O silêncio grosso e pesado pareceu pairar por longos minutos no carro estacionado, imóvel, naquela rua sombria, calma e quase deserta. O som do motor ecoava no silêncio noturno, competindo com um coruja solitária e pingos ritmados batendo no chão em algum lugar indefinido.
- Vocês ainda estão aí? Ouviram o que eu disse? - a voz misteriosa soava confusa com o repentino silêncio.
- Sim. - conseguiu falar Guido, como que emergindo de águas profundas – Estamos ouvindo.
- E entenderam?
- Mais ou menos. Primeiramente, quem é você?
- Essa pergunta é irrelevante.
- E o que você quer?
- Não interessa a vocês.
- Peraí, companheiro, e o que você espera que nós façamos?
- Sinceramente? Nada. Sigam com suas vidas, esse assunto não os concerne.
- Mas como não? Vocês levaram o meu carro! - parou um pouco – E minha amiga!
- Sentimos terrivelmente pelo carro, veremos o que pode ser feito quanto a isso. A amiga, porém, sugiro que a esqueça. Os senhores tenham uma boa noite.
E desligou. Simples assim.
Os dois amigos demoraram para sair do estado de frustração inesperada em que mergulharam. Foi tão simples e completamente o contrário do que eles queriam e/ou esperavam. Um olhava para o outro com um olhar eu-não-tenho-ideia-porra. Durex percebeu que ainda estava com o carro ligado no meio da rua, o motor girando, os faróis iluminando uma faixa à frente do carro e uma escuridão, não completa, mas nebulosa, cobrindo todo o resto ao redor. Encostou na calçada e desligou o carro. Simplesmente não sabia aonde ir, então resolveu ficar parado.
- A gente devia falar com o delegado de qualquer jeito. Esse cara só está tentando nos assustar. - falou Guido – Todo sequestrador fala isso, você nunca viu um filme? E o que a polícia diz? "Entre em contato de qualquer maneira, não faça nada por si mesmo". Então vamos falar com eles.
- Guido, você não entendeu. O cara grampeou o telefone do delegado. Ou o meu, não sei qual é pior. Como ele sabia que eu estava com você? Como ele sabia que nós estaríamos juntos? Como ele sabe nossos nomes? Ou pelo menos o meu, ele te chamou de Paulo, que nem a sua amiga!
- Calma, Durex.
- Calma? Esse cara não é um criminoso comum, ele tem recursos, cara. Como alguém invade um telefone da delegacia assim? Puta que pariu, Guido, você tem seguro no carro e mal conhecia a garota, vamos só fazer o que ele falou e pronto.
Guido deu um tapa em Durex. Um tapa rápido, leve e humilhante. O tipo de tapa que faz a pessoa parar de falar imediatamente. E funcionou.
- Você é um policial, seu bundão. É seu trabalho resolver esse tipo de coisa. Agora vamos pensar como homens, não como ratos.
O discurso foi bonito, mas a ação não foi fácil. Pensaram, pensaram, mas continuaram perseguindo a própria cauda.
- Se não podemos ligar pra polícia, o que faremos?
- Eu. Não. Sei!
- A gente podia tentar achar o cativeiro.
- Eu sou um sargento, não o Sherlock Holmes.
- Sim, mas e se a gente desse um jeito de achar? A gente poderia libertá-la.
- Como? Eu sou um sargento não o John McClane.
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Maldito Telemarketing!
Mystery / ThrillerGuido levava uma vida normal até ser confundido por um tal de Paulo. Desde então, milhares de ligações diárias transformaram sua rotina num inferno. Por mais que Guido chore, implore e ameace, as diversas ligações não param e sua vida começa a tomar...