Capítulo 5

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O silêncio grosso e pesado pareceu pairar por longos minutos no carro estacionado, imóvel, naquela rua sombria, calma e quase deserta. O som do motor ecoava no silêncio noturno, competindo com um coruja solitária e pingos ritmados batendo no chão em algum lugar indefinido.

- Vocês ainda estão aí? Ouviram o que eu disse? - a voz misteriosa soava confusa com o repentino silêncio.

- Sim. - conseguiu falar Guido, como que emergindo de águas profundas – Estamos ouvindo.

- E entenderam?

- Mais ou menos. Primeiramente, quem é você?

- Essa pergunta é irrelevante.

- E o que você quer?

- Não interessa a vocês.

- Peraí, companheiro, e o que você espera que nós façamos?

- Sinceramente? Nada. Sigam com suas vidas, esse assunto não os concerne.

- Mas como não? Vocês levaram o meu carro! - parou um pouco – E minha amiga!

- Sentimos terrivelmente pelo carro, veremos o que pode ser feito quanto a isso. A amiga, porém, sugiro que a esqueça. Os senhores tenham uma boa noite.

E desligou. Simples assim.

Os dois amigos demoraram para sair do estado de frustração inesperada em que mergulharam. Foi tão simples e completamente o contrário do que eles queriam e/ou esperavam. Um olhava para o outro com um olhar eu-não-tenho-ideia-porra. Durex percebeu que ainda estava com o carro ligado no meio da rua, o motor girando, os faróis iluminando uma faixa à frente do carro e uma escuridão, não completa, mas nebulosa, cobrindo todo o resto ao redor. Encostou na calçada e desligou o carro. Simplesmente não sabia aonde ir, então resolveu ficar parado.

- A gente devia falar com o delegado de qualquer jeito. Esse cara só está tentando nos assustar. - falou Guido – Todo sequestrador fala isso, você nunca viu um filme? E o que a polícia diz? "Entre em contato de qualquer maneira, não faça nada por si mesmo". Então vamos falar com eles.

- Guido, você não entendeu. O cara grampeou o telefone do delegado. Ou o meu, não sei qual é pior. Como ele sabia que eu estava com você? Como ele sabia que nós estaríamos juntos? Como ele sabe nossos nomes? Ou pelo menos o meu, ele te chamou de Paulo, que nem a sua amiga!

- Calma, Durex.

- Calma? Esse cara não é um criminoso comum, ele tem recursos, cara. Como alguém invade um telefone da delegacia assim? Puta que pariu, Guido, você tem seguro no carro e mal conhecia a garota, vamos só fazer o que ele falou e pronto.

Guido deu um tapa em Durex. Um tapa rápido, leve e humilhante. O tipo de tapa que faz a pessoa parar de falar imediatamente. E funcionou.

- Você é um policial, seu bundão. É seu trabalho resolver esse tipo de coisa. Agora vamos pensar como homens, não como ratos.

O discurso foi bonito, mas a ação não foi fácil. Pensaram, pensaram, mas continuaram perseguindo a própria cauda.

- Se não podemos ligar pra polícia, o que faremos?

- Eu. Não. Sei!

- A gente podia tentar achar o cativeiro.

- Eu sou um sargento, não o Sherlock Holmes.

- Sim, mas e se a gente desse um jeito de achar? A gente poderia libertá-la.

- Como? Eu sou um sargento não o John McClane.

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