Capítulo 17

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Os dias sem Fantine pareciam uma eternidade a se passar. Não conseguíamos estar sempre conectadas ao mesmo tempo, pois sempre acabávamos dormindo cedo ou tínhamos outras coisas ao longo do dia para fazer. No final da semana eu viajaria ao Rio de Janeiro novamente para apresentar-me junto com Aline, então a semana acabou sendo curta para virarmos as noites nos comunicando.

.....

Sexta-feira, 21h00 - Rio de Janeiro.

Como nosso concerto seria apenas numa casa de festas, não houve necessidade de nos deslocarmos a algum hotel, já que Aline ofereceu para André - meu assessor - e eu ficarmos em sua residência. Tomamos o voo no início da noite, pois André ainda precisava organizar algumas papeladas.
Já havia estado na casa de Aline outra vez, no feriado de Páscoa e preciso dizer que me fazia bem estar rodeada de tanta natureza e animais. Assim que cheguei, cumprimentei a todos e Aline indicou meu aposento. Larguei minha pequena bagagem e me dirigi a sala. Passamos a noite entre conversas e lambidas de seus cães. Antônio, filho de Aline, acabou adormecendo e Igor, seu esposo, o levou para a cama. André decidiu sair para conhecer a agitada vida noturna e com isso apenas Aline e eu ficamos acordadas
- Sua casa me faz me sentir tão zen, Aline - Falei
- É o contato com a natureza. Quando estávamos nos mudando, decidimos escolher este terreno pela proximidade com a floresta. Antônio possui todo um terreno para crescer e assim aprender a ter respeito pelas plantas e animais
- É bom criar os filhos assim. Cresci rodeada dos animais e me sinto ainda presa no apartamento, sem esse contato direto - falei. Meu celular apitou no mesmo instante. Fitei o visor e vi que era uma mensagem de Fantine, dizendo que estava com saudades. Não contive o sorriso e tratei de respondê-la logo, afinal estávamos ambas online na mesma hora.
- Que sorriso é esse, Luciana? - Aline questionou. Droga, pensei para mim mesma, esqueci completamente que Aline estava perto
- Nada não - Sorri amarela, disfarçando. O telefone voltou a vibrar, dessa vez com uma ligação de Fantine. Recusei e ela insistiu novamente.
- Amiga, se você precisa atender, fique a vontade - Falou, indicando o celular que voltava a tocar.
- Tá tudo bem, Willy. Não é importante - menti.
- Mamãe - Falou uma vozinha ao longe. Virei o corpo e avistei Antônio ao pé da escada - Não consigo dormir - Disse, com voz manhosa.
- O que aconteceu, Caramelo? - Questionei, ao vê-lo se aproximar
- Tive sonho ruim - falou, já com cara de choro
- O meu amor, foi só um sonho - Falou Aline, já o tomando nos braços.
- Você sabe o que a tia Lu faz quando tem sonho ruim? - Questionei-o, já mexendo em suas mãos pequeninas
- O quê? - Perguntou, curioso
- Eu fecho os olhos bem forte, digo pro papai do céu me cuidar e canto uma musiquinha que minha mamãe cantava pra mim quando eu tinha a sua idade - Falei e seus olhos pareceram interessados na fórmula
- Como é? - Indagou, referindo-se a música
- Você quer que tia Lu cante? - questionei
- Sim - pediu. Cantarolei a melodia e ele sorriu.
- Filho, por que você não deita na caminha e a tia Lu canta a musiquinha pra você dormir? - Propôs Aline.
- Tá bom, mamãe - Concordou Antônio, descendo de seu colo.

Deixei meu celular na mesa ao vê-lo aproximar-se de mim e me levantei. Sorri quando ele esticou o bracinho, tomando minha mão e indicando o caminho da escada. Subimos ao seu quarto e Antônio deitou na cama. Agachei-me ao seu lado e voltei a lhe explicar o segredo de afastar os sonhos ruins:
- Fecha os olhinhos, Caramelo - indiquei e ele o fez. Afaguei seus cabelos - agora pede pro Papai do Céu te cuidar bem cuidado
- Cuida do Antônio, Papai do Céu - Falou, juntando as mãozinhas. Derreti naquele instante, precisando segurar para não rir.
- Muito bem, agora relaxa - Falei e cantarolei a canção novamente. Senti que aos poucos sua respiração foi ficando mais leve e ele já não se movimentava mais - Caramelo - sussurrei. Não obtive resposta e concluí que ele já havia adormecido.

Depositei um beijo rápido no topo de sua cabeça, apaguei o abajur e saí do quarto. Tateei o bolso de meu shorts a procura de meu celular para responder as mensagens de Fantine, porém para o meu espanto, não o encontrei. Vasculhei o outro bolso traseiro e os dois dianteiros e nada. Voltei para o quarto de Antônio e procurei por cima da cama, mas novamente sem sinal deste.
- Pensa, Luciana, pensa - falei comigo mesma, tentando levar minha a mente a imaginar o possível lugar que o deixara. - droga - sussurrei.

Desci as escadas correndo ao lembrar que o havia deixado na mesa de centro da sala de estar. Quando finalmente cheguei perto da poltrona onde estava sentada antes, Aline me fitava confusa
- Você veio correndo?
- Achei que tivesse perdido o celular
- Está ali - apontou ela, na mesinha
- Obrigada - Respirei fundo, deixando meu corpo cair sobre a cadeira
- Amiga, não é da minha conta, mas Fantine te ligou cinco vezes nesse meio tempo... O que ela quer tanto com você? - Questionou, curiosa
- Na... Nada - Gaguejei. Aline pareceu não muito confiante em minha resposta
- Certeza? Luciana, você sabe que pode me contar. Estão brigando novamente?
- Não, Aline, estamos resolvidas - Até demais, pensei.
- Então por que tanta ligação? - Mal deu tempo de concluir sua pergunta e meu celular voltava a tocar novamente. Pro meu azar, naquele momento, era Fantine telefonando novamente e não o assessor de Tiago Iorc entrando em contato para um possível feat.
- Me dá um minuto - Falei e tomei o celular em mãos. Digitei uma mensagem para Fantine "Fanta, para de me ligar. Estou na Willy e não tenho como atender. Ela já desconfia". - pronto - Disse, voltando minha atenção a Aline
- Luciana, você não está me escondendo nada? Tem certeza?
- Aline - suspirei, já decidida a encerrar o assunto - Tenho certeza. Novamente o celular vibrou, dessa vez com algumas mensagens.
- Luciana - Pausou, parecendo procurar as melhores palavras - Você e Fantine não estão...
- Estamos o quê? - A interrompi, nervosa
- Tendo algo? - Questionou
- O quê? - Soltei uma risada nervosa
- Vocês estão se relacionando? - Sentia meu corpo todo tremer-se e o ar começava a faltar
- Aline, que pergunta é essa? - Ela me olhou e eu suspirei, resignada - Sim
- Sim?! - Exclamou
- Sim, estamos namorando
- VOCÊ E FANTINE ESTÃO O QUÊ? - Gritou
- Aline, fala baixo! - A repreendi - Estamos namorando
- Desde quando?
- Desde o último show, semana passada
- E vocês pretendiam esconder isso até quando?
- Até que tivéssemos certeza de que não faria mal ao grupo
- Como assim, Luciana?
- Pra mídia eu ainda sou casada, Aline. Fantine vive em outro país e possui uma filha. Não sabemos de que forma isso pode afetar a banda e principalmente ao público. Mas você já está sabendo e Carol também
- Carol Caminha? - Questionou e eu afirmei com a cabeça - Luciana, não acredito que você contou para a Carol e escondeu isso de mim - Falou, ofendida
- Carol nos descobriu, Aline. Senão, nem ela saberia - Respirei fundo
- Amiga, você sabe que tem meu apoio, não sabe? - Assenti e ela sorriu - Não vou contar para as meninas, mas acho que vocês não devem temer nada - Sorriu.

Aline aproximou-se e nos abraçamos por algum tempo. Tornamos a conversar e contei-lhe sobre como o relacionamento iniciou. Fantine participou da conversa, via telefone. Após algumas horas, decidimos ir dormir, já que o dia seguinte seria agitado.
Nos despedimos e eu me dirigi ao quarto de hóspedes. Fantine ainda estava do outro lado da linha, mas dessa vez havíamos iniciado uma chamada por vídeo. Deitei na cama e deixei o celular no espaço vazio, brincando que era o seu lugar na cama. Entramos madrugada a dentro conversando até que caí no sono. Fantine observou-me dormir por um curto tempo e encerrou a chamada, me desejando uma boa noite de sono.

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