Capítulo 6

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A casa estava escura e silenciosa. Um silêncio muito improvável para uma casa ocupada. Durex ainda ia na frente, agachado e agora andando rapidamente até a parede frontal da residência, à direita da porta e logo abaixo de uma janela. Botou um dedo na frente da boca, sinalizando para Guido fazer silêncio e Guido por sua vez o olhou com uma cara irônica, sinalizando que não era burro.

O policial levantou-se ligeiro para olhar pela janela e logo voltou a se abaixar, como um daqueles palhaços saindo da caixa. Não foi possível ver nada através do breu interno.

- Vamos dar a volta na casa. - sussurrou para seu parceiro civil.

Foram por um corredor ao lado da casa, seguindo a parede externa, paralelo ao muro que separava o vizinho. Pararam de novo ao alcançar outra janela, já quase no final da construção. Estava fechada, as duas folhas de metal impedindo a visão do lado de dentro, mas mesmo assim Guido sentiu o coração saltar ao ver uma luz amarelada escorrendo pelas frestas das esquadrias. Cutucou Durex para chamar sua atenção, mas ele já havia visto também.

- Não dá pra ver nada lá dentro. - cochichou o sargento.

- E agora?

Para a sorte deles – ou não – não precisaram gastar muito seus neurônios pensando em como olhar o interior do aposento. Pois através de outro sentido eles puderam confirmar suas suspeitas.

- Vocês nunca vão conseguir. Ele não vai vir até aqui, vocês não têm o perfil correto. - era a voz melíflua de Margarida, como Guido percebeu instantaneamente.

Puxou a manga da camisa de Durex, como uma criança chamando a atenção do pai.

- Eu ouvi, porra.

- E agora?

- Vamos sair e ligar para a polícia. Esse era o plano.

- Nós sabemos que ele virá – falou a voz masculina lá dentro, interrompendo o grupo de resgate – O boss falou que tinha certeza disso.

A voz do homem era rascante, fria e calma, mas com uma raiva escondida sob tudo isso. Uma voz perigosa.

- Vamos, rápido. - Durex puxou-o.

Guido não pode deixar de se sentir frustrado. Já estava se imaginando metendo o pé na porta, distribuindo alguns socos e pontapés e depois saindo com Margarida no colo, seus cabelos ao vento - "Sou sua, Guido!" - e eles cavalgavam em direção ao pôr do sol. Mas o medo formigando no seu estômago o trouxe de volta à razão.

Os dois voltaram cuidadosamente, como vieram, só um pouco mais rápido. Durex estava louco para se livrar do problema. Guido também, mas a adrenalina e a mulher o deixavam num estado primitivo e ilusório de heroísmo, difícil de se controlar. Tinha tendência a devanear demais e uma situação dessas era perfeita para seus cenários imaginativos. Encostou o pulso na parede sem querer e sentiu uma pontada aguda que subiu e desceu o corpo inteiro. Já tinha se esquecido que fora atropelado naquela noite. Isso o fixou um pouco mais na realidade e o fez descartar de vez seu intento de salvar sozinho a donzela (modo de dizer).

Estavam virando a quina da parede quando Durex estacou abruptamente e Guido, distraído com o pulso, trombou com ele.

- Puta que pariu – falou o policial.

- O quê?

Percebeu que foi uma pergunta burra quando levantou a cabeça e viu seis homens entre eles e o portão, barrando-lhes o caminho.

- Puta que pariu.

Durex levantou a arma para os seis homens. Pelo menos cinco deles levantaram armas maiores na direção do sargento. Ele logo largou a sua, quase pedindo desculpa.

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