Capítulo XXXI - O balseiro

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No alto, em longo crepitar, se atiram para o ocidente as plúmbeas nuvens, rolando em catarata, por sobre o ardente muro do horizonte.

Edgar Allan Poe

TOBIRAMA HAVIA CRESCIDO EM UMA FAMÍLIA RELIGIOSA E CONSERVADORA.

Sua mãe era uma mulher bondosa, mas submissa. Seu pai era um bom homem da comunidade e era um bom pai para Minato, o filho que acreditava ser o menos problemático. Ele havia sido um bom pai para Tobirama também, à princípio. Antes de começar a acreditar que existia um demônio dentro do seu filho.

Quando tudo começou, Tobirama nem mesmo compreendeu ao certo o que acontecia. Ele pensou que eram seus amigos imaginários. Sua mãe, uma Namikaze, nunca havia herdado a maldição da família, que só passava para os membros homens do clã. Ela também havia falhado em contar ao marido sobre a situação, temendo que ele fosse desistir dela.

Por amor, ela se alienou da família e colocou uma pedra na história Namikaze.

Era uma pena que o destino tinha outros planos.

A primeira vez que um fantasma o machucou, Tobirama tinha 5 anos. Seu pai não acreditou nele.  Nas outras vezes, a situação não mudou. E quando ele começou a contar as coisas que os fantasmas lhe diziam, eles ficaram terrivelmente perturbados. Os detalhes eram grotescos demais para serem inventados, apesar da sua mãe alegar isso.

Tobirama, que havia nascido albino, já era olhado torto pelos membros da comunidade, como se fosse fruto de um castigo para seus pais. Sua pele pálida, seu cabelo branco e, pior de tudo, seus olhos vermelhos, eram vistos com maus olhos.

Eventualmente seu pai começou a acreditar que o filho tinha algo de ruim nele. A temperatura que diminuía ao redor dele, as conversas sozinho, os arranhões que surgiam de nada em seus braços, o constante pavor e nervosismo. Ele gritava do nada, ele estava sempre mentindo. E então vieram as idas a igreja, os padres em casa. Quando ele tentou praticar um exorcismo no filho a relação dos dois acabou.

Tobirama, aos sete anos, aprendeu que não poderia nunca contar com os pais para nada, que ele nunca teria a compreensão deles. Ele sempre ficaria sozinho.

Então Minato nasceu.

Minato era o filho favorito dos pais, que haviam decidido que o filho mais velho não existia. Tobirama morava em um quarto fora da casa com tantas cruzes dentro que podia até ser engraçado. A porta tinha uma tranca por fora e ele raramente saia de lá, a não ser para as visitas do padre.

Minato tinha um quarto grande no andar de cima, podia ir para a escola e nem mesmo sabia da existência do irmão até os três anos, quando perguntou quem era o garoto estranho que havia visto no quarto dos fundos.

E ainda assim, Tobirama amava Minato. Ele amava seu irmão que ia o visitar escondido a partir do momento que descobriu sua existência. Ele amava Minato por ele o amar e ser o único que fazia isso. E foi por isso que quando Minato começou a ter as visões, Tobirama o proibiu de contar aos pais.

Minato sempre foi tão otimista e brilhante, tão inocente para as coisas feias do mundo, apesar das visões de morte. Ele não via o que Tobirama via. Ele não via o quanto o mundo era um lugar cruel e feio, o quanto o pai deles era um monstro e a mãe dele não amava os filhos o suficiente para os salvar  do marido. Minato não sabia odiar, como Tobirama sabia tão bem.

A única pessoa que Tobirama amava era Minato, ele faria qualquer coisa por ele.

Enquanto eles ficassem juntos, Tobirama sabia que as coisas ficariam bem.

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