Capítulo XXVII - Tempestade

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E de todas as torturas acabou-se a pior,

a terrível tortura da sede do fulgurante rio da maldita paixão.   

Bebi a água que mata qualquer sede.

Edgar Allan Poe


ITACHI ANUNCIOU SUA CHEGADA, pendurando seu casaco e sua bolsa no cabide, deixando a capa de chuva do lado de fora, pingando. Caia um temporal em Konoha, típica chuva de verão.

Arqueou a sobrancelha quando Sasuke não veio correndo de dentro dos quartos ao ouvir sua voz, como sempre, para contar algo da escola, ou, o que era mais comum, reclamar de Shisui.

Estava tudo muito...quieto.

— Pegamos dessa vez!

Percebeu as sombras que vinham por trás da estátua da entrada (um dos gostos estranhos de Madara), e quando deu por si estava derrubando os dois atacantes no carpete que levava a sala.

—Menma! A gente não anuncia antes de atacar, seu idiota!

Ouviu o grito raivoso do irmãozinho e riu, tendo os dois garotos caídos de bunda no chão, Sasuke bem seguro abaixo de si.

— Boa sorte da próxima, Sasuke. — Zombou, e foi quando sentiu dois bracinhos em seu pescoço por trás.

No susto quase caiu para frente quando sentiu o peso em suas costas.

— Naru pegou ele! Bom trabalho! — Menma falou vitorioso e Itachi se ajoelhou, virando o outro de frente e viu os grandes olhos azuis e o sorriso brilhante a centímetros do seu rosto.

— Ao menos um de vocês três sabe fazer uma emboscada. — Ouviu a voz de Obito na sala e viu que Madara tinha visitas. Os pais do garotinho estavam lá.

— Claro que ele sabe. — Itachi falou, sentindo os braços em seu pescoço, o abraçando apertando, lhe dando boas-vindas.

Ergueu-se de onde estava de joelhos e balançou o outro no ar, ouvindo a risada alta e bonita, enquanto fazia cócegas, só para ouvir mais daquele som, mesclado com as outras risadas que tomavam a sala.

— Ele sempre sabe de tudo!

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Itachi não dormiu, mesmo que o cansaço estivesse lhe pesando.

Ouviu o barulho suave da chuva pela janela, sem ter certeza de quanto tempo havia se passado. Eles não conversaram após o que ocorreu, nenhum deles bem o bastante para isso.

Naruto havia adormecido usando seu braço como travesseiro. Mesmo com a dormência que sentia, não o removeu pelas horas que se seguiram. O observou silenciosamente. Os cabelos loiros estavam caindo suavemente ao redor do rosto sereno e cansado, o fazendo parecer diferente durante o sono, mais jovem.

As mãos dele caídas entre os dois, alcançou uma delas com a sua. Contornou a cicatriz no pulso de forma suave e, quando levantou os olhos, ele o fitava intensamente. Itachi parou o carinho, prevendo alguma reação de rejeição a qualquer toque agora que a situação de estresse havia passado, mas Naruto o surpreendeu mais uma vez, prendendo os dedos entre os seus, não se afastando nenhum centímetro.

Os olhos azuis estavam fixos nos seus, os rostos a poucos centímetros de distância um do outro. As mãos menores começaram a brincar com seus dedos. A única e pouca luz no quarto vinha da janela de vidro ao lado, passando por entre as cortinas brancas. Os olhos azuis não largavam os seus e havia uma tristeza absurda neles.

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