capítulo 12

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― Claro que minha filha não vai casar de vermelho ― Mamãe esbravejou como se tivesse ouvido o maior impropério da vida. Ela levantou do sofá como se tivesse tomado um choque.

― Você está ficando louca se acha que meu filho vai casar com uma noiva de branco ― Dona Nadira respondeu irritada apontando a têmpora indicando que mamãe estava doida... Se fosse ela não provocava, não conhece a peça irritada ― Mulheres usam brancas quando estão viúvas para indicar a calma e conformismo. O vermelho vai mostrar que sua filha está entusiasmada para a vida que vai começar. Além de ser uma cor que trás auspiciosidade ― A mulher finalmente parou para respirar.

― De jeito nenhum ― Mamãe negou novamente ― Branco. Não abro mão.

Realmente, mamãe não abriria mão de apresentar uma filha de branco para a sociedade carioca.

― Narrin ― Minha sogra exclamou, e a sala parecia cada vez menor. Sentia as paredes brancas de aproximarem de nós e podia ser esmagada a qualquer momento entre enormes placas brancas e os quadros dependurados nas paredes.

Meus olhos passavam de uma para outra no meio daquela disputa para ver quem teria mais desejos atendidos no grande dia. O engraçado é que as partes mais interessadas em momento algum eram consultadas sobre o que gostaria que acontecesse na festa.

Tem sido assim há alguns dias. Minha sogra vendo que não entrava em consenso com mamãe decidiu que ficariam mais alguns dias no nosso país. Para total desespero de mamãe.

Aquela mulher compreensiva que conheci na Índia se transformou por completo quando o assunto era casamento. Ela levava a tradição a sério, entretanto, para nosso desespero, mamãe também levava as tradições de casamento a sério até demais.

― Quando o pai da Sam for acompanhar ela ao altar...

― Espera, e quem disse que alguém vai leva-la ao altar? ― Minha sogra perguntou.

― Claro que sim! ― Mamãe levantou passando a mão na cabeça em um claro sinal de desespero ― Você acha que encontrou minha filha onde?

― Encontrei sua filha na minha terra, e ela está familiarizada com nossas tradições ― Semicerrou os olhos para mamãe ― Uma menina da nossa terra nunca saíria assim de perto dos pais antes de casar.

― Ah sim ― Mamãe ironizou rolando os olhos ― E aí entregam as filhas para um desconhecido....

― Gosta de futebol? ― Papai perguntou a Rajan um pouco mais baixo enquanto mamãe e Nadira discutiam calorosamente.

― Sim! Gostaria que nosso país tivesse um futebol como no Brasil...

― Tem uma Tv no quarto, cerveja na geladeira... Que tal? ― Papai olhou para as mulheres que ainda trocavam farpas.

― Qualquer coisa para fugir dessa guerra ― Ele riu e os dois sorrateiramente levantaram para um programa longe das reclamações e brigas das duas senhoras que não entravam em consenso por nada na vida.

Eu entendia mamãe depois do Ed, jurei que jamais aconteceria nada remotamente similar a casamento em minha vida, então hoje mamãe podia finalmente sonhar sem limites... Bom, poderia, se meu noivo não tivesse uma cultura tão diferente.

― Não quero nem imaginar o que aconteceria com essa festa se eu tivesse voltado para Índia ― Nadira reclamou levando a mão a testa de forma teatral.

― Pois eu estou quase te colocando dentro de uma mala e te enviando para o raio que o parta. ― Mamãe desafiou.

― Porque não fugimos e casamos em Vegas? ― Sussurrei enquanto ouvia mamãe negar a Nadira momentos como a entrega do mel, o fogo e mais qualquer coisa que a incomodasse.

O Bebê da Firanghi [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora