CAPÍTULO 29 - EU IRIA VER KURT

243 12 0
                                    

L U C Y

Duas semanas sem ter nenhuma notícia de Kurt. Eu nunca fiquei assim, impotente. Sem saber o que fazer ou simplesmente o que sentir. Não sabia se sentia raiva por ele ter me deixado ou saudade de não tê-lo mais por perto. Kurt me despedaçou. Mal deixei meu quarto nesses últimos dias, mas quase todos os dias Lion vinha me visitar. Não sei por qual motivo. Talvez fosse pela enorme disposição de papai tentando fazer com que nos apaixonamos e casamos. Talvez ele esteja vindo me visitar pelo simples motivo de ser obrigado pelo pastor da sua igreja a vir me ver. Ele é um menino legal até. Educado, sempre traz algo pra mim como flores e chocolates. Ele não sabe como eu odeio receber flores. Kurt sabia. Gosto das flores do jeito que são, arraizadas no chão, onde elas tem que ficar. Sempre quando aparecia no meu quarto, carregava um sorriso tímido no rosto. Aos poucos ele foi ficando por mais tempo. Nos primeiros dias ele simplesmente me entregava os presentes, perguntava se eu estava bem e logo ia embora. Hoje ele já fica quase uma hora conversando comigo. Até que passar um tempo com Lion está sendo legal. Já disse pra ele que nossa relação não vai ser nada além de amizade, ainda amo Kurt e sou incapaz de deixá-lo agora.

-Está animada pra volta as aulas? -ele me perguntou, se sentando na beirada da cama.

-Nem um pouco.

O silêncio tomou conta do quarto, isso acontecia as vezes.

-Papai me disse que você vai começar a estudar Veterinária lá também, vai ser o meu calouro então? -tentei quebrar o gelo. Pela primeira vez eu estava querendo puxar algum assunto com ele. 

-Ah, eu ia te contar isso hoje. Fiz a minha matrícula, estou bem animado. O bom é que a Universidade é próxima daqui, dá pra fazer igual você, ir e voltar todos os dias.

Ele me deu um sorriso sincero. Parecia empolgado.

Nossa universidade era bem perto mesmo, na cidade vizinha e eu sempre fazia o percusso em quarenta minutos ou menos.

-As aulas começam na segunda. 

-Sim. -falei desanimada.

-Você vai no culto amanhã? Já tem duas semanas que não te vejo lá.

Amanhã já era domingo de novo?

-Acho que não vou. 

Não estava querendo ouvir os sermões de papai, eu já os ouvia aqui praticamente todos os dias. Meu relacionamento com todos estava bem distante, inclusive com Deus. A única coisa que eu sabia pedir a Ele era que fizesse com que Kurt voltasse pra mim.

-Uma pena. -ele se levantou e olhou para a janela. -Fui outro dia na fazenda com seu pai. Vi a moto dele lá. -por que ele estava falando de Kurt? -Você sabe pilotá-la?

Fiquei alguns segundos pensando o que ia falar e se iria falar algo.

-Não. Ele não deixava ninguém pilotar. -respondi seca.

-Humm. Por que você não aprende? Assim vai poder levar de volta pra ele.

Em um pulo me levantei da cama e fiquei bem na frente de Lion.

-Você não acha que se ele quisesse me ver já teria buscado sua moto preferida? Alguma coisa aconteceu, ele nunca a deixaria.

-A moto eu entendo, mas você? Quem te deixaria? -Lion encostou a palma de sua mão direita em meu rosto e eu me esquivei. Qual era a dele?

-O que está fazendo? Eu já te disse que não vai acontecer nada entre a gente.

-Calma, eu não fiz nada. Só quis dizer o quanto esse cara é idiota por ter te deixado. 

-Não fale mais de Kurt! É melhor ir embora. Quero ficar sozinha.

Lion sem dizer nada, caminhou até a porta e depois parou ainda de costas pra mim.

-Me desculpe, eu não quis te deixar triste.

Eu já não o via mais no meu quarto depois de suas palavras. O que ele tinha na cabeça ao falar aquelas coisas? A maior loucura foi ter falado pra aprender a pilotar a moto de Kurt. Se fosse pra aprender, teria que ser com o dono dela, mas Kurt não existe mais na minha vida. Ele me deixou. Por mais que eu queira acreditar que algo aconteceu e ele ainda me ama de verdade, minha cabeça estava me enchendo com pensamentos negativos sobre ele. Mas algo ainda me dizia que Kurt nunca me deixaria, não depois da noite que tivemos. O resto do dia foi igual a todos os outros. Eu deitada na cama, papai me levando comida, quase não tocava nela e depois voltava a dormir. Eu sabia que meu velho estava preocupado, mas também sabia que tudo que ele queria aconteceu: Kurt foi embora, pra bem longe de mim. Então ele estava feliz.

No outro dia, Lion apareceu abrindo as cortinas e deixando o sol me acordar. Eu não sei quando dei essa intimidade pra ele, mas comecei a perceber que estávamos bem próximos ultimamente e eu estava gostando de tê-lo como amigo.

-O que você está fazendo? -eu disse, tentando ajustar meus olhos a claridade.

-Hoje é nosso último dia de férias! Vamos nadar no lago. Estou com o carro do meu pai, trouxe comida pra gente fazer piqueninque lá. Anda, Lucy! O dia está lindo.

Não sei como ele estava tão animado assim logo cedo, mas por algum motivo eu estava um pouco empolgada em sair de casa. Ele me esperou lá embaixo e eu me arrumei depressa. O caminho até chegarmos a fazenda não foi nem um pouco falante. Não falamos nada. Era apenas nossas respirações e a música chata que tocava no carro. O dia estava realmente lindo e muito quente. Lembrei da última vez que nadei no lago com Kurt. Nos divertimos tanto. Segurei a vontade de chorar o máximo que consegui. Quando vi Judi ela correu para me abraçar e me encheu de perguntas. Disse que eu estava magra demais desde a última vez que me viu, também me achou abatida. Ela logo nos deixou sozinhos e voltou para a casa onde estava fazendo seu trabalho. 

-Vou pegar as coisas no carro e colocá-las na grama. -Lion gritou, enquanto eu caminhava rumo ao celeiro.

A figura baixinha do homem que eu conhecia desde quando tinha dois anos apareceu na porta.

-Jose! 

Corri para abraçá-lo e ele me retribuiu o abraço quente.

-Como você está magra, menina!

-É o que todos estão dizendo.

Antes que ele falasse qualquer coisa, já abri minha boca e o enchi de perguntas.

-Kurt voltou aqui? Teve alguma notícia dele? Tem certeza que ele não disse nada antes de ir embora?

Jose ficou calado por um tempo e me deu outro abraço. Eu não queria chorar, mas senti algumas lágrimas escorrendo nas minhas bochechas.

-Ah, menina. Isso acontece na vida da gente, as vezes é melhor deixar pra lá.

Eu estava com raiva de todos. Estavam me escondendo alguma coisa, eu sentia. Antes de me soltar do abraço de Jose, vi um pano que cobria algo alto atrás do celeiro. Era a moto. Me afastei dele e tirei o pano que a cobria. Ela estava lá, do mesmo jeito que a vi, limpa e com a chave. Ele tinha lavado a moto, não fazia sentido. No mesmo instante, joguei o pano branco longe e gritei Lion. Jose ficou me observando de longe e Lion veio correndo, preocupado.

-Aconteceu alguma coisa? -ele perguntou assustado.

-Você sabe pilotar? -perguntei.

-Sim. Meu pai tem uma e me ensinou, mas nunca nem subi em uma dessas.

-Você não vai subir, quem vai subir nela sou eu! Quero que me ensine. Podemos vir todos os dias antes das aulas e eu te dou carona pra universidade. 

Jose não estava mais lá, era só eu, Lion e a moto de Kurt. 

Lion aceitou me ensinar a pilotá-la. Eu tinha planos pra isso, iria devolver sua moto o mais rápido possível. Eu iria ver Kurt!







(COMPLETO) LAKEWOOD - Entre o céu e o inferno Onde histórias criam vida. Descubra agora