Capítulo IX - Caçada

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'Que essa palavra nos aparte, ave ou inimiga!' eu gritei, levantando ­ 'Volta para a tua tempestade e para a orla das trevas infernais! Não deixa pena alguma como lembrança dessa mentira que tua alma aqui falou! Deixa minha solidão inteira! ­ Sai já desse busto sobre minha porta! Tira teu bico do meu coração, e tira tua sombra da minha porta!' E o Corvo disse: 'Nunca mais.'

Edgar Allan Poe


— EU NÃO IMAGINEI QUE VOCÊ VIRIA HOJE.

Tsunade comentou, enquanto olhava preocupada para o homem que caminhava ao seu lado. Ela havia conhecido Itachi quando ele ainda era apenas um garoto. Um garoto perdido, tentando fugir de um destino que não achava que deveria ser seu.

Aos seus olhos, por mais que ele crescesse, ele sempre seria esse garoto.

— Então você leu os jornais.

Sua voz era fria, monótona, como se não fosse nada. Como se ela não o conhecesse o bastante para saber que não era bem assim. O quanto ele devia estar gritando por dentro naquele instante.

— Impossível não ler esse sensacionalismo podre, está em todo lugar. E eu conhecia o pai do garoto. Eu realmente pensei que você estaria no rastro como um cão de caça agora. — Ela falou curiosa, enquanto seguia pelo corredor da clínica, em direção a sala de atendimentos.

— Temos um trato.

A mulher bufou.

— Você não precisa de mim, agora tem uma pista fresca daquele maldito.

— Não sou tolo a ponto de pensar que não preciso de ninguém, Tsunade. — Ele parou na porta e pegou a maçaneta. — Ainda preciso da sua ajuda.

Ela olhou desconfiada. Tinha mais ali. Sabia o quanto Itachi odiava aquele tipo de lugar, e se não fosse a necessidade nunca teria pedido para o garoto atender ali.

O problema inteiro começara há dois meses, quando um dos funcionários denunciou a ela que encontrou um dos internos amarrado na cama e dopado, com estranhas marcas no corpo. Ela tentou averiguar o culpado, em vão. E o funcionário desapareceu no outro dia.

Outro dia foi uma suspeita de abuso sexual, mas o paciente foi transferido antes que pudesse verificar a verdade, a família cortando contato e o caso foi abafado. Notou a piora em alguns pacientes depois disso. O dono do lugar mandou ela esquecer a história, mas Tsunade viu o caso de abusos aos pacientes aumentar gradativamente, e nenhum nome foi encontrado.

Ela estava de mãos atadas, e desconfiava que se o dono queria abafar o assunto, queria dizer que ele podia saber quem era, e devia ser algum dos médicos do lugar. Os pacientes não falavam, mas ela sabia que se existia alguém que poderia fazê-los falar seria Itachi. Ele sempre foi bom nisso, em ganhar a confiança dos outros.

— Está faltando um paciente. — Itachi lhe tirou dos devaneios, olhando as pastas. — Onde está a pasta do Namikaze?

— Ele não apareceu hoje. — Suspirou, aquele garoto era um problema. Estranhou o olhar de Itachi, de repente pensativo. Arqueou a sobrancelha loira curiosa. — Ele voltou a falar com você?

A face dele havia voltado a seu normal ao falar, mas a curiosidade da mulher já havia sido atiçada.

— Sim. Se ele aparecer avise. — Falou calmo, entrando na sala, fugindo de mais perguntas.

Tsunade ficou um tempo olhando para a porta, com vontade de puxar as orelhas daquele idiota por a deixar falando sozinha. Mas estava mais curiosa sobre aquele olhar no jovem Uchiha. Fazia muito tempo que não havia visto aquele olhar.

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