Capítulo XXI - Você vai morrer

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A verdadeira infelicidade – o supremo infortúnio – é, na verdade, particular.

É o sofrimento bem perto. De um só conhecido.

Os extremos medonhos da agonia são sofridos pelo homem isoladamente

e nunca pelo homem na multidão.

Edgar Allan Poe

ERA UMA MANHÃ CINZENTA.

Uma chuva fina castigava o cemitério e as pessoas que estavam ali. O pequeno estava recostado contra o corpo do irmão, uma mão do mais velho reconfortante em seu ombro, a outra segurando o guarda-chuva escuro acima dos dois.

Todos estavam silenciosos. Não havia choro algum, nem mesmo da sua mãe parada mais à frente na lápide recém construída, observando a terra ainda remexida. Seu rosto parecia cansado, os olhos violeta sem brilho algum. Menma olhou para o lado, onde Tobirama se mantinha mais próximo dos sobrinhos. Não havia nada legível na face do tio, em sua roupa escura alinhada e seus olhos vazios.

Eram como estátuas do próprio lugar, de tão parados e silenciosos.

Menma grudou os olhos na mãe, nos cabelos vermelhos recém cortados na nuca, suas roupas escuras. Desde que o irmão mais novo acordara no hospital, ela não conseguia olhar a criança. Menma imaginava que fosse pela semelhança gritante entre Naruto e Minato, e queria acreditar que seria passageiro. Naruto não merecia sofrer mais do que já estava, sobre algo que não entendia.

Olhou para baixo e viu a cabeleira loira cacheada, a mão apertando a sua e estranhamente silencioso. Seu rosto pequeno parecia pálido demais, o que deixava a marca de estrangulamento em seu pescoço ainda mais evidente.

Ele não merecia isso. Nada disso.

A mão deles não podia abandonar Naruto. Não. Ela nunca faria isso, certo? Diferente de Menma, o caçula amava Minato. O amava tanto que se negava a acreditar que o pai tivesse tentado o matar mais de uma vez. Perder os dois...Sua mãe não faria isso.

— Vamos para o carro.

A voz de Tobirama o tirou do torpor e virou a tempo de vê-lo caminhar para o carro ao lado da mãe deles, que nem mesmo os olhou, parecendo alheia a tudo. Esperou alguns minutos o pequeno se mover, até que lhe apertou o ombro magro.

— Temos que ir. — Disse com suavidade. O loirinho não respondeu, olhando fixamente para a terra remexida. — Naru...está muito frio. Vamos...

— Menma, a mamãe me odeia?

A pergunta o pegou de surpresa e travou no gesto que fazia para caminhar com o mais novo. Com a demora da resposta o garotinho se virou para o encarar, os olhos azuis estavam confusos, desvendando o silêncio do mais velho com desespero.

— Claro que não! — Tentou soar confiante, curvando as costas para fitar o outro de perto. — Por que ela odiaria você?

— Porque to-chan morreu por minha causa. — A voz do outro saiu baixa, sussurrada, e novamente pegou o mais velho de surpresa.

—Quem lhe disse uma coisa dessas? — Menma perguntou debilmente. Viu um brilho de medo nos azuis. Sabia que o irmão não iria tirar aquela conclusão do nada, alguém havia falado algo para ele.

— Naruto?

O outro negou balançando a cabeça, os olhos marejando. O segurou pelos ombros o obrigando a olhá-lo.

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