Marcaram de se encontrar num bar antes, afinal não eram animais selvagens e precisavam ter um mínimo de interação social antes de engalfinharem-se nus num motel qualquer. Guido vestiu o mesmo terno de antes, quando tirou a foto, passou ainda mais perfume, mas não tomou outro banho, isso já seria demais.
- Te encontro depois do trabalho. Tenho uma reunião que acaba às 19h, até 19h30 eu já posso te buscar. - escreveu pra ela.
Saiu de casa quinze minutos antes do horário combinado, se atrasou um pouco pois um número insistente não deixava seu celular em paz e ele precisava do aparelho para se comunicar com a sua improvável acompanhante.
- Vou transar agora, liguem amanhã!
Ele não deu tempo para quem quer que estivesse ligando falar nada. Mal sabia ele que o Paulo – no caso o próprio Guido – só precisava falar "Alô" para ganhar a promoção da rádio, que enviaria para o endereço que ele quisesse dois ingressos para o show da sua banda preferida, os quais – além de esgotados – custavam mais ou menos dois meses de salário do trabalhador médio brasileiro. Guido nunca veio a ficar sabendo disso, o que não deixa de ser uma benção.
O endereço não era muito longe da sua casa e logo ele estava dentro do carro parado, debaixo do prédio, esperando ansiosamente por aqueles peitos. Quer dizer, pela moça simpática. Tinha os dedos cruzados e murmurava para si mesmo, como um mantra: "Não seja feia, não seja feia.".
E ela não era. Na verdade, ela estava bem além de qualquer expectativa maluca que Guido pudesse ter cultivado. Se ele estivesse esperando a Scarlett Johansson ele não teria se decepcionado. Como ele esperava qualquer pessoa com um rosto minimamente simétrico e todos os dentes na boca (não se importava nem um pouco se ela fosse vesga), o efeito nele foi completamente embasbacante.
Ela não era alta, mas não se podia chamá-la de baixa. Um pouco aquém do 1,70m, aumentados por um salto baixo e sóbrio, preto como o vestido tomara-que-caia (e como ele torceu para cair). A altura era ideal para os quase 1,85m de Guido e o corpo parecia ter saído diretamente de seus sonhos adolescentes. Magra, mas com curvas, estilo mignon, devia passar três horas por dia na academia, tinha a pele bronzeada e lisa de quem frequenta "clínicas estéticas", seja lá o que for isso, sem um pelo à vista e só de olhar já dava para imaginar o quanto era macia e sedosa. Tinha os cabelos pretos e longos caindo pelas costas nuas, um nariz arrebitado e pequeno e uma boca carnuda e lasciva com um batom vermelho berrante que devia brilhar no escuro. Quando ela entrou no carro, Guido pode ver seus olhos verde-esmeralda, o que lhe causou um derrame momentâneo, quando perdeu brevemente a sensibilidade no lado esquerdo do rosto.
- Oi – ela falou com um sorriso de propaganda de pasta de dente.
Devem ter se passado bem uns dez segundos até Paulo, quer dizer, Guido responder com um "Oi" acanhado e uma risadinha de adolescente tímido falando com a filha da vizinha.
- Você é mais bonito ainda pessoalmente.
Ele ficou vermelho como uma bolinha de árvore de natal.
- Oooh, e ainda é tímido – continuou, apertando uma das bochechas carnudas do motorista – Espero que perca essa timidez até o final da noite.
O sorriso oblíquo que ela deu fez Guido sentir uma coceirinha quente no seu baixo ventre. Tudo estava correndo tão bem que ele estava morrendo de medo desse castelo de cartas ruir de repente com uma carta colocada errado.
- Vamos, Paulo?
Ele já havia se esquecido de que era o Paulo. Eis uma das cartas que poderia desmoronar o castelo. Ainda bem que a ... a ... "Ai Meu Deus! Qual o nome dela?". Foi como se fechassem as cortinas e tudo ficasse escuro. Ele já não enxergava mais nada à sua frente e o desespero o sufocava, o que era especialmente perigoso, pois ele já estava dirigindo e espera-se de um motorista no mínimo que ele enxergue e respire, apesar de diversos que se vêem por aí não conseguirem preencher os dois pré-requisitos ao mesmo tempo.
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Maldito Telemarketing!
Bí ẩn / Giật gânGuido levava uma vida normal até ser confundido por um tal de Paulo. Desde então, milhares de ligações diárias transformaram sua rotina num inferno. Por mais que Guido chore, implore e ameace, as diversas ligações não param e sua vida começa a tomar...