Capítulo 15

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― Dadi está preocupada ― Ravi soltou do nada no meio do jantar fazendo com que meu coração acelerasse. Minha barriga ainda não era possível ser vista, mas já contabilizávamos dois meses, e uma preocupação daquela bruxa velha era sinal de problemas no meu paraíso ― Ela acha que seria bom que o bebê nascesse de acordo com as tradições de nosso país ― Concluiu.

Franzi o cenho ainda assimilando as palavras dele. Esperava de todo coração que a velha não estivesse se oferecendo para passar um tempo conosco. Minha compaixão pela Aish tem limites, e por mais que eu achasse que seria bom para minha amiga manter distância da broaca meu instinto de sobrevivência me diz que eu preciso manter uma distância ainda maior para que nós duas possamos estar seguras.

― Ué, conseguimos alguém para nos casar, isso é simples ― Dei um gole na minha taça de suco antes de continuar ― Achamos alguém para me ensinar as tradições e eu poderei ensinar ao bebê ― Dei de ombros mostrando ao meu marido a praticidade de minha ideia.

Ravi sorriu exatamente daquele jeito que ele sabe me fazer derreter, e imaginei que a batalha estava vencida antes mesmo da necessidade de uma guerra maior se iniciar. Ele admiraria meu empenho em ser uma esposa perfeita para ele, e seguiríamos nossas vidas felizes. Era um bom plano. O melhor deles.

― É mais do que isso, amor ― Ele prosseguiu me encarando como se estivesse escolhendo bem as próximas palavras. Ravi pousou o garfo no prato e se ajeitou na cadeira ― Ela acha que moramos aqui, e já conheço bastante de seu país. Que talvez, fosse bom que o bebê nascesse diretamente na Índia.

Meu queixo caiu igualzinho como nos desenhos animados.

― E eu acho que você vai gostar muito de passar um tempo lá e...

― Espera ― Interrompi erguendo as mãos em um sinal claro de pare. Meus olhos deviam estar esbugalhados ― De onde você tirou a ideia absurda de que eu ia gostar disso?

Semicerrei os olhos encarando meu marido.

― Ué, você mesmo disse que amava a Índia ― Retrucou parecendo um pouco irritado.

― Gostar da Índia, especialmente por ser o país de onde meu marido saiu é uma coisa ― Cruzei os braços acima do peito ― Mudar de país e de vida é outra completamente diferente.

― Não foi exatamente isso que eu fiz por você? ― Ravi maneou a cabeça me encarando meio de lado.

― Você fez isso porque queria mesmo sair da Índia por considerar um país atrasado. Palavras suas ― Ergui as mãos em minha defesa ― Me encontrar foi apenas mais um pretexto para você fazer o que desejava desde o princípio.

― Eu mudei por você, e por te amar, Sam ― Respondeu magoado ― Você não foi um pretexto, foi o motivo maior de minha decisão.

― E você quer que eu mude tudo? ― Perguntei incrédula ― Minha vida está aqui. Mamãe... Sabe quanto magoaria ela que eu tivesse um filho distante de minha família?

― E porque nosso bebê tem que nascer perto da sua família e longe da minha? ― Questionou irritado.

― Porque moramos aqui, ué!

― Sam ― Ravi suspirou pesado jogando o guardanapo em cima da mesa e se levantando ― Isso é importante para mim. Quero que meu filho tenha contato com minha cultura, com aquilo que eu aprendi, e como você mesmo falou, sua família mora aqui, vão poder ver o bebê sempre que quiserem, enquanto meus pais...

Ele deixou que a frase morresse no ar claramente chateado com minha postura diante daquela ideia estapafúrdia. Ravi me deu as costas caminhando para o escritório de nossa casa.

O Bebê da Firanghi [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora