Capítulo 15

4 1 0
                                    

Guido não ficou para ver o embate entre os dois titãs, mas não podia deixar de torcer por Vladimir. O gigante era mais carismático do que o arrogante ninja nórdico, além de não lhe oferecer perigo na esfera amorosa. Não, ele só queria estar longe dali, em algum lugar um pouco mais escondido e seguro, aonde ele pudesse pensar com calma sobre o que fazer para sair dessa situação inusitada.

A porta salvadora abria-se para um corredor longo, bem iluminado, com algumas portas eventuais ao longo das paredes de aço inoxidável, todas fechadas.Ela se abriu antes mesmo de Guido chegar a ela, o que foi estranho, mas conveniente. Essas outras portas eram normais, com maçanetas, apesar de serem feitas do mesmo material das paredes. Pareciam as portas dos laboratórios da sua antiga escola, com janelinhas de vidro no topo, que permitiam ver as bancadas,os béqueres e as máquinas lá dentro. Mas estas salas estavam escuras e ele não conseguia divisar mais do que algumas mesas, cadeiras, alguns computadores, basicamente um escritório normal. Continuou seguindo o longo corredor, que parecia fazer uma curva leve sempre à direita, dando a impressão de tudo ali ser circular, como uma nave espacial enterrada. Não tinha ideia de onde aquele caminho iria dar, mas quanto mais longe fosse de seus perseguidores, melhor.

Mesmo assim, eles precisavam segui-lo. Margarida e Durex estavam lá, apagados, na mesma sala de seus sequestradores, correndo o risco de serem vistos a qualquer instante. Adônis era o único que sabia disso e ele não iria querer que os outros também soubessem. O boss não saber aonde estavam suas presas era a única coisa mantendo o outro sequestrador vivo.

Esses pensamentos cruzavam a mente de Guido como estrelas cadentes, rápidos e fugazes, mas sem deixar muito rastro. Sentiu o celular vibrando no bolso da sua calça. Era incrível ele ter sinal de telefone ali embaixo, sabe-se lá quantos metros sob a superfície, e dentro de uma caixa de aço. Não precisava olhar para saber quem era, mas olhou mesmo assim. "Atenda", estava escrito na tela. Reparou também na força do sinal, no caso zero. E como aquele sujeito estava ligando para ele? Decidiu seguir sua decisão de não pensar demais nas coisas e somente atendeu.

- Alô.

- Continue seguindo reto. No final do corredor haverá outra porta grande como aquela do salão. Vai estar destrancada, é só aproximar sua mão do sensor ao lado. E lembre-se: você é o Paulo. Sua vida depende disso.

Desligou. O sotaque americano ainda ribombava no seu ouvido. "Sua vida depende disso". Quando sua vida havia virado um filme ruim de espiões? Provavelmente ao redor das 22h. Estava quase se sentindo como um robô, as ordens do americano entraram na sua cabeça e ele somente continuou fazendo aquilo que já fazia: andando. Não tinha mais medo, nem dor (mentira, seu pulso ainda latejava), só cansaço. Um cansaço opressivo e pesado sobre seus ombros. Além de um tédio tremendo. Só queria que tudo aquilo acabasse. Queria acordar na sua cama e descobrir que tudo fora apenas um sonho muito, muito, estranho. Mas aí ele não teria Margarida.

O lugar era enorme, ele já estava andando havia bem umas quatro horas, ou assim pareceu. Não via nem sinal ainda das grandes portas ao final do corredor, não podia ver o final dele, talvez por causa de sua curvatura. Parou em dúvida. Bem ao seu lado havia um par de portas prateadas de correr, com um sensor ao lado e tudo. Seria ali? Mas o corredor ainda continuava sua infinita jornada e o americano foi claro quando falou para ir até o final. Coçou a cabeça. Ah, foda-se. Aproximou a mão do sensor e as portas escorregaram para o lado, revelando um amplo espaço.

Guido sentiu o ar escapando de uma vez dos seus pulmões quando viu o que havia lá dentro. Corpos, corpos e mais corpos. Pendurados um em cima do outro, do lado do outro, embaixo do outro, de frente pro outro. Três andares de cabideiros lotados de corpos. De frente para a entrada, uma bancada de madeira, parecida com as de bibliotecas, aonde a bibliotecária fica julgando todo mundo por cima de seus óculos quadrados. Pensando bem, aquilo ali até parecia uma biblioteca mesmo. A biblioteca do capeta.

Maldito Telemarketing!Onde histórias criam vida. Descubra agora