Em resposta prendo a respiração.

Então Harry fez uma coisa que eu nunca imaginei que ele fosse fazer. Ele puxou minha mão e depositou um leve beijo nos nós dos meus dedos. Por dentro eu estava dançando como um coala tocando flauta em cima de um elefante cor-de-rosa. Por fora eu estava como deveria estar. Controlada.

Soltei o ar. Se isso não é uma declaração disfarçada de aula de astronomia, eu não sei o que é.

- Sabe muito sobre as estrelas, não é? - Comentei na tentativa de deixar de ser o foco da conversa. Minhas bochechas estavam ardendo.

- É bom ir se acostumando comigo, Isabella. - Harry cruzou as pernas e se apoiou com os braços. - Aprender sobre as estrelas é como andar de bicicleta ou ter te conhecido. Eu nunca esqueci.

O que quer que eu fosse falar naquele instante morreu na minha garganta, no momento em que o barulho do trovão ecoou pelo céu.

- Eu posso falar uma coisa? - Perguntei. - É rápido.

- Diz, ai. - Ele falou.

- Vai chover.

E como se fosse cena de filme, as primeiras gotas de chuva caíram sobre nossas cabeças. Eu bem que avisei. Vou ficar ensopada e a culpa é toda dele.

Mas eu não me importo tanto assim.

Obrigada por terem lido!
Espero que tenham gostado ❤