Capítulo 17

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― Sam? ― Acordei com o som da voz de meu marido me chamando cuidadosamente ― Chegamos, amor ― Ele falou assim que abri meus olhos beijando as pontas de meus dedos da mão direita.

Olhei ao nosso redor e percebi as pessoas se levantando formando fila para descer do avião... Também depois de tantas horas praticamente na mesma posição fica difícil não estar desesperado para sair correndo daquela caixinha metálica. Até eu estaria, mas as circunstâncias não me permitiam.

Quer dizer, eu estava com medo. Quem não estaria?

Eu amava quando vinha a Índia visitar os pais de Ravi, o que aconteceu duas vezes ao longe desses anos. Mas uma coisa era vir passar uma semana por conta de algo que meu marido tinha que resolver, outra completamente diferente era vir passar um ano em uma terra completamente oposta a tudo aquilo que vivi.

Das outras vezes que estive na Índia, achei muitas coisas estranhas, mas nunca precisei conviver tanto com pensamentos e tradições diferentes. Nem com a bruxa do oeste. Ravi me disse que ela chegaria amanhã e que não via a hora de finalmente eu conhecer a mulher horrenda que ele chama de Dadi.

Aish, minha amiga e cunhada amava a avó, mas andava sofrendo um bocadinho por causa da velha, e nem quero comentar sobre a avó de seu marido. Se da Dadi de Ravi era a bruxa do oeste não consigo imaginar ninguém ruim o suficiente para descrever a facínora dadi de seu marido.

O que acontece com a sororidade nesse país?

― Vamos? ― Meu marido estendeu a mão para me ajudar a levantar. Aceitei, e assim que me pus de pé Ravi entrelaçou nossos dedos. Peguei a pequena bolsa da cadeira passando por meu braço e agradecendo a Deus pela avó dele chegar apenas amanhã. Me encontrar de calça jeans justa, blusa branca e sandália aberta tão ocidental faria com que a velha tivesse um ataque fulminante certamente.

Hmmmm pensando bem...

Ainda bem que Ravi não lê pensamentos. Sorri.

― O que foi? ― Perguntou me encarando estranho.

― Nada ― levei sua mão cruzada a minha aos lábios enquanto aguardávamos nossa vez de sair do avião ― Só estava pensando bobagem.

― Fico feliz em te ver sorrindo ― Comentou encarando meus olhos e fazendo as borboletas dançarem no ritmo Ragatanta. Anos casada com o mesmo homem, e ainda tem o mesmo efeito em mim que quando nos conhecemos. Será que seria sempre assim?

Hmmmm torcia fervorosamente para que sim.

― Você me disse que daria tudo certo ― Falei tentando soar convincente ― E eu confio em você.

Ravi me olhou daquela forma que eu sabia que acabaria em um beijo, mas o homem horrível atrás de nós na fila reclamou nos fazendo andar. Todo o processo foi até rápido. Mais rápido que eu gostaria, aliás. Por mim tudo seria feito a passos de tartaruga.

O motorista veio nos buscar, e fiquei feliz por não precisar encarar a família indiana já na saída do aeroporto. Meu marido me ajudou a entrar no carro, e depois foi auxiliar o motorista a guardar as malas. Pouco depois já estava sentando ao meu lado. Ele abriu os braços, e me aconcheguei ao seu corpo, depois apertou-me mais contra seu tórax forte.

― Vai ser bem diferente viver aqui ― Ravi passou a mão por meus cachos prendendo-os aos dedos como se fossem molas ― Mamadi vai te ajudar, e tenho certeza que Aish também. Ela vai estar em casa e passar um tempo conosco enquanto seu marido está em viagem.

Assenti para ele suspirando em seguida. Olhei pela janela analisando a diferente imagem ao meu redor e me dando conta de como minha rotina mudaria dali em diante. Nada de sair para trabalhar e ajudar Ravi com os negócios, nada ter amigas para fofocar, nada de biquíni para banhos de mar, nada de mamãe nos momentos que eu precise de consolo, nada de estar de mau humor porque aparentemente as mulheres indianas são sempre felizes, e nada de paz com a bruxa do oeste em meu enlaço.

O Bebê da Firanghi [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora