Na sexta-feira assim que meus pais chegaram do trabalho eu comecei a tramar uma desculpa para ficar em casa amanhã. Jantamos espaguete a bolonhesa e eu segurei o garfo meio desajeitada para fingir que estava cansada. Quando meus pais perceberam eu dei a cartada de mestre dizendo que estava com dor no estômago, e sai da cozinha sem terminar de comer. Por sorte eu tinha escondido alguns pacotes de bolachas na gaveta do meu armário. Com fome eu não vou ficar.
O resto da noite tentei usar meu tempo de fazer a lição para encontrar no Google algo que me ajudasse a mentir melhor (alguma ideia de como fingir uma doença que não tenho). O tempo todo eu só conseguia pensar na voz em minha cabeça que dizia: SOU UMA PÉSSIMA FILHA. SOU UMA PÉSSIMA FILHA. Meus pais são tão bacanas, tão gente boa, que chego a repensar se devo engana-los de novo.
Não.
O que é que estou dizendo?
Tudo é por Enrique.
Tudo é pelo P.E. Talvez ele finalmente se declare pra mim amanhã.
Escuto baterem em minha porta e me assusto. O mais rápido possível largo o laptop e corro para minha cama, me cobrindo até o queixo. Era minha mãe, ela trouxe leite quente e me obrigou a tomar até a última gota. Quando ela saiu eu ainda estava um pouquinho eufórica por amanhã. Mas logo adormeço.
Na manhã seguinte pulei da cama as cinco e meia, calcei minhas pantufas e me esgueirei sorrateiramente até o armário da cozinha. Antes que meus pais levantassem e me flagrassem corro para o meu quarto com um pacote de aveia e um copo com água. Minha ideia tem que funcionar, caso contrário vou estar bem encrencada.
Sentei na cama, sentindo a onda de tensão me atingir, provavelmente assim que minha mãe acordar vem ver como estou. Instantes depois senti meu coração sair pela boca quando ouvi mamãe me chamar do outro lado da porta.— Izza?
Com a respiração agitada entro no banheiro e enfio a aveia e água na minha boca. Minhas mãos tremiam compulsivamente enquanto eu escondia o pacote de aveia e o copo dentro do armário embaixo da pia, corri para a minha cama.
— Bom dia, filha — ela invadiu meu quarto.
E num ato totalmente doido eu me viro e abro a boca, despejando o vômito falso no chão.
— Desculpa — limpo a boca com as costas da mão.
— Como está se sentindo, Izza? — pergunta ela, provavelmente intrigada por eu ter vomitado tão de repente.
— Mais ou menos — balbucio, tentando me concentrar para não falar nenhuma besteira.
Dou uma fungada, que pareceu bem real pra mim.
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Perseguindo Estrelas
RomanceHarry e Isabella eram amigos inseparáveis desde crianças, dividiam a mesma barraca no quintal à noite para admirar as estrelas e inventavam codinomes para quando fizessem besteiras e precisassem de ajuda. Anos depois, o destino fez com que ambos se...