I - Shift

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Karla C. C. E.

Mudança

Boa, ruim. Pequena, grande. Interna, externa. Bem-vinda, indesejada. Mudança de lugar, mudança de estilo, mudança de vida, mudança de visual, mudança de atitude, mudança de caráter, mudança de espírito, mudança da mudança. Para muitos, necessária. Para outros, temerosa. Para todos, chegada.

Assim se encontrava minha vida nesse exato momento.

De Boston, à Londres.

Me mudei para Londres faz quase um mês. Boston... simplesmente não era pra ser. Não que eu não goste de lá, claro que eu gosto. Só acho que, não era pra mim. Eu acredito em destino e bom, acho que estava destinada a estar aqui.

Contudo isso, em meio a essa bagunça que toda mudança trás, já consegui um emprego. Claramente, a carta de recomendação ajudou bastante, nesse quesito. Não pense que eu estava desesperada atrás de um emprego. Longe disso.

Tenho uma boa renda. Ganhei um bom dinheiro, por ter trabalhado 5 anos, em uma escola particular em Boston. E ainda tem o dinheiro que eu ganho, mensalmente, da empresa dos meus pais. Não é como se eu tivesse muito com o que gastar também, isso ajuda no acúmulo de grana.

Assim que cheguei em Londres, procurei uma imobiliária. Ficar em um hotel por mais de uma semana, mesmo ele  sendo confortável e considerado "tudo de bom" por muitas pessoas, nunca fez parte dos meus planos ficar em um por mais de uma semana. Gosto de ter algo pra chamar de meu, com coisas que eu gosto, com meu estilo, com a minha cara.

Comprei um bom apartamento, bem o meu estilo. E ao contrário de todas as mudanças essa foi organizada. Esse é o lado bom de comprar um apartamento mobiliado, não tem toda aquela coisa de leva e trás. Custou um pouco caro mas é do meu gosto e  não fica muito longe do meu novo emprego. 

Sai de Boston, com apenas algumas malas e o meu jeans rasgado. Não tinha nenhum compromisso lá, vim apenas por vontade. Mudanças são sempre bem vindas sejam elas boas ou ruins, todas são ao nosso favor no final das contas. 

As boas nos trás aquela certeza de ter escolhido o certo e isso nos enche de orgulho. E às ruins, como diz seu nome, não são boas ou fáceis de superar mas elas sempre nos ensinam o que não fazer, nos deixam mais fortes e prevenidos para o mundo. Faz parte da evolução humana mudar não é mesmo?

Daqui alguns dias recomeça minha rotina. Tão diferente mas ao mesmo tempo tão igual. Quer dizer, vou fazer a mesma coisa que fazia mas em um lugar diferente com pessoas diferentes.

( . ) ( . )

Com o passar dos dias sentimentos não bem vindos entram sem pedir licença. Ansiedade e expectativas. Não é como se eu gostasse de senti-los.

A ansiedade faz meu coração acelerar as vezes, me faz roer um pouco das unhas. Como eu posso gostar disso? E junto dela vem as expectativas.

Em que mundo as pessoas gostam de expectativas? Elas só são superadas ou decepcionantes. Se você imagina algo bom, ele se supera por ser ótimo. Se você imagina algo bom, ele te decepciona por ser algo péssimo. Esperar muito de alguma coisa, ou pessoa, nunca é bom. Então, você tenta não pensar muito.

Mas afinal, quem consegue?

E aqui estou com minhas expectativas e ansiosidade. E tudo isso junto faz um aperto se instalar no meu coração um aperto chamado: saudade. Eu sinto saudade. Saudade das risadas altas, das brincadeiras sem sentido, que fazem sentido. Até dos choros e da gritaria, eu estou com saudades.

Deixa eu explicar tudo do começo.

A 10 anos atrás eu estava em uma universidade cursando Artes, mas só como hobby fiz curso de gastronomia também. Minha família tem uma boa qualidade de vida, digamos assim. E como naquele tempo eu era, na verdade ainda sou indecisa, gastei tempo e dinheiro com estudos.

Wrong To HitOnde histórias criam vida. Descubra agora