Altmann abriu novamente as portas de sua prisão voluntária e os dois homens foram em busca do seu destino. Passaram pelos servidores com sua luz azulada e seu chiado eterno, saíram pelo hall com o grande elevador, daí pela porta dupla – que se abriu a um toque de Altmann no celular de Guido, que ele carregava em sua mão – e deram no longo corredor curvo, onde encontrariam o final daquela história do outro lado.
- Eles ainda podem estar por aqui. - falou Guido, se referindo ao boss e seus companheiros.
- Sim, eles estão. Não precisamos mais escapar deles.
O velho cientista andava com uma confiança que era inexplicável para Guido. "A confiança de um homem que sabe o futuro" pensou com um arrepio. Será que Altmann havia usado seu próprio algoritmo para prever aquilo tudo? "Desculpe pelo que você irá fazer" havia dito a Guido. Talvez ele realmente soubesse tudo o que iria acontecer. Guido não sabia o que sentir quanto a isso. Ficava feliz? Pelo jeito ele sabia que tudo ia acabar bem. Mas o que ele teria de fazer para isso? Resolveu só continuar seguindo em frente, uma preocupação de cada vez. Altmann guardou o celular no bolso.
- Segure meu jaleco pela gola, Guido. E finja que eu sou um prisioneiro seu. Um pouco de raiva fingida também seria bom. E lembre-se, você é o Paulo.
Guido obedeceu. Mais à frente, algumas sombras alongadas foram surgindo pela curvatura do corredor. Logo as sombras revelaram seus donos, cinco figuras sombrias na penumbra, quatro de pé e uma sentada no canto, encostada à parede. Distinguiu logo a figura gigante de Vladimir, a menor mas não menos impressionante do boss, com um ponto vermelho luminoso em frente à cara, aonde o charuto queimava, uma outra mais rechonchuda, que Guido viu ser Zé, parecia estar cabisbaixo. Quem estava sentado no chão, com a cabeça baixa e as pernas esticadas era Adônis. Ao seu lado Beto segurava uma arma, apontada para baixo, mas com certeza pronta para atirar no homem se ele tentasse fugir.
- Ah, o filho pródigo à casa torna. - falou a voz poderosa do boss, enquanto Guido se aproximava, empurrando Altmann à sua frente.
Ele não parecia preocupado, nem parecia estar procurando Guido mais. Somente esperava por ele.
- Eu duvidava, mas parece que Mr. Smith não comete erros. Ele falou que você iria voltar. E com um outro convidado.
Guido sentiu um frio na barriga. Mr. Smith também tinha um algoritmo poderoso.
- Quem disse que eu fugi? - falou – Eu só queria garantir que esse rato aqui não fugiria.
Nunca fora um bom ator, mas a plateia parecia convencida, ou simplesmente não ligava. Mr. Altmann ainda não havia dito uma palavra sequer.
- Ha! Está bem, se você diz. Agora vamos. Mr Smith está nos esperando. - e virou-se em direção ao salão cheio de bonecos.
- Aonde ele está? - perguntou Guido, com medo da resposta.
- Naquele mesmo lugar aonde descemos.
Margarida. Ele já a achou. Olhou para Adônis. O homem parecia quebrado, tinha um olho roxo, quase fechado e sangue escorria pela sua perna, mas, mais do que isso, seu rosto demonstrava uma alma quebrada. O antes super-confiante espião agora parecia... assustado. "Será que ele está preocupado com Margarida?".
Seguiram os sete pelo corredor mal-iluminado, em direção a um final conclusivo para aquela noite. Já não era sem tempo.
Adônis, por causa da perna, ficou mais para trás, andando – ou melhor, se arrastando – lentamente, deixando um rastro de pequenas gotas escuras de sangue pelo chão. Beto ia atrás dele, com a arma sempre pronta e uma cara de ódio indelével em seu rosto, como uma máscara macabra. Guido não ia muito distante deles, ao lado de Mr. Altmann, a encenação de segurá-lo pelo cangote não era mais necessária, ninguém ligava mais, todos só queriam terminar aquilo.
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Maldito Telemarketing!
غموض / إثارةGuido levava uma vida normal até ser confundido por um tal de Paulo. Desde então, milhares de ligações diárias transformaram sua rotina num inferno. Por mais que Guido chore, implore e ameace, as diversas ligações não param e sua vida começa a tomar...